Com uma pitada de compaixão, respeito e amor pelos outros é possível criar uma criança gentil!
Os pais têm a constante preocupação de criar os seus filhos de acordo com um determinado leque de valores que consideram ser importantes para uma boa convivência em sociedade. Acima de tudo, querem criar crianças felizes e gentis (com compaixão e sensibilidade).
A Universidade de Harvard levou a cabo um estudo sobre este tema, “The Children We Mean to Raise” (“As crianças que pretendíamos criar”, em português) e os resultados são impressionantes.
Os dados deste estudo, conduzido por uma equipa de investigadores, revelam que as crianças parecem mais preocupadas com o sucesso do que com os outros que se encontram à sua volta.
Num universo de 10 mil jovens questionados, a maioria (cerca de 80%) afirmou que o reconhecimento e a felicidade são a sua principal prioridade e apenas 20% disse dar primazia aos outros, procurando, em primeiro lugar, cuidar deles para depois pensar no seu sucesso.
Com estes dados foi possível perceber que:
- Os jovens pensam que as pessoas valorizam mais a realização e a felicidade do que a compaixão e o respeito pelos outros;
- Atualmente, é 3 vezes mais provável que as crianças e os jovens concordem com a seguinte afirmação: “Os meus pais ficam mais orgulhosos se eu tiver boas notas do que se for uma pessoa que se preocupa com os outros”.
Ou seja, no que à compaixão e ao cuidar dos outros diz respeito, as crianças estão num patamar de risco – quer isto dizer que podem ser cruéis, desrespeitar os outros e serem desonestos. Cerca de 30% dos meninos(as) no ensino básico reportaram ter sofrido de bullying, e mais de 50% das meninas, entre os 7 e os 12 anos, foram, pelo menos uma vez, assediadas sexualmente.
Além destes dados, existe ainda um outro que pode preocupar os pais, educadores e todos os que estão envolvidos no processo de aprendizagem e desenvolvimento das capacidades psico-sociais da criança – 57% dos alunos do ensino secundário concordam com a frase “No mundo real as pessoas sucedidas fazem o que tem de ser feito para ganhar o seu lugar, mesmo que para isso tenham que fazer batota”.
Apesar disso, para estes pequenos seres humanos é importante o carinho, a compaixão e a justiça, mas a pressão que sentem por parte da sociedade é que devem ter boas notas na escola e serem felizes, sendo os outros fatores ultrapassados por estes dois últimos.
Assim sendo, colocam-se duas questões:
- Será que os pais estão a conseguir transmitir as verdadeiras prioridades da vida?
- Estão as crianças a perceber a mensagem dos pais?
Segundo os dados obtidos nesta investigação, a resposta não deixa margens para dúvidas – é um “não” redondo. A resposta não é mais do que se pode extrair do que os números mostraram: cerca de 95% dos pais querem que as crianças tenham compaixão e carinho pelo próximo; já 81% das crianças pensam que a felicidade e o alcançar dos seus objetivos são as prioridades dos pais para eles.
Impõe-se então, uma derradeira questão:
Estamos então a criar crianças gentis e preocupadas com o próximo? Parece que, ao contrário do que muitos pensam, a resposta é “não”.
Vamos então aprender a fazê-lo? Para ajudar nesta tarefa uma tanto ou quanto complicada, a equipa de cientista da universidade norte-americana deixam alguns conselhos aos pais.
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Como criar crianças gentis?
Partilhamos algumas das dicas da Universidade que nos mostram como criar crianças gentis e inspiram-nos a ser melhores, também nós, todos os dias.
1. Trabalhem no desenvolvimento de uma relação mais íntima com os vossos filhos
As crianças aprendem a ser carinhosos e a respeitar o outro quando assim são tratados. Quando as crianças se sentem amadas, criam uma ligação. Essa ligação torna-los-á mais recetivos a absorver e praticar os valores que os pais lhes ensinam.
Mostrar amor, preocupação, carinho, respeito e compaixão pode não parecer tarefa fácil, mas a verdade é que não é tão difícil quanto possa parecer.
