Cada vez mais mulheres optam por um parto em casa, porque não se identificam com o ambiente hospitalar tradicional.
O parto em casa tem como vantagem a grávida estar no seu próprio ambiente, haver menos restrições e menor interferência no trabalho de parto. Mas será seguro? Sofia Serrano, médica ginecologista e autora do blog Café, Canela e Chocolate, partilha connosco o seu ponto de vista – ao qual acrescentamos outros dados.
O parto é algo que faz parte da nossa natureza enquanto mulheres. Está provado que a sensação de segurança e privacidade da mulher em trabalho de parto vai influenciar o mesmo. Por isso, este evento fundamental e transformador da vida deve ocorrer num ambiente optimizado: o ambiente do parto deve ter em conta os novos desenvolvimentos em termos de atitudes e prática, e ao mesmo tempo permitir manter toda a segurança.
Sabemos que as mulheres dão à luz desde sempre, mas antes da medicalização do parto e do parto nos hospitais, a mortalidade peri-natal e materna era extremamente elevada.
No entanto, cada vez mais mulheres optam por um parto em casa, porque não se identificam com o ambiente hospitalar tradicional.
Em países como o Reino Unido, a taxa de partos no domicílio ronda os 2%; na Holanda, por outro lado, 30% das mulheres têm o parto em casa. Este tipo de parto só será aconselhável para gravidezes de baixo risco – mas aqui levanta-se uma grande questão: o que é uma gravidez de baixo risco?
Na realidade, as complicações são muito difíceis de antecipar, e o que parece ser uma gravidez com risco mínimo, pode, subitamente, tornar-se numa situação complexa, com risco para a vida da grávida e do bebé. Como num descolamento de placenta ou num prolapso do cordão umbilical, em que minutos fazem a diferença.
Para além disso, é fundamental que a parteira/responsável pelo parto saiba reconhecer problemas e transfira a grávida para o hospital assim que necessário. Deve também ter experiência em emergências obstétricas e ser capaz de manter um suporte básico de vida à mãe e recém-nascido em casa, se necessário. E existir uma rede de suporte que permita fazer chegar a grávida ao hospital num máximo de 30 minutos.
A verdade é que a ideia de um parto num ambiente acolhedor (o nosso ambiente) é fabulosa. Com privacidade, tranquilidade, sem interferência de gente estranha. Mas todos conhecemos a mediática história da apresentadora de televisão que esteve 3 dias em trabalho de parto e que acabou por fazer uma cesariana. Ou da australiana defensora do parto no domicílio que morreu de hemorragia pós parto, em casa.
As sociedades internacionais também não se entendem: no Reino Unido, o RCOG considera que “não há razão para que o parto no domicílio não seja oferecido a mulheres com baixo risco de complicações” e que há “benefícios consideráveis para a grávida e família”. Do outro lado do oceano, os americanos da ACOG são contra os partos no domicílio, porque defendem que “apesar do parto ser um processo fisiológico que ocorre na maioria das mulheres sem complicações, a monitorização da grávida e feto durante o parto num hospital é essencial já que mesmo uma gravidez de baixo risco pode passar a alto risco inesperadamente”.
Em Portugal, não há um parecer oficial divulgado, mas alguns médicos têm-se mostrado contra esta prática. Muitos têm, no entanto, defendido uma melhoria do ambiente hospitalar onde as mulheres têm os seus bebés, para que haja mais tranquilidade e um ambiente mais acolhedor, mantendo-se toda a segurança da pronta intervenção perante uma situação de risco eminente. Já a Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto emitiu um comunicado onde defende que “é certamente de extrema importância que estejam disponíveis, para a mulher e para o feto ou bebé, todos os meios possíveis de intervenção para garantir o bem-estar e sobrevivência de ambos.
No entanto, é também importante ter noção de que o parto fisiológico deve ser o objetivo a atingir, sempre que as condições de saúde de ambos o permitam, e se essa for a vontade da mulher, devendo ser dadas condições para que este aconteça.
Por outro lado, o parto em casa é uma realidade em Portugal e é legal. Para que se possa desenrolar com o máximo de segurança e clareza para todas as partes envolvidas, é recomendável que o mesmo seja regulado. Não só para proteger e informar os casais que o escolhem como também para apoiar os profissionais que o praticam.
É necessário também que seja debatido o modelo de assistência ao parto vigente nos hospitais portugueses, que pode ser uma das razões pelas quais as mulheres se sentem desrespeitadas e empurradas para opções que podem vir a ser perigosas em virtude da ausência de regulamentação. De salientar ainda que não é apenas em casa que os partos ocasionalmente terminam numa situação dramática – isso acontece também nos hospitais.”
Quais são, afinal, as vantagens do parto em casa?
– O direito de escolha da mulher de ter um parto natural, num ambiente em que se sente confortável e rodeada de pessoas da sua confiança.
– A mãe pode movimentar-se, comer, tomar banho, não precisando de estar confinada à sala de partos durante todo o processo de trabalho de parto.
– A mãe pode estar com as suas próprias roupas e escolher a posição em que quer ter a sua criança.
– Um parto planeado no domicílio ou numa unidade liderada por enfermeiros-parteiros está associado a uma maior taxa de parto vaginal espontâneo do que um parto planeado para uma unidade de obstetrícia.
– Segundo alguns estudos, o parto vivido desse modo desenvolve um grande vínculo afetivo tanto no bebé, como na mãe e nas pessoas que estiveram perto durante o nascimento.
Quais são as desvantagens do parto em casa?
– É importante a família ter consciência das possíveis complicações e estar preparada para lidar com elas: ou ter pessoal médico presente em casa ou estar tudo organizado para ir para a maternidade de forma a tanto a mãe como o bebe poderem receber os cuidados médicos necessários.
– A monitorização da grávida e feto durante o parto num hospital é essencial já que mesmo uma gravidez de baixo risco pode passar a alto risco inesperadamente.
– Antes da medicalização do parto e do parto nos hospitais, a mortalidade peri-natal e materna era extremamente elevada.
Para outras questões relacionadas com a gravidez, leia Dias de uma Princesa Grávida, o livro que Sofia Serrano escreveu juntamente com Catarina Beato – da comida ao desejo sexual, da primeira ecografia ao exercício físico, dos mitos ao esclarecimento, este é um relato, tão útil como emocionante e íntimo, da viagem mais incrível da existência – aquela que dura nove meses e muda a vida de uma mulher para sempre.
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