Famílias que nos inspiram: Definitivamente São Dois - Pumpkin.pt

Famílias que nos inspiram: Definitivamente São Dois

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A infertilidade inexplicada, a gravidez surpresa, a prematuridade - e uma família, hoje e sempre, tão feliz.

Ao longo dos próximos meses, vamos desvendar histórias de famílias que nos motivam e inspiram no nosso dia-a-dia. São famílias que ousam fazer diferente, que têm a coragem de desafiar os padrões e que vão sempre à procura daquilo que as faz feliz.

As famílias que nos inspiram tiram o melhor partido da vida, gozam cada momento e divertem-se juntas.

São histórias diferentes, bonitas e originais, que esperamos que vos inspirem também!

O diagnóstico de infertilidade inexplicada de Sara foi contrariado, de forma inesperada e feliz, com uma notícia esperada através dos anos: eram, definitivamente, dois – e gerados em dias diferentes. Às trinta e três semanas de gravidez, depois da tranquilidade de quem está a viver um sonho, Sara e David viram-se com a prematuridade dupla nos braços. Daniel quis nascer mais cedo e Carolina teve que vir atrás.

O susto foi imenso, as marcas da Neonatologia perduram nas memórias dos pais, mas, hoje, é na simplicidade com que continuam a encarar os dias que encontramos material para nos inspirar. A semana ia a meio, a lareira e o chá estavam-nos prometidos, mas frio não se entranhava nos sorrisos de quem estava prestes a fechar mais um dia.

A sul do caos lisboeta, com os gatos Sushi e Yoga a mimarem-nos também, fomos conhecer o espaço sagrado de uma família em tanto igual às nossas, mas cuja história sublinha uma lembrança importante: primeiro, não devemos nunca deixar de tentar e de acreditar. Depois, a união e a preserverança são, mesmo, sinónimo de milagres.

O inexplicável guarda uma dupla surpresa

definitivamente são dois daniel carolina

Sara e David conheceram-se no ginásio, ela com uma bagagem que trazia um casamento findado, e ele com uma tristeza ainda a remoer pelo fim recente de uma relação.

Sara: Um dia, antes de uma aula de cycling, ele estava com um ar muito infeliz e eu perguntei-lhe o que se passava [David era instrutor, nesta altura]. Ele disse que estava chateado pela situação com a ex-namorada, e eu respondi-lhe: “Oh, homem, a vida continua, tudo se resolve menos a morte”. Era uma frase que a minha mãe me dizia quando eu tinha as minhas crises de adolescente e vivia muito aqueles dramas…

[Daniel está a desenhar, deitado no chão da sala, mas interrompe a mãe para dizer: “Mamã, tens isso escrito no braço!”]

Sara: É uma frase que tenho tatuada porque me diz muito. Eu disse-lhe isso e ele pensou, foi como se fizesse um clique: “Realmente tens razão…”.

O consolo simples mas cheio de força transformou-se em conversas mais regulares, convites para fazer aulas e, depois, um jantar improvisado na casa de Sara:

Sara: Ele veio trazer-me a casa depois de uma aula e eu, bem-educada, perguntei-lhe se ele queria subir para jantar. E ele respondeu: “Quero!” (risos). Jantámos massa com atum porque eu não tinha nada preparado, foi inesperado. Ficámos a noite toda a conversar, até ser de manhã. [Vira-se para o marido e acrescenta entre risos: “E depois nunca mais de cá saíste”].

A relação construiu-se rapidamente, mas de forma cimentada. “Aos 30 anos as pessoas já não estão para brincar”, diz Sara. David sublinha que dois anos de relação depois casaram e, outros dois anos volvidos, tiveram filhos. Esta era uma realidade, ainda assim, impossível de prever ou de controlar.

