O inquérito da EU Kids Online revelou dados importantes sobre os riscos e oportunidades da tecnologia e internet para crianças e jovens portugueses.
Realizada em 2018 e divulgada em 2019, a pesquisa foi feita com 1974 crianças e jovens portugueses (dos 9 aos 17 anos de idade), metade rapazes, metade raparigas. Descubram como é a relação Criança x Internet em Portugal!
Criança x Internet: Colados ao ecrã
Comunicar e partilhar conteúdos digitais com pessoas da sua idade são práticas quotidianas dos pré-adolescentes e adolescentes portugueses. Cada vez mais, crianças com menos de 13 anos estão a usar redes sociais. Entre os 11-12 anos, o uso diário passou de 38%, em 2014, para 65%, em 2018, e mais do que duplicou entre os 9-10 anos, ao subir de 11% para 27%.
Entre os 13-14 anos, o uso diário das redes sociais subiu de 60% para 81% e entre os jovens de 15-17 anos passou de 80% para 89%. Nessas práticas ficam registadas “pegadas digitais” que podem ser usadas sem o seu consentimento para fins comerciais ou de vigilância.
Sobre este tema, que está na ordem do dia com o Regulamento Geral de Proteção de Dados, 87% dos jovens entre os 11 e os 17 anos respondem ter “muita ou alguma preocupação” com a possibilidade de a sua informação pessoal (“nome, idade, morada, número de telemóvel, o que faz, quanto anda por dia…”) ser roubada, perderem dinheiro ou serem enganados na internet. Três quartos estão preocupados com essa informação poder ser do conhecimento de empresas ou do governo sem a sua autorização.
Para Cristina Ponte, coordenadora do estudo e investigadora na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, “estes resultados ilustram a dimensão crescente do uso das redes sociais por adolescentes e pré-adolescentes e revelam alguma consciência de riscos relativos à sua segurança e privacidade.”
Cristina acrescenta que “no momento em que o Parlamento português discute a idade mínima para o consentimento sobre usos da informação deixada pelas ‘pegadas digitais’, “colocar o limite mínimo dos 16 anos ignora a real experiência dos mais novos, as suas preocupações e a importância de adquirirem desde cedo competências digitais em matéria de segurança, como, de resto, tem vindo a ser feito no país e já está presente nos currículos do ensino básico e secundário.”
Capacitar e responsabilizar
As respostas dos entrevistados de 11-17 anos revelam uma vontade de equilíbrio entre o seu manejo privado da comunicação digital com pares, por um lado, e uma relação de comunicação em família, por outro.
Dois terços apontam que, se os jovens tivessem de pedir autorização aos pais para usar redes sociais “seria mais difícil manterem-se em contacto com os amigos”, enquanto 62% concordam com a afirmação de que, nessa situação, “os jovens poderiam beneficiar mais dos conselhos dos pais”.
Criança x Internet: como podem os pais ajudar?
Os pais devem conversar abertamente com seus filhos! E muito! O estudo revela que as crianças e jovens gostavam de ter uma orientação melhor sobre sua relação com a internet.
Neste inquérito, apenas um terço das crianças e jovens de 9-17 anos diz que conversa com os pais sobre o que faz na internet. Para a coordenadora da equipa portuguesa na rede europeia EU Kids Online estes valores são relativamente baixos.
Os mais novos poderiam beneficiar “mais, e desde cedo, de uma cultura digital em família que favorecesse a sua capacitação e responsabilização”, mas isso não acontece em muitas famílias.
Existe na sociedade portuguesa tanto uma cultura de protecionismo relativamente aos jovens, que os considera como imaturos, como algum encantamento tecnológico alimentado pelo mito dos ‘nativos digitais’ que leva muitas famílias a um certo ‘deixa andar’. Estes resultados apontam, contudo, que os jovens gostariam de contar mais com os pais e que estes respeitassem o seu território pessoal.”
Diferentes abordagens para rapazes e raparigas
Nestas e noutras respostas, os resultados do inquérito assinalam diferenças associadas ao género dos utilizadores: “As raparigas são mais alvo de atenção familiar do que os rapazes e também procuram mais o apoio familiar quando encontram problemas na internet”, nota a professora da NOVA FCSH.
Esta é uma diferença de tratamento que preocupa, pois os rapazes também merecem e necessitam de atenção, certo?
Educação digital: os miúdos precisam de aprender a “saber desligar”
70% dos internautas de 11-17 anos sentem-se, “por vezes”, aborrecidos quando não podem usar a internet, 60% dão por si por vezes a usá-la mesmo sem um propósito e 37% passam menos tempo com a família e amigos e deixam de estudar por causa da internet.
Para um em cada nove ou dez entrevistados estas três situações acontecem pelo menos uma vez por semana ou mesmo todos os dias. “Contrariar a pressão para estar sempre ‘ligado’ e sentir a obrigação de dar resposta imediata precisa também de ser considerada na educação digital”, considera a coordenadora do estudo.
Fake News!
No que se refere a competências relacionadas com a navegação e apreciação crítica da informação, 52% dos entrevistados consideram ser fácil verificar se a informação que encontram na internet é verdadeira.
“Sabemos que essa verificação é complexa e estes resultados apontam assim a necessidade de trabalhar a literacia informacional, a avaliação crítica da informação disponível, online e offline. Aqui a escola tem um papel fundamental, já que isso nem sempre acontece nas famílias”, observa Cristina Ponte.
Riscos e danos
Um quarto dos entrevistados disse ter tido no último ano situações que os incomodaram na internet. Foram os mais velhos (15-17 anos) e os mais novos (9-10 anos) os que mais referiram essas situações. As raparigas (27%) referiram-nas mais do que os rapazes (18%). A experiência do cyberbullying é a que mais incomoda.
Mas a experiência digital comporta outros riscos. Ver conteúdos negativos como imagens de grande violência, incitação à automutilação ou mensagens de ódio contra certos grupos ou indivíduos pela sua cor de pele, religião, nacionalidade ou orientação sexual foram situações referidas por quase metade dos internautas de 11-17 anos.
Foram também analisados novos constrangimentos, como o sharenting, as práticas crescentes de pais que partilham imagens dos filhos nas redes sociais sem o seu consentimento.
Sobre essa temática, 28 por cento dos entrevistados de 9-17 anos referem que os pais publicaram textos, vídeos ou imagens sobre eles, sem lhes perguntarem se estavam de acordo. Destes, metade ficaram aborrecidos com essa informação partilhada online e um quinto receberam comentários negativos e ofensivos derivados desses conteúdos.
Na sua diversidade, aponta a investigadora da NOVA FCSH, estes resultados são importantes para uma reflexão que deve envolver as próprias crianças e jovens, as suas famílias, professores e profissionais que com eles lidam, bem como a indústrias e responsáveis por políticas de bem-estar e de segurança.
E aí por casa, como é a relação criança x internet?
A rede EU Kids Online
A rede EU Kids Online (www.eukidsonline.net), surgida em 2006, é reconhecida a nível internacional como fonte geradora de dados de elevada qualidade e comparabilidade no que se refere a oportunidades e riscos da internet para crianças e jovens. Reunindo 33 países europeus, a rede apresenta uma perspetiva multidisciplinar e multi metodológica sobre a segurança na internet. Agora, apresenta-nos este estudo sobre a relação Criança x Internet.
Toda a pesquisa pode ser consultada no site da EU Kids Online Portugal.
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