Imaginamos filhos perfeitos, fruto dos ensinamentos que com eles partilhamos, dos esforços que desenvolvemos diariamente. Temos más notícias: eles vão irritar-nos muitas vezes.
Quem nunca se perguntou se estará “a criar um monstro” que atire a primeira pedra. É verdade que as atitudes e os comportamentos dos nossos filhos nem sempre correspondem ao politicamente correto, e muito menos ao que nós próprios esperamos. Imaginamos filhos perfeitos, fruto dos ensinamentos que com eles partilhamos, dos esforços que desenvolvemos diariamente. Temos más notícias: eles vão irritar-nos muitas vezes.
A primeira boa notícia é que acontece a todos os pais, inevitavelmente, numa fase ou noutra do crescimento. A segunda boa notícia, e talvez a mais importante, é a de que, afinal, muitas das coisas “más” que os nossos filhos fazem são reflexo de um nível cognitivo acima da média e de um desenvolvimento precoce. São, no fundo, sinais positivos de que, bem orientados, e ainda que sem contrariar as suas manhas, estarão no bom caminho para a construção de um futuro brilhante.
As crianças que mentem são mais inteligentes.
Romeo Vitelli, do Psychology Today, é quem o diz.
Vamos por partes.
Todos sabemos que a mentira é um clássico da natureza humana. Na escola, aos pais, em ambiente de trabalho, mentiras piedosas, esquemas fraudulentos, traições, “mentirinhas sem importância”, enfim, o leque é infinito e todos falhamos à verdade em algum momento das nossas vidas.
A capacidade humana de elaborar uma mentira é desenvolvida por volta dos 2 anos – Charles Darwin defendeu-o já em 1877. Normalmente, acaba por acontecer por volta dos 4 anos, a fase em que a criança já tem uma maior percepção da realidade do “outro”, podendo mascarar melhor a mentira.
No entanto, os psicoterapeutas afirmam que a primeira mentira é um marco do desenvolvimento intelectual de uma criança e deve ser celebrado, por mais frustrante que possa parecer. Se a criança começar a mentir ainda mais cedo, então, “melhor” ainda: mentir desde uma tenra idade é um sinal de que a criança é excepcionalmente capaz de tarefas cognitivas complexas.
Mentir é algo difícil de fazer: é necessário suprimir insitintos de forma a atingir um objectivo, construir a realidade de forma diferente daquela a que nos habituámos e memorizar todos os detalhes para conseguir manter a versão. Uma criança que o consegue fazer com sucesso está, por isso, a demonstrar um enorme potencial.
É óbvio que este potencial deve ser redireccionado de forma a não educar através de ou pela mentira. No entanto, se uma criança mente, isso não significa obrigatoriamente que estamos na presença de um criminoso, e sim que a criança está a ficar um pouquinho mais inteligente.
Crianças teimosas transformam-se em adultos mais ricos.
A teimosia das nossas crianças pode levar-nos a um estado de quase loucura, mas há estudos que defendem que esta é uma característica que as pode ajudar a ser bem sucedidas na vida.
Esta investigação, prolongada durante várias décadas, acompanhou 700 crianças. Estudaram os traços mais fortes da sua personalidade aos 9 anos e as suas conquistas aos 40. Aqueles que enriqueceram? Os mais teimosos, os que contrariaram as regras e fizeram ouvidos de mercador às ordens dadas pelos pais.
A justificação é óbvia: a teimosia leva-nos sempre a procurar mais, a não desistir dos nossos objectivos. Torna-nos competitivos e ambiciosos.
Por isso, incentive sempre os seus filhos a lutar pelo que querem, e nao lhes corte as asas. Não totalmente, pelo menos…
Falar com amigos imaginários ajuda as crianças a resolver problemas.
Ver a sua criança a falar para a parede lembra-lhe cenas do filme O Sexto Sentido? Não se preocupe, o seu filho não vê pessoas mortas, é apenas criativo e está a explorar a sua imaginação!
Ter amigos imaginários é, aliás, benéfico para a saúde mental da criança, que não está apenas a brincar: está a desenvolver também competências de raciocínio e de “falar sozinho” de forma a enfrentar os problemas e, assim, descontrui-los.
Catarina Rosário, psicóloga clínica da Oficina de Psicologia, já lançou o voto de calma: “Não se preocupem, pais! Ter um amigo imaginário é normal e saudável. Além de desenvolver capacidades de criatividade e imaginação, ajuda na expressão e regulação emocional. Muitas vezes, as crianças desabafam com o “amigo” alguns dos seus medos e preocupações”.
Também a psicóloga clínica Sandra Azevedo escreveu para a Pumpkin alguma dicas sobre como lidar com os amigos imaginários, e alerta: “Um amigo imaginário não é o mesmo que alucinações: a criança conversar ou agir como se o seu amigo imaginário existisse na realidade nada tem a ver com alucinações ou estados psicóticos. A criança está tão somente a fazer o mesmo que faz quando imagina que está a conversar com o médico quando leva a sua boneca ao médico, por exemplo”.
Estas crianças estão a desenvolver uma competência chamada “discurso privado”, que ajuda a controlar o próprio comportamento (“tem calma, Josefina, tem calma”), a resolver tarefas complicadas e a regular as emoções, ao mesmo tempo que fortalecem a memória e a imaginação.
Crianças aventureiras tomam melhores decisões.
O The Guardian publicou um estudo que defende que as crianças precisam do perigo e da adrenalina para ser adultos mais competentes. Proibir actividades de algum risco – como correr, subir árvores ou andar de bicicleta – de forma a proteger os nossos filhos pode, na verdade, prejudicá-los a médio/longo prazo.
Não adianta de nada trancá-los em casa. Se tiverem que cair ou magoar-se, não estão livres desses perigos trancados entre quatro paredes. Crianças que brincam de forma mais “perigosa” estão a cumprir, na verdade, a sua programação genética. Tal como os animais selvagens, estão a aprender a regular o medo e a raiva, e a responder de forma adequada ao perigo.
Sem brincadeiras perigosas, as crianças não desenvolvem estas habilidades, acabando por crescer mais ansiosos e menos capazes de tomar decisões difíceis.
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