Sara já tinha sido diagnosticada, no casamento anterior, com uma infertilidade inexplicada, que, como o nome sublinha, não tem origem válida ou motivação lógica. Os exames médicos não acusam qualquer problema, a toma de anticontraceptivos não é uma realidade, mas, ainda assim, a gravidez não ocorre – não, pelo menos, como e quando seria expectável acontecer. Com David, a situação foi semelhante, embora como casal fossem um caso novo: o diagnóstico foi reforçado e a fertilização in vitro a sugestão médica.

A nossa decisão foi fácil, porque já tínhamos discutido bastante o assunto e decidido que não queríamos enlouquecer na tentativa de ter filhos. Queríamos tentar, mas não queríamos gastar rios de dinheiro em procedimentos médicos complicados com taxas de sucesso baixas, vezes sem conta. Esperaríamos pacientemente na lista de espera do hospital, faríamos as três tentativas possíveis pelo Serviço Nacional de Saúde e acabava. Se mesmo assim não conseguíssemos, inscrevíamo-nos para adopção e esquecíamos a gravidez. Afinal, eu até tinha acabado de ganhar mais um irmão, o 4.º de nós, que tinha na altura 1 ano e meio, porque os meus pais com quase 60 anos e 3 filhos adultos decidiram adoptar. Para nós a adopção fazia sentido, conhecíamos o sistema e estávamos dispostos a seguir esse caminho.

Quando foram chamados para as consultas de infertilidade em Santa Maria, levantou-se a opção de tentar um procedimento muito menos invasivo: a inseminação artificial.

A Inseminação Artificial consiste na colocação de uma amostra de sémen previamente preparada em laboratório no interior do útero para, aumentando o potencial dos espermatozoides, aumentar também as possibilidades de fertilização do ovócito. Não é entendido como um tratamento mas como um facilitador da fertilização. Concordámos que seria uma boa opção, e embora sem grandes expectativas, avançámos.

No dia, em inícios de setembro, bastante nervosa, mais por não saber bem como me ia sentir do que pela esperança de ter sucesso logo à primeira, submeti-me ao procedimento. Nunca me vou esquecer de como estava gelada, com formigueiro no corpo, deitada numa marquesa, com o meu marido a dar-me a mão e a equipa médica à minha volta. Trouxeram o sémen e ainda fizeram uma piada sobre se teriam trazido a amostra certa ou se não tinham trocado. Ri-me, mas não achei graça nenhuma. Só me queira ver dali para fora! Depois de ter ficado uns minutos deitada após o procedimento, disseram-me que podia ir, e que dentro de duas a três semanas podia fazer o Beta HCG e se desse negativo e menstruasse marcava nova consulta.

Nas duas semanas que se seguiram não fui trabalhar, fiquei em casa, nervosa mas a tentar relaxar, a descansar, sem beber álcool, a ter todo o cuidado com a alimentação. Convenci-me que isso ajudaria a que resultasse. Na verdade, embora sem que na altura tivesse consciência disso, criei expectativas. Muitas aliás. No dia em que me apareceu o período senti-me mais uma vez a desmoronar. Era mais um falhanço, mais uma tentativa que não resultou, mais uma decepção. Reagi de forma fria e marquei nova consulta em Santa Maria.

Repetiram o procedimento a 15 de novembro. Desta vez, tentando não criar expectativas, Sara resguardou-se da ilusão. Não se limitou, optando por viver a sua vida normal, e não permitindo assim espaço à ansiedade para se instalar convenientemente.

No dia 30 o meu marido ia para fora em trabalho. O Beta HCG seria para fazer apenas 3 semanas após a inseminação, mas como tinha a certeza que ia dar negativo, achei por bem fazê-lo antes de ficar “sem marido” para que a notícia de mais um negativo fosse logo digerida a dois. Fui à clínica ao pé de casa e fiz a colheita de sangue. O resultado chegaria ainda nesse dia. Fui trabalhar e ao final do dia fui buscar o envelope para abrirmos os dois. Ao entregar-me o envelope fechado, e sem consciência do que estava a fazer, a menina da clínica disse-me: “Sara, provavelmente a doutora vai querer que repita o exame daqui a mais uns dias porque o valor ainda está um pouco baixo”. Fiquei sem perceber bem o que ela queria dizer com isso, mas apressei-me a sair dali e, de envelope na mão, corri para junto do David. Abrimos o envelope e ficámos a olhar para o boletim. O valor que aparecia era de 195. A legenda dizia que acima de 100 era positivo. Estava grávida.

