Sabiam que a cozinha é um dos locais da casa onde a nossa pegada ecológica é maior? Temos 10 dicas para ajudar a reduzi-la.
O nosso planeta é a maior herança que deixamos aos nossos filhos. Nestes artigo, reunimos algumas alterações de hábitos na cozinha e na alimentação que estão ao alcance de todos e que fazem toda a diferença na pegada ecológica que produzimos diariamente.
Das compras ao tipo de alimentação e da confeção ao tratamento do lixo que produzimos, há muito que podemos fazer na melhor na cozinha. Reunimos alguns dos principais hábitos que podem (e devem) ser mudados e transmitidos às abobrinhas, para que juntos construamos um mundo melhor. Vejam abaixo 10 dicas para uma cozinha mais sustentável
Impacto da nossa alimentação no futuro do Planeta
A Associação Natureza Portugal – WWF partilha; “O impacto da alimentação na nossa saúde é conhecido e deve ser uma das nossas preocupações, mas não deve ser a única: a forma como produzimos e consumimos alimentos está a colocar em risco não apenas a nossa saúde, mas também a saúde do planeta.”
Se mantivermos as nossas atuais dietas, continuaremos a causar elevados impactos no planeta, muitos dos quais potencialmente irreversíveis, tornando-o num local cada vez mais inóspito. Por outro lado, o aumento previsto da população global em mais de 2 mil milhões até 2050 vai acarretar a escalada da procura de alimentos e dos impactos ambientais que o planeta não está preparado para assimilar. Perante este cenário, o grande desafio é, por um lado, reduzir drasticamente a pegada ambiental da nossa alimentação, que está a provocar a destruição de ecossistemas em todo o mundo e, por outro, alimentar a população mundial.
Vamos a factos?
- Atualmente a produção de alimentos ocupa cerca de 40% da superfície terrestre habitável e é o principal motor da perda de biodiversidade.
- A produção alimentar contribui para cerca de 26% das emissões globais de gases com efeito de estufa, prevendo-se que esta quota duplique nos próximos anos.
- Carne, aquicultura, ovos e laticínios utilizam mais de 80% das terras agrícolas mundiais e contribuem para quase 60% das emissões dos alimentos.
- Só o consumo europeu foi responsável por 16% da desflorestação associada ao comércio internacional.
Perante este cenário, o que podemos fazer? Uma das soluções-chave é procurarmos formas mais sustentáveis de consumir: comer de forma mais variada e reduzir o consumo excessivo (principalmente de carne e laticínios), evitar alimentos processados e privilegiar produtos frescos, sobretudo frutas e vegetais, respeitando a sazonalidade e, se possível, de agricultura sustentável, local e com origem em comércio justo.
A transição agroecológica é imperativa e, como tal, exigem-se ações concretas não só ao nível da redução dos impactos da produção agropecuária e diminuição do desperdício alimentar, mas também da adoção de hábitos de consumo com menores impactos ambientais.
Para ajudar os consumidores a compreenderem o impacto das suas escolhas, a ANPlWWF lançou o Guia de Consumo de Proteína em Portugal, que apresenta a avaliação ambiental da produção agro-pecuária em Portugal, focando-se nos impactos sobre a biodiversidade, na pegada climática e no uso de pesticidas de diferentes fontes de proteína animal e vegetal, provenientes de diferentes modos de produção e países de origem.
São várias as conclusões que podemos tirar deste estudo, mas a principal é que é fundamental considerar não só aquilo que comemos, mas a forma como estes alimentos são produzidos e qual a sua proveniência. Algumas recomendações do estudo são, por exemplo:
- Privilegiar as proteínas de origem não-animal, tal como os cereais, leguminosas e cogumelos, principalmente de produção nacional biológica.
- Privilegiar a produção pecuária biológica ou extensiva (ao ar livre e com acesso a pastagens), ao invés da produção convencional intensiva.
- Nas carnes, privilegiar as de aves e de suínos provenientes de agricultura biológica e não as carnes de bovinos, ovinos ou caprinos, que têm o pior desempenho ambiental.
- Evitar o consumo de queijo, com a excepção do queijo biológico de vaca, cabra ou mistura
Este Guia de Consumo surge no âmbito do projeto Eat4Change, uma iniciativa internacional que pretende promover a adoção de dietas sustentáveis junto de jovens entre os 15 e os 35 anos.
Tem curiosidade em saber se os seus hábitos alimentares são sustentáveis? Entre no quiz para saber a resposta.
Conhecem o próximo Super Chef de Portugal?
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10 dicas para uma cozinha mais sustentável:
Tudo a postos para revolucionar a cozinha aí de casa? Desafiamo-vos a implementar pelo menos 1 destas dicas já nesta semana.
Digam adeus aos descartáveis
Sacos de plástico, papel de cozinha, guardanapos, talheres e pratos descartáveis, papel de alumínio e celofane, palitos, caixas de plástico palhinhas, fósforos, copos de papel… precisaremos realmente deles, ou são apenas uma opção cómoda com um elevado impacto ambiental?