Tudo se desenrola naturalmente num ambiente familiar onde as crianças se sentem seguras, onde sentem que podem mostrar as suas emoções (independentemente de serem positivas ou negativas), onde se respeitam as diferentes personalidades de cada membro e se demonstra interesse no outro e na sua vida (dialogando frequentemente sobre as questões que os incomoda, sobre as dificuldades, o que mais gostaram do dia, o que menos gostaram, etc.).
Há que haver tempo e disponibilidade para que os pais se possam sentar com os seus filhos e ter uma conversa que faça sentido para ambos, tentando escapar àquela mítica pergunta “como correu o teu dia?” – já sabemos que a resposta será curta e afirmativa, sem qualquer esforço de desenvolvimento.
2. Ajudem-nos a praticar
Praticar a gentileza é simples. Basta apenas que os incluam no vosso dia-a-dia e mostrem quão importante pode ser ter a ajuda de alguém.
Podem dizer que estão cansados e se os pequenos não se importam de vos ajudar a colocar a loiça na máquina, ou pedir que levantem o prato da mesa. Esses pequenos momentos, pequenas tarefas, irão fazer com que as crianças desenvolvam a empatia, a compaixão e o respeito pelos outros.
Com o passar do tempo, tornar-se-á algo já intuitivo e não tarda darão por eles a ajudar os amigos com os trabalhos de casa, a perguntarem a um menino que está a um canto do parque infantil triste se está bem e se quer brincar com eles, entre muitas outras manifestações comportamentais que mostram o caráter gentil dos pequenos.
3. Incentive-os a ver sob diferentes perspetivas
De acordo com os pesquisadores, é importante que as crianças aprendam a fazer “zoom in” (aproximar), ouvir de perto e com atenção e ajudar aqueles que pertencem ao seu círculo próximo, mas também que façam “zoom out” (que se afastem), procurando ver o que vai para além do que vê quando inserido no grupo.
É necessário que as crianças tenham noção de como as suas ações podem ter impacto na comunidade em que se inserem. Por exemplo, se decidir desrespeitar uma regra da escola, pode fazer com que os outros o façam também.
Pode encorajar as crianças a colocarem-se no papel de outros indivíduos que sejam mais vulneráveis (um menino/a que esteja com problemas familiares) e ajudem-nos a pensar como agir para fazer o menino sentir-se melhor.
Pode ainda usar uma notícia de um jornal para falar sobre vários assuntos, procurando que a criança consiga perceber as dificuldades e os desafios de um tema em particular. Desta forma, a criança terá a capacidade de se colocar do outro lado e compreender o porquê de determinadas situações.
Por fim, expliquem-lhes a importância de ouvir os outros, especialmente aqueles que não nos são familiares e que possamos não compreender imediatamente.
4. Sejam um modelo a seguir, mostrando-lhes como agir
Se querem que os vossos filhos sejam mais gentis para com o próximos, têm de mostrar o exemplo e ser também carinhosos, preocupados e gentis para com os outros.
A equipa de Harvard sugere que os pais façam um esforço para ampliar os círculos de preocupação e aprofundar a compreensão sobre as questões de justiça e igualdade.
5. Ensinem as crianças a lidar com os sentimentos destrutivos
Os investigadores afirmaram que a capacidade de as crianças se preocuparem com os outros pode fazê-los ultrapassar sentimentos de raiva, de vergonha, inveja ou outro sentimento negativo. Por isso mesmo, sugerem que os pais ensinem aos filhos que apesar de ter sentimentos seja bom, existem formas menos corretas de lidar com eles – por exemplo, bater num colega porque ele irritou não é a forma certa de lidar com o assunto. Neste caso, os pais podem fornecer-lhes alguns truques para se acalmarem antes de tomarem uma ação, como contar até 10, falar com alguém sobre o assunto, entre outros.
A equipa de investigação de Harvard demonstrou estar preocupada com o facto de as crianças estarem a ser ensinadas a valorizar a sua felicidade acima de qualquer outra coisa, mas também se mostrou feliz por haver ainda alguns meninos que o carinho e a bondade – um dos alunos disse:“As pessoas devem sempre colocar os outros antes de si e concentrar-se em contribuir com algo para o mundo que irá melhorar a vida das próximas gerações.”
Foto: Mike Scheid/Unsplash
“Juntos podemos mudar a forma como as crianças interpretam a definição de sucesso e o que quer dizer ser um membro ético da sua comunidade.” (Harvard University)
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