Sara e David continuam, ainda hoje, sem ter um entendimento total da realidade vivida. A médica que acompanhou a gravidez acredita que Daniel e Carolina foram concebidos com um intervalo de cinco dias: a menina, como resultado da Inseminação, e Daniel, depois, fruto de uma relação sexual – portanto, de forma natural.

A verdade é que não voltei a engravidar, e continuo sem tomar a pílula. Na altura, a caminhada foi tão longa e psicologicamente tão dura, que demorei uns dias até interiorizar que estava realmente grávida. Entretanto falei também com a minha médica, e fiz a primeira ecografia duas semanas depois, com 5 semanas de gestação. Foi nessa primeira ecografia que ela me disse “Definitivamente são dois”. Não só estava grávida, como ia ter dois filhos – gerados em dias diferentes, com duas ovulações sucessivas. Eu na altura fiquei chocada e perguntei: “Então, mas como é que isto acontece?”. É incomum mas não impossível.

A diferença de tamanho dos sacos gestacionais era tal que ela achou que um deles era uma gravidez não evolutiva. Não me fez caderneta de grávida sequer. Disse-me apenas: “Um mede o dobro do outro, portanto existe o risco de o organismo ficar com esse retido e expelir o outro, de expelir esse e o outro ficar bem, ou ao expelir esse o outro sair também. Portanto, a gravidez pode não avançar e vamos ter que fazer uma ecografia todas as semanas para acompanhar”.

Eu saí de lá e não tive nunca dúvida de que não ia acontecer nada. Não sei explicar, mas senti-o. Eu sempre tive a certeza de que aquelas duas crianças iam nascer e de que não ia acontecer qualquer problema.

Quanto tempo cabe em duas semanas?

definitivamente são dois neonatologia

A gravidez evoluiu, como Sara o previu, sem quaisquer complicações, até às 33 semanas de gravidez – ou seja, à entrada para o oitavo mês de gestação. Nesta fase, o bebé está formado, sendo o foco o ganho de peso e a maturação do sistema pulmonar, mas, se a gravidez for gemelar, há o risco de a mãe entrar em trabalho de parto a qualquer momento.

Sara: Não estávamos nada preparados para a eventualidade de eles nascerem antes do previsto (risos). Toda a gente nos alertava para a possibilidade de eles nascarem prematuros, mas nós estávamos tranquilíssimos porque a gravidez estava a correr tão bem…

David: Hoje olhamos para trás e percebemos o quão irresponsáveis fomos. Nunca pensámos que alguma coisa pudesse correr mal…

Sara: Eu tinha ido à consulta uns dias antes e a médica tinha-me dito que o meu colo do útero super fechado e que era provável termos que provocar o parto às 38 semanas. Nesse dia estivemos também com a madrinha da Carolina, que é enfermeira, e foi ela a única pessoa que olhou para mim e disse: “Faz a mala que eles vão nascer”. Eu ri-me e disse: “Cala-te, estás parva, vão lá agora nascer, ainda agora vim da médica e ela disse que não”. Não fiz as malas, claro (risos). De repente rebentaram-me as águas e o David acha até que eu estou a brincar com ele. Liguei à minha mãe, que me perguntou se tinha dores, fui tomar banho, que não sabia quando me deixavam tomar banho outra vez (risos), e só então fiz as malas, a minha e as deles.

Nem mesmo nessa altura, com 33 semanas, pensámos que algo podia correr mal. Eu achava que ia tê-los e que, dois ou três dias depois, vinha para casa.

Daniel foi o primeiro a querer nascer. Desde sempre com menos espaço, mas também o maior, foi o mais apressado dos irmãos – foi também com o seu parto que nasceram as primeiras mágoas de Sara e David como pais.