Todos estes produtos podem ser facilmente substituídos por alternativas reutilizáveis e laváveis, que duram muito mais tempo e custam menos dinheiro a longo prazo. O papel de cozinha pode ser substituído por panos de tecido, tal como os guardanapos, os sacos de plástico por opções mais resistentes que possam andar sempre convosco e a loiça… bem, essa não é preciso explicar. A realidade é que a quantidade de água que gastamos para a lavar é irrisória quando comparada com os recursos necessários para produzir opções descartáveis e lidar com a sua lenta (ou inexistente) decomposição.
Se já têm produtos destes em casa, façam o melhor possível: usem-nos quando necessário e, se possível, várias vezes.
Considerem reduzir o consumo de proteína animal
De todos os alimentos que consumimos, a proteína animal é o que tem uma maior pegada carbónica. Isto acontece devido à conversão ineficiente de energia das plantas para os animais, ao metano emitido pela criação em massa e aos recursos consumidos.
A solução? Procurar comer menos carne (principalmente a de vaca) e laticínios, apostando em alternativas vegetais, que são muitas vezes mais saudáveis. Para vos inspirar, temos uma coleção de receitas vegetarianas para toda a família que até os mais céticos vão aprovar.
Espreitem também os artigos “Onde vamos buscar a proteína” e “Precisamos de beber leite de vaca para obter cálcio?“, onde a Aliança Animal nos ensina muito sobre este tema.
Planeiem, reaproveitem e congelem refeições
O planeamento é um dos maiores aliados contra o desperdício alimentar. Ao pensar antecipadamente nas refeições da semana, podemos geri-las da melhor forma. Por exemplo, se o jantar de quarta for frango assado, quinta será um bom dia para fazer frango à brás com as sobras. Aproveitem sempre os restos para fazer uma massa, uma sopa, uma quiche ou uma omelete, e verão que poupam no tempo, no trabalho e na carteira enquanto combatem o desperdício de comida.
Congelar alimentos é também uma ótima forma de os salvar do desperdício. Seja o pão que endurece facilmente ou as bananas que já estão maduras ou as cebolas que não aguentam mais uma semana, podemos sempre congelar e usar quando necessário. O mesmo se aplica às sobras: se estão fartos de comer sopa esta semana, congelem para a semana seguinte!
Usem a tecnologia para poupar recursos
Numa era em que temos eletrodomésticos e aparelhos para quase tudo, será que os usamos da melhor forma para ser mais eficientes e reduzir a nossa pegada ecológica? Deixamos algumas dicas de como as máquinas podem ajudar neste processo:
- Mantenham o congelador livre de gelo e idealmente a cerca de -18º.
- O frigorífico deve estar livre de alimentos estragados ou que podem ficar na despensa, e o termóstato deve marcar os 5º ou menos.
- Quando usarem o forno, aproveitem também o calor do pré-aquecimento para cozinhar.
- Prefiram a máquina de lavar loiça à lavagem manual, mas façam lavagens apenas quando esta estiver cheia.
- Para aquecer água, a chaleira é uma opção mais eficiente do que o fogão. Aqueçam apenas a quantidade de água de que precisam.
Reaproveitem água, sempre que possível
Uma das mais incríveis características da água é que é um recurso que pode ser reutilizado (em alguns casos, só desde que não haja introdução de produtos químicos, como detergentes).
Para reutilizar e gastar menos água, comecem por arranjar recipientes onde guardar a água que sai da torneira antes de estar quente ou a água com que lavam ou cozem os vegetais, por exemplo. Como é água limpa, pode ser usada para inúmeras coisas: para cozinhar, para lavar roupa à mão, para regar as plantas, para lavar o chão, para pintar com aguarelas… Usem mais imaginação (e menos água)!
A propósito, fiquem a conhecer aqui 5 dicas importantes para gastar menos água. Sabiam que podemos poupar água ao evitar comprar umas calças, ao comer menos enlatados ou ao não usar produtos descartáveis?
Apostem nas compras a granel
Ecológica e económica, a tendência dos produtos a granel tem conquistado cada vez mais famílias. Para além de terem menos embalagens e preços mais baixos, os produtos a granel são muitas vezes biológicos e podem ser comprados na quantidade exata de que necessitamos, evitando o desperdício e poupando o ambiente.
É possível comprar praticamente tudo aquilo de que precisamos a granel: Massas, leguminosas, bebidas vegetais, sumos, chocolates, cremes, detergentes, comida para animais de estimação… Para saberem mais sobre esta tendência e as lojas onde podem comprar produtos a granel por todo o país, espreitem o artigo no link.
Evitem alimentos processados
Quase todos os alimentos são processados, mas alguns são ultraprocessados, tendo uma maior quantidade de sal, açúcar ou gordura adicionados, e muitos são fontes de ácidos gordos trans.
