A Pumpkin falou com o primeiro português Campeão Mundial de Judo de Veteranos sobre a importância das artes marciais no desenvolvimento infantil.
As artes marciais são um forte aliado na educação das crianças e existem muitos benefícios associados à prática de modalidades como karaté, jujitsu ou taekwondo.
A Pumpkin falou com João Neves, o primeiro português Campeão Mundial de Judo de Veteranos, que reforçou a importância de incentivar à prática desportiva desde muito cedo e que é uma referência para as jovens abobrinhas que começam agora a explorar o seu talento nos tatamis.
Sendo judoca desde os seis anos, quais acredita serem os maiores benefícios da prática de judo para as crianças, a curto e médio prazo?
Enquanto professor e praticante da modalidade há mais de 50 anos, considero que o benefício mais evidente do judo para as crianças é o desenvolvimento da sua personalidade e a mudança de comportamentos, tanto sociais como desportivos.
Esta arte marcial desenvolve este domínio mental e de formação pessoal através da interiorização de valores presentes na sua filosofia, importantes para formar bons cidadãos e bons atletas de competição.
Considero que esta vertente psicológica e social se torna a mais importante e específica do judo, sendo também transmitida a importância da prática desportiva ao longo da vida.
A prática de judo é aconselhada a partir de que idade?
A melhor altura para uma criança ingressar na modalidade é aos quatro anos, pois neste período a criança já adquiriu alguma maturidade e capacidade de concentração, o que possibilita a aprendizagem.
Nesta fase, o judo é ensinado de uma forma mais divertida e menos técnica, tendo como objetivo principal o desenvolvimento psicomotor da criança, utilizando bolas, arcos, pinos, etc.
Aos oito anos, a criança sente-se preparada para aplicar o que já adquiriu, passando à próxima fase, a técnica. Por esta altura, a criança já tem desenvolvimento motor suficiente e com um treino de judo vai conseguir exercitar quase todos os músculos do seu corpo.
Alguns pais têm receio de inscrever os filhos no judo. Existe o risco de que a prática de artes marciais desenvolva nas crianças um lado mais agressivo?
Judo significa “caminho suave”, logo, seria contraditório que a sua prática desenvolvesse nas crianças um lado violento.
O principal foco da modalidade é a disciplina, não sendo permitido um contacto físico que coloque em causa as regras e a integridade física do adversário.
Aliás, esta arte marcial é particularmente benéfica para crianças que sofram de hiperatividade, pois fazendo uma gestão das suas emoções, promove a calma e o autocontrole.
Há muitas raparigas a praticar judo? Essa é outra das ideias que importa desmistificar – a de que as artes marciais são mais indicadas para meninos.
Infelizmente, não existem tantas raparigas a praticar judo como gostaríamos, apesar do número estar a aumentar, principalmente nas classes mais jovens.
É errado pensar que as artes marciais – e o judo, em particular – são mais indicados para rapazes; todas as técnicas do judo podem ser praticadas por ambos os sexos e os treinos tendem até a ser mistos.
Curiosamente, o judo é também cada vez mais procurado como forma de defesa pessoal e, para este fim, maioritariamente por mulheres.
Como professor, mais do que a valente técnica, quais são os ensinamentos que considera fundamental transmitir aos seus alunos?
O que considero mais importante os jovens reterem são os valores inerentes à filosofia do judo: respeito, amizade, lealdade, coragem e perseverança.
Porém, mesmo os temas mais atuais, como as questões ecológicas e ambientais, estão presentes nesta passagem de conhecimento dos mestres para os alunos mais novos. Uma outra lição é a vontade de vencer, mas também o fomento do “bom perder”, o que nos leva ao espírito competitivo: um atleta só vai ganhar se quiser ganhar e se conhecer bem os seus objetivos.
Todos estes ensinamentos refletem-se, depois, no aproveitamento escolar, onde é preciso a criança dar o seu melhor para obter bons resultados.
O João é Campeão Mundial de Judo de Veteranos. É importante partilhar histórias de sucesso e disciplina para inspirar nas crianças de hoje a fome de serem os campeões de amanhã?
Claro que sim, é muito importante terem referências e terem também uma visão realista e holística do que é o mundo da competição.
Esta passagem de testemunho é importante para que os jovens percebam quais as dificuldades com que um desportista de alta competição tem de lidar e quais os esforços necessários para lá chegar.
Tento transmitir-lhes a ideia de que é preciso pensar num objetivo de cada vez, trabalhar para alcançá-lo e só depois estabelecer o seguinte, mostrando-lhes que é possível concretizar os nossos sonhar se lutarmos para os conquistar.
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