Quando o Daniel nasceu, pegaram nele e foram a correr com ele, na pressa de ver se estava tudo bem e de fazer o parto da irmã. Nem um beijinho lhe dei. Se fosse hoje, claro que tinha dado dois gritos ao médico, até porque depois com ela já exigi isso. Ela estava a chorar desalmadamente e antes de me começarem a coser vieram pô-la ao pé de mim. Dei-lhe um beijinho e ela calou-se. Não ter essa experiência com o Daniel é uma coisa de que tenho muita pena.

David não pôde assistir aos partos. Daniel nasceu naturalmente, mas a irmã, bem instalada, não parecia disposta a abandonar o “quentinho” do útero tão cedo. Sara e David foram confrontados, aqui, com uma decisão com tanto de assustadora quanto de fácil: São muitos os casos de gémeos que nascem com um intervalo de dias de diferença porque só um deles provoca o trabalho de parto. Carolina podia não nascer naquele momento, ter o seu tempo, mas Daniel só daria entrada no serviço de Neonatologia acompanhado da irmã. Os riscos eram óbvios. O veredicto também.

Não internam gémeos separados. O primeiro fica na incubadora, à porta do serviço, mas não entra enquanto o segundo bebé não nascer. Não os separam. Ficam sempre juntos para não sofrerem um duplo choque – o parto é, em si, uma agressão ao recém-nascido, mais ainda no caso de gémeos que sejam separados. Ele disse-me isto e eu acedi a fazer a cesariana.

Carolina nasceu duas horas depois – o relógio já apontava para lá da meia-noite. Depois dos partos, também na data de nascimento os irmãos fizeram questão de frisar a sua individualidade. São gémeos que celebram o aniversário em dias diferentes. Nesta altura, contudo, a diferença residia na realidade, quando em confronto com a expectativa de Sara de ter os filhos consigo e de vivenciar, na plenitude, o início da caminhada da maternidade.

Sara: Eles ficaram internados durante 15 dias. Foram, claro, os 15 dias mais longos da minha vida. Deixar os filhos no hospital e ir para casa é a pior coisa que pode acontecer a uma mãe. É contranatura. Lembro-me de sair de casa e a última coisa que pensei ter sido: “Quando voltar a casa vou trazer os meus filhos comigo”. Isso não aconteceu e deixa marcas. Deixa marcas ainda hoje.

definitivamente são dois neonatologia

O dia-a-dia no serviço de Neonatologia foi esgotante, mais para os pais do que para os filhos, que nasceram, apesar de antes do tempo, desenvolvidos o suficiente para não sofrer nenhuma complicação de maior.

Para eles o dia-a-dia na Neonatologia “não é”. Estão a dormir quase sempre. Como não tinham ainda atingido a maturidade dos reflexos de sucção, que acontece às 35 semanas, tiveram que ser alimentados por sonda. Não sabiam mamar. Fizeram também uma terapia fantástica, que se chama igualmente terapia da fala, na qual uma terapeuta faz uma estimulação com o dedo no céu-da-boca e no início da garganta. A ideia é a de que comecem a ganhar esses reflexos. Só depois deste processo concluído é que são alimentados com biberon e, posteriamente, lhes tiram a sonda. Só com essa autonomia é que podem ir para casa.

Além disso, eles nasceram com pouco mais do que dois quilos, mas perderam peso entretanto, e antes de terem dois quilos os bebés não podem ser vacinados. Ou seja, tivemos que esperar que alcançassem esse peso para poderem ter alta.

O Daniel teve icterícia também, fez tratamento com as luzes roxas ultravioleta, mas isso até os bebés de termo podem sofrer. Eles tinham maturação pulmonar, o coração também estava bem.

Os sustos dos outros pais são, ainda assim, suficientes para criar, em Sara e David, uma sensação de sorte dormente. A ansiedade é palpável nos corredores da Neonatologia, de onde todos querem sair.