Para além de serem prejudiciais para a saúde, os alimentos processados contêm muitos químicos e consomem muita energia na sua tradução, para não falar das embalagens de plástico que os acompanham.
Por uma melhor saúde familiar e do planeta, procurem evitar alimentos como refrigerantes e bebidas açucaradas, carnes industrialmente processadas, guloseimas, chocolates e bolos de compra, assim como sal e produtos salgados. Em alternativa, pesquisem receitas caseiras parecidas com aquele snack que adoram e divirtam-se a fazê-las em casa!
Experimentem fazer compostagem doméstica
Muito do lixo que produzimos pode ser devolvido à terra para se decompor naturalmente. É o caso de resíduos orgânicos como cascas e caroços de legumes e frutas, restos crus destes alimentos, pedaços de plantas, borras de café, saquetas de chá e até alguns tipos de papel. Mas como é possível devolvê-los à terra quando se vive num apartamento?
Deste lado, o Pai Pumpkin leva os resíduos orgânicos para a nossa Horta Urbana, onde faz a compostagem que lhe permite produzir fertilizante natural para as plantinhas. Isto acontece porque junta todos estes restos num espaço fechado e os microrganismos que surgem naturalmente (bactérias, fungos e actinomicetes) tratam de transformá-los. No entanto, existem outras opções de compostagem doméstica eficazes e confortáveis, quer para espaços exteriores, quer para dentro de casa.
Em 2024 tornou-se obrigatória a recolha de resíduos orgânicos em Portugal, ainda que não esteja disponível para todos os concelhos e freguesias. Por isso podem contactar a vossa Câmara Municipal para saber quando a recolha vai acontecer na vossa zona.
Entretanto podem considerar outras opções:
- Adotar um compostor através da Câmara
São várias as Câmaras Municipais que aderiram ao projeto “Adote um Compostor”, através do qual fornecem gratuitamente aos residentes compostores próprios ou acesso a compostores comunitários. Para participar nesta iniciativa, pesquise “adotar compostor” seguido da sua localidade e saiba como candidatar-se.
- Comprar ou fazer um compostor doméstico
Existem três principais tipos de compostores domésticos: os termofílicos, usados em hortas e jardins; os bokashi, mais adequados a apartamentos, pequenos, rápidos e inodoros; os vermicompostores, também destinados ao interior, que funcionam com minhocas vivas.
Podem encontrar estes e outros tipos de compostores em lojas como a Pegada Verde, a Mudatuga ou a Ecocenter, mas também em locais como o Leroy Merlin ou o El Corte Inglés. Se se sentirem inspirados, podem até fazer o vosso próprio compostor, mas procurem um tutorial fidedigno e tenham atenção às orientações da Associação Portuguesa do Ambiente.
- Doar num centro de recolha de resíduos orgânicos
Algumas instituições aceitam a doação de resíduos orgânicos para compostagem. Para averiguar quais os centros de recolha perto da vossa área de residência, recomendamos que contactem diretamente a Câmara Municipal ou a Junta de Freguesia. Também existem grupos de Facebook em que pessoas com compostores de grandes dimensões aceitam doações de quem vive por perto.
Dêem uma oportunidade aos produtos de limpeza naturais
A grande maioria dos detergentes tem uma fórmula química baseada em substâncias obtidas a partir do petróleo ou do gás natural, apresentando componentes que, para além de serem prejudiciais para o planeta, são tóxicos para a nossa saúde.
Em alternativa, existem hoje em dia marcas que criam produtos com fórmulas mais naturais, como é o caso da EcoX, da Ecover e de várias outras, muitas delas vendidas a granel. O nível de limpeza e desinfeção é o mesmo, assim como o cheiro a lavado. Se possível, dêem uma oportunidade a estes produtos ou experimentem fazer os vossos em casa: o limão, o vinagre e o bicarbonato de sódio fazem milagres (encontram muitas receitas online). Para além disto, procurem limpar com água fria sempre que possível.
Invistam em produtos mais amigos do ambiente
O produto mais sustentável é aquele que já temos em casa, e devemos terminar de usá-lo antes de adquirir outro. No entanto, quando é necessário comprar, a escolha certa pode poupar – e muito – o ambiente.
Antes da compra, façam uma pequena investigação para averiguar se o produto é feito com materiais degradáveis ou reaproveitados, onde é produzido (quando mais longe, mais aumenta a pegada carbónica), se é testado em animais, que ingredientes tem e se são poluentes, se é vegan, etc.
No caso dos eletrodomésticos, caso tenham possibilidade, procurar aqueles que apresentam uma maior eficiência energética, pois compensam a longo prazo, em termos financeiros e de gasto de eletricidade. Melhor ainda é comprar em segunda mão, dando uma segunda (ou terceira) oportunidade a coisas que ainda têm muito para oferecer!
Têm outras dicas para tornar a cozinha um lugar mais sustentável? Alguma dificuldade particular em abandonar um hábito que não é o melhor para o ambiente? Contem-nos tudo nos comentários 🙂
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