Conheçam este testemunho de abuso online verídica - Pumpkin.pt

“Nunca acreditei que isto me pudesse acontecer…” – testemunhos de abuso online

Como ocorrem as situações de exploração online de crianças? Conheçam um testemunho de abuso online verídica e saibam como podemos combater este flagelo.

O Portal do Bullying, na voz da Dra. Tânia Paias, traz-nos o testemunho verídico de uma jovem de 14 anos vítima de chantagem online – infelizmente, uma narrativa que é comum nos dias que correm.

Fiquem a conhecer esta história, leiam algumas dicas que ajudarão a prevenir e lidar com estas situações e saibam tudo sobre o documentário checo que explorou estes cenários aterradores a fundo, o “À Solta na Internet”.

A História da “Isabel”

“Nunca acreditei que isto me pudesse acontecer, não estava à espera que a pessoa em quem eu mais confiava, me pudesse fazer isso. Mas fez, humilhou-me, envergonhou-me e eu só quero desaparecer, não quero ir para a escola, não quero ver ninguém, não quero o telemóvel, as redes sociais, esqueçam-me, é só o que penso.”

Tudo começou quando Isabel (nome fictício) começou a falar com um rapaz super simpático e por sinal muito giro (foto). “Interessei-me pelo seu estilo e pelo que escrevia, e um dia decidi enviar-lhe uma carinha feliz e ele respondeu logo e começou-me a perguntar de onde era, em que ano andava e o que gostava mais de fazer. 

A conversa começou a ficar cada vez mais animada e ele sempre atencioso. Todas as noites enviava um coração e de manhã um bom dia. Começou a ser presença diária na minha vida, e claro que começámos a ter mais intimidade, queríamo-nos conhecer, mas ainda não era possível, então ele começou a pedir-me fotos para me ver a toda a hora, pois dizia ter muitas saudades minhas.

Eu nunca gostei de mandar fotos e nunca gostei muito de me ver nas fotos, mas ele dizia sempre que isso era impossível, que eu era linda e que só eu é que não via isso.  Decidi enviar uma, mas com a cara meio tapada, mas a confiança e a segurança dele fizeram com que acabasse por mostrar um pouco mais, e quando me apercebi, nem sei bem quando, já lhe tinha enviado uma foto mais sexy.

Ele adorou, disse que eu era maravilhosa, e só quando começou a insistir para enviar mais, ainda mais ousadas, é que percebi que afinal ele não era como eu pensava. Eu disse-lhe que não, uma, ele tentou, eu disse que não outra, que era envergonhada, uma e outra vez, até que do outro lado veio uma palavra desagradável, uma frase horrível e no final uma chantagem……

Aí acabou tudo, começou o meu medo, nunca quis contar aos meus pais, pois sabia o que eles me iriam dizer, eu sabia que não devia ter mandado fotos, mas caramba, eu confiava nele. Ele enviava-me memes horríveis, o que ele fez com as minhas fotos, pensava” e o pior era saber se ele tinha enviado para mais alguém. Até hoje não sei, mas eu acredito que sim….”

Como lidar com situações como esta?

A história de Isabel poderia ser a história de uma outra qualquer jovem. Tenho ouvido dezenas de histórias assim, com diferentes nuances, mas com o mesmo fim, a humilhação, a vergonha pública, o querer desaparecer, o sentir que ficaram sem chão, sem vida, sem nada. Imaginar quem é que poderá ter visto, o que poderá ter feito, o como se deixaram levar por esta conversa…

Enquanto pais é fundamental um diálogo de abertura, de proximidade, pois numa situação como esta os filhos precisam de a eles recorrer, para que estes os ajudem a pensar e a solucionar as dificuldades. 

Eis alguns conselhos a reter:

  • Num primeiro momento conter as emoções dos filhos sem os culpar (a vergonha social é gigante e o sentimento de devassa e humilhação é complexo);
  • Não apagar as trocas de mensagens (pois numa situação destas o primeiro impulso é apagar tudo) que poderão servir de prova;
  • Mostrar que enquanto pais estão e estarão sempre lá para os filhos. É necessário mostrar uma atitude de compreensão, de contenção, para depois analisar o que aconteceu e responsabilizar o comportamento daqui em diante sem o reforço da culpa, pois isso já eles sentem, e bem (e dar-lhes algumas competências para que saibam lidar com situações futuras semelhantes);
  • É fundamental que os pais tenham literacia digital, pois só assim se quebra o hiato entre gerações. é importante tentar saber quais são as redes sociais por onde os jovens comunicam e quais as maiores novidades (a rapidez com que surgem novos canais de comunicação é gigante);
  • É também importante alertar para o facto de que os abusadores online são competentes, fazem um estudo prévio da pessoa, conhecem os seus gostos, hábitos, fraquezas, por isso é natural que percebam tão bem a pessoa. O que colocamos online é informação que outra pessoa pode utilizar. (“quando estou triste vou ver o mar”, “um dia de sol deixa-me feliz”, “detesto chuva”) e que também adequam as suas palavras à idade de quem estão a conversar.

É inegável a presença da internet e das redes sociais na nossa vida, por isso, um diálogo de proximidade, de partilha, de orientação, deve ser a aposta maior das famílias. Conhecer para prevenir, sempre.


Este artigo foi escrito pela Dra. Tânia Paias, Psicóloga especializada na avaliação e acompanhamento das problemáticas associadas ao Bullying e Diretora do Portal do Bullying, um site que ferramenta de auxílio na disseminação da violência entre pares, fomentando o diálogo e a partilha de experiência.

Lá, podem encontrar ferramentas e informações sobre bullying e cyberbullying, assim como marcar consultas e sessões de consultoria e aconselhamento parental/escolar, entre outros.

Acompanhem o trabalho do Portal do Bullying na plataforma oficial e sigam a página de Instagram para estarem a par de todas as iniciativas do projeto.


“À Solta na Internet” – um documentário sobre o abuso de crianças online

Infelizmente, situações como a de “Isabel” não são raras. Fiquem a conhecer um documentário que explora a fundo este flagelo:

“Sabe com quem a sua filha comunica online?” é a premissa introduzida pelo “À Solta na Internet“, um documentário de Barbora Chalupová e Vít Klusák (República Checa) que apresenta uma realidade chocante e paralela à tratada neste artigo: a da exploração online de crianças.

O projeto desenvolveu-se em volta de três atrizes (maiores de 18 anos) que se fizeram passar por meninas de 12 anos nas redes sociais, através de perfis falsos e com o auxílio de quartos infantis criados em estúdio.

Em 10 dias, as atrizes são contactadas por 2.458 predadores sexuais, em interações que vão desde a chantagem ao envio de fotografias íntimas e de links pornográficos, a pedidos de masturbação mútua por vídeo e até às solicitações de encontros pessoais que acabam por se tornar em armadilhas para estes predadores sexuais.

O filme mostra uma realidade dura e dramática, em que os perigos da internet e das pessoas que se servem dela para explorar crianças são desvendados de uma forma crua e sem encenações.


“À Solta na Internet”, distribuído pela Zero em Comportamento: Para as escolas existe uma versão do filme, com 63 minutos e com as três actrizes a conversar para a câmara (e, portanto, para o público).

Esta versão está disponível para as escolas, sob marcação, e em horários de manhã ou ao princípio da tarde, nos cinemas. As escolas e professores interessados deverão enviar um email para [email protected] manifestando o interesse e n.º de alunos que pretendem levar.

Mais informação sobre Cyberbullying:

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