Felizmente nunca tiveram situações de picos de oxigénio, como outros bebés. As máquinas começam a apitar e vão todos a correr. Estar lá sentado e assistir a isto é horrível. Existiam situações complicadíssimas, crianças com 700 gramas. Esses sustos eram suficiente. Era impressionante. Estar ali, acabada de ter filhos, com as hormonas todas viradas do avesso, os meus filhos internados, assistir a isto… fiquei sem chão.

Vinha para casa dormir e a primeira coisa que fazia antes de me deitar era ligar para lá. De manhã, assim que acordava, ligava logo também. Tomava o pequeno-almoço e ia a correr. O sono era sempre inquieto, ansioso, e só não ficava lá a dormir porque o David não me deixava. Eles deixavam, e eu por mim tinha lá ficado, podíamos dormir naqueles cadeirões hospitalares, mas com duas costuras precisava de descansar e não havia propriamente condições para isso.

O apoio psicológico encontraram-no um no outro, na união de quem sabe que o amor e o optimismo levam tudo à frente. Perceberam desde logo que, para ficarem bem, precisavam de estar bem um com o outro também. E lamentam que as unidades de saúde não ofereçam aos pais, em situações tão esgotantes e difíceis, um suporte além do médico.

Não tivemos apoio psicológico nenhum da parte do hospital. Acho que devia ser obrigatório. No nosso caso não acho que tenha sido problemático, felizmente, mas há outros casos em que sim, pode ser importante. Na generalidade dos casos era mesmo algo que faria toda a diferença na forma de os pais encaram e lidam com aquele sofrimento. Não no momento, em que as pessoas estão anestesiadas, mas depois. É tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo, tanto receio, tanto desejo de levar as crianças para casa…

Já em casa, depois de duas semanas infinitas, Sara e David puderam, finalmente, viver os seus bebés com a intensidade, a contínua falta de sono e as dúvidas, alegrias e descobertas a que todos os pais deviam ter direito desde o primeiro dia. Sara conseguiu, fruto da insistência e apesar dos problemas iniciais com a sucção, que os filhos amamentassem – tanto que esse momento de ligação mãe-filhos só acabou tinham os gémeos dois anos e meio.

Daniela e Carolina estiveram sempre abaixo da curva do percentil na caderneta dos bebés, mas são hoje em dia crianças perfeitamente dentro da média de desenvolvimento. É engraçado olhar para os dois e perceber, ainda assim, que parecem ter dois anos de diferença: ele nasceu maior, foi maior até aos 3 anos, mas Carolina é agora bem mais alta do que o irmão.

Tão diferentes e tão iguais

definitivamente são dois diferentes

Daniel e Carolina são pessoas completamente diferentes. Nota-se na forma de agir, de falar, de estar, até de sorrir. Sara e David têm consciência destas diferenças, aplaudem-nas porque reforçam o lado individual de cada um, mas nunca as cimentam no género – fazem questão de os educar nos mesmos valores, ideais e obrigações.

David: Na nossa família não fazemos aquelas distinções do antigamente: a menina tem que ser protegida, tem que cozinhar e viver numa bolha, e o rapaz pode fazer tudo aquilo que quer, simplesmente porque é rapaz. Nada disso. A Carolina anda no karaté, que é uma atividade associada mais facilmente a um lado masculino. Fizemos questão de dar a oportunidade aos dois de aprenderem valores de autodefesa, disciplina, respeito. E apesar de já termos sido abertamente criticados, dizemos também, por exemplo, que eles vão dormir no mesmo quarto durante o tempo que eles quiserem.

Sara interrompe o marido para concretizar: numa fase em que Carolina acordava durante a noite com muitos pesadelos, Daniel abrigou-a na sua cama. Como perceberam que encontravam ambos conforto em dormirem juntos, Sara e David acabaram a juntar as camas, e a engenheira do ambiente e blogger partilhou essa história no seu Instagram.

