Reconheça os sinais que indicam o início do trabalho de parto.
Entrar em trabalho de parto, depois de 40 semanas de espera (nalguns casos menos, noutros casos mais), pode tão maravilhoso quanto assustador.
Trabalho de Parto
De acordo com Sofia Serrano, médica ginecologista e autora do blog Café, Canela e Chocolate, o medo do desconhecido predomina a mente da grávida e surgem questões deste género:
- “Será que vou reconhecer que estou em trabalho de parto?”
- “Será que é como nos filmes – rompe a bolsa e tenho de ir a correr para o hospital, senão o bebé nasce no táxi?”
- “Será que vai doer?”
- “Será que é rápido ou demora muito tempo?”
- “Será que vou conseguir ter um parto normal?”
A data prevista do parto é normalmente nas 40 semanas de gravidez, contudo a partir das 37 semanas, quando, segundo a médica, já “se considera uma gestação de termo”, estando o bebé pronto para vir conhecer os pais. Tal não quer também dizer que o bebé não decida nascer antes ou depois das 40 semanas de gestação – o máximo é até às 42 semanas.
Sintomas do início de trabalho de parto
O início do trabalho de parto está relacionado com a libertação de uma hormona conhecida como a “hormona da felicidade”, a ocitocina (hormona produzida pelo corpo e que facilita o trabalho de parto).
Os sintomas de que está a entrar em trabalho de parto são:
- Começar a sentir “a barriga dura”. Isto significa que está a ter contrações que, no início, são irregulares e menos dolorosas e podem começar uns dias antes da data do parto.
- À medida que o tempo vai passando, as contrações começam a manifestar-se com um intervalo cada vez menor entre si. Começam a ser de 10 em 10 minutos e depois a ficar cada vez mais próximas e começam também a vir acompanhadas de alguma dor (mas, atenção que isso depende de mulher para mulher), dura, aproximadamente, entre 40 a 50 segundos e começam por surgir de 10 em 10 minutos (valores que variam, obviamente, tendo em conta o historial clínico da mulher e o seu próprio corpo).
- Rompimento da bolsa amniótica, que pode acontecer ainda antes de surgirem as contrações ou durante o início do trabalho de parto ou no período de expulsão do bebé;
- Perda do rolhão mucoso.
Segundo Sofia Serrano, “se houver contrações de 10 em 10 minutos durante 1 hora, que depois passem a ter um intervalo de 5 em 5 minutos, ou se a bolsa romper, ou se houver perda de sangue, então é boa ideia ir para a maternidade“. Nessa altura, o médico assistente irá confirmar se está de facto em início de trabalho de parto ou se se trata de um “falso alarme”.
Fases do trabalho de parto
O trabalho de parto divide-se em três fases:
- O pré-trabalho de parto, no qual as contrações duram mais tempo e têm menor intervalo entre si. É a altura em que começa a dilatação do colo do útero;
- O trabalho de parto ativo (período de expulsão do bebé);
- A expulsão da placenta, medicamente denominado por dequitação.
E se estiver na hora, a grávida fica na maternidade, para se iniciar a próxima etapa até conhecer o seu bebé!
1ª fase: Dilatação do colo do útero
Foto: Pinterest
De acordo com as declarações do ginecologista Nelson Sass à revista Bebé Abril, “a mulher entra entra em trabalho de parto quando as suas contrações deixam de ser espaçadas e se tornam regulares”. Nesta primeira fase, a barriga fica dura como uma pedra entre 40 a 60 segundos, relaxando depois e voltando a ficar rígida após três minutos de intervalo, perfazendo um “total de três contrações a cada 10 minutos, em média. É nesse período que se inicia a dilatação do colo do útero – canal através do qual o bebé nascerá (no caso do parto normal). A velocidade de dilatação varia de mulher para mulher”.
2ª fase: Expulsão do bebé
Foto: Pinterest
Com o colo do útero totalmente dilatado, as contrações vão ficando cada vez mais fortes e frequentes. É nesta fase que o bebé começa a descer pelo canal vaginal da mãe. É altura de fazer força, mãe! Contraindo os abdominais e fazendo uma força semelhante à da evacuação, recorrendo às respirações que lhe ensinaram no Centro Pré e Pós Parto, irá dar à luz o seu pequeno bebé.
3ª fase: Expulsão da placenta (Dequitação)
Depois de nascer, o útero diminui o seu volume, o que origina o descolamento da placenta que, tal como o bebé, desce e sai pelo canal vaginal. É um processo bastante rápido, demorando apenas entre 5 e 10 minutos e que normalmente não necessita de intervenção médica, apesar deste estar sempre lá para alguma necessidade.
