Sendo um procedimento médico cada vez mais utilizado, começa a levantar-se a questão se será realmente necessário no parto normal ou não.
A episiotomia é um procedimento cada vez mais utilizado em Portugal. De acordo com o Diário de Notícias (DN), “em Portugal, entre 2010 e 2015, 77% das mulheres que tiveram partos vaginais desde o início do século XXI foram sujeitas ao corte do períneo“, valores bastante acima do recomendado pela American College of Obstetricians and Gynecologists, que recomenda não exceder a percentagem de 5 por cento.
Episiotomia
Os hospitais portugueses distinguem-se do resto da Europa, não só pelas elevadas taxas de parto por cesariana, como pela prática da episiotomia. Segundo o jornal português (DN), em 907 mil partos vaginais, entre 2000 e 2015, em hospitais públicos portugueses, cerca de 696 mil mulheres, ou seja, 77 por centro, optaram pelo realização deste procedimento.
Já em 1996, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu realizar uma pesquisa para, posteriormente, com evidências científicas, emitir um guia de orientação sobre as melhores práticas para os profissionais adotarem aquando da realização de um parto normal. De acordo com o guia de orientação, “o uso liberal e rotineiro da episiotomia foi encaixado na categoria de ‘práticas frequentemente utilizadas de modo inadequado'”. Portanto, o objetivo desta organização de saúde é diminuir os procedimentos.
O que é?
A episiotomia é um corte vaginal que se realiza no parto normal no períneo, entre a vagina e o ânus, e que tem como objetivo de facilitar a passagem do bebé pelo canal vaginal.
Quais os casos em que é “recomendada” uma Episiotomia
- Se a mãe fizer um rebordo de colo:
Acontece, porque a dilatação não é um processo simétrico, ou seja, depende da posição da cabeça do bebé. Normalmente, o último centímetro de dilatação está à frente da cabeça do bebé. Esse último centímetro é chamado de “rebordo de colo” ou “rebordo anterior”. Com paciência, esse último centímetro desaparecerá, e o bebé nascerá. Às vezes pode ser necessário abreviar o tempo do parto reduzindo-se esse último centímetro com um exame de toque. Isso se chama “redução do colo”. É um processo doloroso, que deve ser evitado a todo custo, se possível.
- No caso de parto pélvico, que acontece quando o bebé se encontra sentado.
- Se o bebé estiver em sofrimento e tiver de nascer rapidamente.
- Se a mãe já está a fazer força há muito tempo, e se o bebé está a nascer com a ajuda de fórceps ou ventosas.
- Se, no momento da expulsão, o médico assistente vir que a mulher vai sofrer uma laceração perineal grande e com probabilidade grave sem a episiotomia.
No entanto, existem médicos que acreditam que este procedimento, se realizado sem necessidade, pode ser mais prejudicial que benéfico. Apesar de ser prática comum realizar uma episiotomia no parto normal, existem diversos estudos que concluem que a sua realização não previne as lacerações perineiais (rasgão que a mãe faz, involuntariamente, na zona do períneo), como pode inclusive ajudar a desenvolvê-las.
Riscos ou complicações
De acordo com as declarações da enfermeira Isabel Silva ao site Vida Ativa, sendo a episiotomia um procedimento cirúrgico, existe, como em qualquer intervenção cirúrgica, risco de complicações.
A maioria delas acontece quando a sutura não é feita corretamente, podendo desenvolver-se “o risco de fibrose, dor persistente, dificuldade da cicatrização e perda de sensibilidade na região da incisão“, explica.
“Existem alguns estudos que demonstram que a episiotomia pode ter graves complicações como laceração e perda de tónus na região perineal”, o que pode levar “ao desenvolvimento de problemas intestinais ou problemas na contenção de órgãos, como o intestino.”
A cicatrização demora cerca de seis semanas, e, segundo a especialista, a mulher deve, neste período, evitar fazer esforços e ter relações sexuais.
Como aliviar a dor e/ou desconforto
De forma a aliviar a dor e o desconforto causado pela episiotomia, aconselha-se a mulher a:
- Usar uma almofada com um buraco no meio, como por exemplo uma almofada de amamentação, para se sentar em cima dela, evitando pousar o peso do corpo sobre a cicatriz;
- Secar a região íntima sem esfregar ou pressionar para não se magoar;
- Aplicar compressas frias ou um cubo de gelo no local da episiotomia para aliviar a dor;
- Atirar um pouco de água para a região íntima enquanto urina, de forma a diluir a urina e reduzir a sensação de ardor no local intervencionado. Isto porque a acidez da urina em contacto com a cicatriz da episiotomia pode provocar algum ardor.
Caso a dor na região seja muito intensa, o médico pode prescrever analgésicos como o paracetamol ou pomadas anestésicas para conseguir assim aliviar a dor e o desconforto. Relembramos que estes só devem ser tomados/usados depois de se aconselhar junto de um profissional de saúde.
Cuidados para evitar infeções
Para evitar uma infecção na região em que é realizada a episiotomia, é recomendável que a mulher:
- Use cuecas de algodão ou descartáveis para que a pele desse local possa respirar;
- Lave as mãos antes e depois de ir à casa de banho e troque o penso higiénico com regularidade;
- Lave a região íntima na direção da vagina para o ânus e não ao contrário (o mais comum);
- Usar produtos de higiene íntima com pH neutro. Existem várias marcas que podem complementar este seu ponto;
- Não faça esforços, tendo o cuidado de apoiar os braços na cadeira quando se vai sentar. Não se sente em cadeiras baixas para evitar que os pontos rebentem.
Sinais de infeção
Depois de um procedimento destes, é muito importante que a mulher esteja atenta aos sinais de infeção, tais como:
- vermelhidão;
- inchaço;
- libertação de pus ou de líquido pela cicatriz – neste caso, deve consultar de imediato o obstetra que assistiu o parto ou dirigir-se imediatamente às urgências da unidade hospitalar mais próxima.
Mas, é realmente a episiotomia necessária?
A revista Crescer, afirma que muitos especialistas tais como a obstetra Melania Amorim, do Instituto de Medicina Professor Fernando Figueira, que não realiza episiotomia há 14 anos em nenhum caso.
“Não há evidências científicas para as supostas indicações. Existem, sim, evidências de que a incisão aumenta o risco de lesão perineal”, não tendo benefícios nem para os casos em que a sua intervenção é aconselhada.
No entanto, existem várias estratégias para trabalhar o períneo em aulas de preparação para o parto, como no caso de centros de preparação para o parto e pós- parto, como no caso do Centro Pré e Pós Parto. Há ainda outros exercícios, como a caminhada que podem ajudar a fortalecer o músculo do períneo.
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