Sara: A quantidade de mensagens que recebi, até de psicólogos, a dizer que não o podia permitir porque promovia a promiscuidade foi absurda. Se fossem do mesmo sexo já não havia problema.

David: Nesse aspecto fazemos muitas coisas que vão contra a convenção geral da sociedade. Damos beijinhos na boca. Eles dão um ao outro. Eu tanto dou à minha filha como ao meu filho. E ainda hoje em dia dou um beijo na boca à minha mãe. O meu filho não vai ser gay, e se tiver que ser, vai ser, mas não por causa disso. Nós temos gosto nisso, e enquanto ele não se incomodar com isso e tiver gosto também, é um gesto de intimidade nosso enquanto família.

Obviamente foi uma coisa que conversámos para que eles percebessem que não era um comportamento geral. Beijos na boca só à mãe, ao pai e à mana. Eles também tomam banho juntos. Aliás, regra geral eu vou para a banheira com eles. Toda a gente cá em casa sabe qual é a anatomia masculina e a feminina e não existem tabus nem problemas.

Também em casa e através do exemplo fazem ambos questão de lhes mostrar que a igualdade é o caminho: David assume a responsabilidade de dar banho aos filhos, como frisou, ou de cozinhar com Sara, fugindo do sofá como quem foge das regras. Não ajuda, partilha. E esse equilíbrio, sentido na hormonia das coisas a fluirem, reflete-se também na ligação dos irmãos, que se regulam um ao outro, como uma balança.

Sara: Sempre que há uma fase de mudança, uma “dor de crescimento”, o Daniel é muito mais de exteriorizar e demonstrar o que sente, deixa mais clara a dificuldade em lidar com as emoções. À Carolina conseguimos muito mais facilmente gerir, mesmo nessas fases mais complicadas.

David: Ultimamente até tem andado mais ela com essa postura. O que é engraçado: eles nunca estão em sintonia…

Sara: Nunca estão em crise ao mesmo tempo (risos).

David: Quando um está num dia mau o outro tenta sempre equilibrar, compensar.

Sara: Nunca há uma birra conjunta! Se ela está a fazer alguma birra, ou se está um de nós a ralhar com ele, a tendência do outro é vir ter connosco, agarrar no nosso braço, pedir um beijinho, e distrair-nos do conflito, para aliviar a tensão.

David: Quando é para fazerem asneiras aí juntam-se (risos), mas não tomam o partido um do outro nas birras, não se unem a elas, pelo contrário. Quando um está mal disposto e birrento o outro normalmente está sempre no extremo oposto. É para compensar…

Sara: Senão enlouquecíamos com os dois num dia não (risos).

definitivamente são dois gémeos

A personalidade distinta dos irmãos nota-se na dependência emocional que Daniel demonstra, com muitas mais “crises de afecto” do que Carolina – que, precisando ainda assim da sua demontração de carinho, lida melhor com a fuga à rotina, adora dormir em casa dos avós e sabe que, se não vir o pai de manhã, se tranquiliza na certeza de que jantarão juntos. É “drama queen”, palavra de pai, mas de forma regrada.

O irmão, por seu lado, vê na sua casa um refúgio do qual não abdica, e reage mal à falta de método, ao inesperado e à desorganização. Faz os trabalhos de casa de forma muito mais meticulosa do que a irmã mas oferece resistência à hora da refeição – como a mãe, em pequena, que atirava a comida pela janela para o cão da vizinha de baixo comer.

definitivamente são dois corrida

São muito unidos – balançando na união normal de gémeos, mas fugindo à ligação quase mística que envolve os gémeos verdadeiros, ou seja, gémeos desenvolvidos numa única bolsa gestacional. Vivem vidas independentes na escola, com grupos de amigos separados, embora frequentem a mesma turma. Quando o pai diz que não brincam juntos no recreio, Carolina interrompe-o sentida: “Brincamos sim!”. A necessidade de se reforçarem, na empatia e na cumplicidade, é gigante.