Rotinas hospitalares durante o trabalho de parto
Durante todo o processo do parto, existem rotinas hospitalares a serem cumpridas. De forma a melhor a podermos elucidar e tirar algumas dúvidas que tenha, contámos com a ajuda da especialista Filipa Dias.
Durante a 1ª fase
É permitido à mulher prestes a dar à luz a presença do companheiro/a, tendo em conta que esse acompanhamento elimina e evita o stress da separação e proporciona um aumento dos laços familiares. Também pode contar com a presença de mais alguma pessoa que lhe garanta um apoio extra.
Se optar, pode ainda ter a sua doula consigo, o que lhe irá garantir apoio emocional, suporte físico e constante afeto, encorajando a mulher a ter força mesmo que o processo de parto se complique.
A nível médico, normalmente existe uma lavagem intestinal (ENEMA), visto que o intestino vazio facilita a descida da cabeça do bebé, reduz a contaminação da mãe e do bebé no momento do parto e estimula as contracções.
Também é comum haver a raspagem dos pelos púbicos (Tricotomia). Isto porque se acredita que este procedimento reduz a infecção e facilita a sutura no traumatismo perineal (no caso de haver Episiotomia ou Laceração Perineal – rompimento não intencional da pele). Contudo, não existem evidências científicas em favor desta suposição. A raspagem dos pêlos não diminui a incidência de infecções e o crescimento dos pêlos é desconfortável. Dica: Se não se quiser que seja uma estranho a fazer esta ação, comece a fazer a depilação duas a três semanas antes da data prevista do parto.
Como não podia deixar de ser, a parturiente está constantemente a ser monotorizada, através da medição da temperatura, frequência cardíaca e pressão arterial.
Prevê-se ainda que a mulher tenha total liberdade para mudar de posição e de movimento, porque ajuda a diminuir a dor e a acelerar.
Outras informações:
- É aconselhável beber muita água. A água diminui a necessidade de tomar medicamentos para a dor e promove o relaxamento dos músculos;
- Pode e deve utilizar objetos pessoais. Pode dispensar a bata hospitalar, ouvir música, etc. permite um maior relaxamento e mais conforto;
- Infusão intravenosa (soro). Limita a mobilidade, pode provocar inflamação no local da administração do soro e há o risco de administração excessiva. Por esse mesmo motivo, não se justifica em partos de baixo risco.
- Amniotomia precoce (rutura artificial da bolsa amniótica) aumenta o risco de prolapso do cordão, de infeção, além de que o líquido amniótico tem um efeito protector no bebé. Por este motivo, não é recomendado, a não ser em determinadas situações que o médico ache que é necessário
- A medicação deve ser administrada apenas quando solicitada pela parturiente e com informação completa sobre os possíveis efeitos sobre ela o bebé e o trabalho de parto.
- Infusão intravenosa de Ocitocina é utilizada para acelerar e/ou induzir o Trabalho de Parto. Não existem evidências científicas de que o uso liberal da administração de ocitocina artificial ofereça benefícios para a parturiente ou para o bebé. Esta intervenção somente deve ser implementada com uma indicação válida.
Durante o parto em si
Posição de expulsão do bebé
Durante o parto, é possível que haja uma Laceração Perineal ou que haja necessidade de haver uma Episiotomia (ou ambas), um corte no períneo, o que irá ajudar o bebé a sair. A Episiotomia tem o objetivo de ajudar na expulsão do bebé, mas pode revelar-se desconfortável para a mãe durante o pós-parto.
O cordão umbilical do bebé só deve ser clampeado apenas depois de parar de pulsar, pois é através do cordão umbilical que o bebé recebe oxigénio enquanto o sistema respiratório está a começar a funcionar.
Logo após o nascimento do bebé, é muito importante que exista um contacto prolongado entre mãe e bebé, de forma a fortalecer os laços maternais, sendo que o contacto deve ser, preferencialmente, pele com pele, pois ajuda na produção de ocitocina.
Assim que coloquem o seu filho no seu peito, uma enfermeira irá ajudá-la a colocar o bebé na mama. Mais uma vez é importante que isso aconteça o mais rapidamente possível após o nascimento. Isto porque a sucção do bebé estimula a produção de ocitocina que, por sua vez, ajuda na saída da placenta. Além disso, o reflexo de sucção do bebé é mais forte na 1.ª hora após o nascimento, e aumenta o vínculo entre mãe e bebé.
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