Sara: No outro dia a Carolina veio muito chorosa para casa porque um menino disse que eles não eram gémeos verdadeiros (risos) e lá andei eu a desenhar barrigas, com bebés em sacos diferentes, para explicar-lhe o conceito (risos). Mas o falso, para ela, era lido como eles não serem mesmo gémeos, serem só irmãos. Aquilo magoou-a. Protegem-se muito. Eu sou a mais velha de quatro irmãos, mas os dois que vieram depois de mim têm 2 anos de diferença um do outro, brincaram sempre juntos, tinham os mesmos amigos, são muito próximos, as ainda assim a relação que vejo nos dois não se compara.

David: Não acho ainda assim que tenham aquela ligação de que se fala, mais associada aos gémeos verdadeiros, de sentirem a dor um do outro. Acho é que têm uma amizade mais intensa, mas isso se calhar é por defeito nosso também.

Há uma das coisas que eu não me canso de lhes dizer quando se zangam: “Vocês não se esqueçam de que devem ser os melhores amigos para a vida toda; os outros amigos vão e veem, ao longo de vida, mas vocês têm que se apoiar sempre um ao outro”. Não faço disto cavalo de batalha, claro, mas gostava de que assim fosse. A vida é tão madrasta que se eles souberem que podem contar um com o outro, porque nós não vamos estar cá para sempre, é um conforto muito grande. Eles têm as turras deles, e chateiam-se, mas quando um está mal o outro preocupa-se, e quero acreditar que isso vai ser para a vida toda.

No fundo, e depois de tantos precalços, de uma série de “quase” que não se concretizaram, do sonho visto à distância, dos sustos e da normalidade que conquistaram, o que importa é simples. Tão simples como, definitivamente, dois e dois serem quatro.

Eu nasci numa família em que nunca houve muito dinheiro, mas amor e carinho havia à batelada. Sempre foi essa a premissa número um, e eu quero que assim seja connosco também. A regra número um é a do amor e a amizade deles entre eles, entre nós, e deles connosco.

Inspiração para uma vida melhor (e mais feliz!)

definitivamente são dois vida feliz

5 inspirações para a vida em família

– Os nossos pais;

– A natureza na sua simplicidade e perfeição;

– O desporto como modo de vida saudável;

– O mar pela tranquilidade que transmite;

– Nelson Mandela pela capacidade que tinha de perdoar o imperdoável

5 músicas para viagens em família

– Imagine Dragons – Whatever it takes;

– Queen – We will rock you;

– Xutos & Pontapés – A casinha;

– Carlão – Os tais;

– Justin Timberlake – Say something.

5 lugares para visitar com crianças

– Kidzania;

Zoo de Lisboa;

Oceanário de Lisboa;

– Península de Tróia (praia, ruínas, etc.);

– Castelo de Palmela (paragem obrigatória para petiscar no Bobo da Corte).

5 livros infantis que todos, pais e filhos, devem ler

– Cuquedo;

– 365 histórias de encantar;

– O livro da Selva de Rudyard Kiplin;

– O Atlas do contos de fadas (O Feiticeiro de Oz, A Casinha de Chocolate, A Bela e o Monstro, A Alice no País das Maravilhas, A Branca de Neve, O Peter Pan, A Pequena Sereia e O Pinóquio);

– Contos do foi assim.

5 filmes que adoram

– Star Wars, a saga completa;

– Zootrópolis;

– O amigo gigante;

– Os vingadores;

– Divertidamente.

Podem encontrar a Família Definitivamente São Dois nos seguintes locais:

– Blog Definitivamente São Dois.

– Instagram Definitivamente São Dois.


Gostaram de conhecer a família do Tomás, do Francisco, da Andreia e do Bernardo?

Conheçam todas famílias que nos inspiram!

Família Leandro Veselko

Família Vieira-Gillet

Família Terra do Sempre

Família Mum’s the Boss

Família Piangers

– Família Övén-Vieira

Família Menina Mundo

Família Tomás My Special Baby

Família Definitivamente São Dois

Família Por Ti Quico

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