O papel do mindfulness na vida das crianças

O papel do mindfulness na vida das crianças

O papel do mindfulness na vida das crianças

A equipa da Oficina de Psicologia, pelas palavras da Psicóloga Inês Custódio, fala-nos de uma atitude de vida mais tranquila, longe dos pensamentos pré-concebidos do dia a dia, e de como implementar o “mindfullness” na vida das crianças. 

Existe um exercício de mindfulness que habitualmente realizamos com os adultos e as crianças que nos procuram. É um exercício de comer em modo mindful que explicamos assim:

Vamos imaginar que caímos de marte neste preciso momento e que somos marcianos a explorar a terra. O que está à nossa volta é-nos desconhecido e estamos curiosos para aprender mais sobre este planeta. Depois é dado um pequeno alimento que caiba na palma da mão de cada pessoa e, tal como marcianos que nunca viram esse alimento, devemos explorá-lo com os cinco sentidos (visão, tato, olfato, audição e paladar).

Se pensarmos sobre este pequeno exercício a verdade é que ele não é nada de novo ou extraordinário mas, ao mesmo tempo, tem algo de especial que nos ajuda a vivê-lo como uma experiência diferente. Isto acontece, porque nos ajuda a libertar (mesmo que por breves momentos) das nossas certezas, pensamentos pré-concebidos sobre o mundo e a “desligar” a forma automática como muitas vezes vivemos a vida. Fazemos assim, do simples ato de comer uma coisa nova e mais rica do que o habitual.

A questão está então no porquê de termos de nos imaginar marcianos ou termos de desligar o interruptor do “sei tudo” para termos um momento mindful?

A resposta é simples: porque o nosso cérebro está desenhado para acumular certezas, para conhecer e catalogar o mundo de forma a tornar tudo mais previsível e seguro. Por isso, já em adultos temos de fazer o esforço de treinar a nossa mente para estarmos plenamente no presente sem estas certezas a afastar-nos desse momento.

Porém, ao contrário dos adultos que já temos um grande saco cheio de certezas, as crianças estão ainda a apalpar terreno, são ainda verdadeiros marcianos na descoberta, por isso é fácil vermos uma criança maravilhada a seguir um carreiro de formigas, a ver uma planta nova, a mastigar devagarinho uma fruta que desconhecia… está a apreciar o momento com os seus sentidos, está a descobrir! O problema é que à medida que surgem novos desafios e aprendizagens, o cérebro vai assumindo estas coisas como habituais e não vê necessidade de lhes dar atenção. A criança já sabe que não gosta de manga e de qualquer fruto novo que se possa parecer com manga, por exemplo, tal como já sabe que existem milhares de formigas todos os dias em todo o lado. Então aos poucos, a criança deixa de olhar para as coisas como se fosse a primeira vez, vai perdendo a curiosidade, começa a dar mais atenção ao que a cabeça pensa, assumindo que isso é o mais importante. Com o tempo pode tornar-se mais ruminativa, por exemplo sobre o teste desta semana, começa a sentir as emoções de forma mais intensa e a ter mais dificuldade em lidar com elas, começa a estar mais afastada das suas sensações corporais… Tudo porque o saco das certezas está cada vez mais cheio e a cabeça está cada vez mais ocupada com outras coisas!

Por isso, contrariar esta programação cerebral desde cedo, tem impacto não só na forma como a criança consegue estar atenta ao presente, ser curiosa sobre o que está à sua volta, sem ter de julgar tudo como bom ou mau, mas também na forma como vai também conseguir lidar com as emoções e como vai crescer para adolescente e adulto que consegue deixar as certezas de lado em alguns momentos. A partir de coisas tão simples, que já existem na natural curiosidade de ser criança, podemos ajudar a criança a ser mais mindful, mais tranquila, mais feliz!

Aí em casa pode ajudar:

  • Utilizando o exercício do marciano nas refeições.
  • Tornando as próprias refeições diferentes, utilizando alimentos novos e desconhecidos.
  • Estimulando o envolvimento da criança em atividades manuais (cortar papel, desenhar, moldar barro, cozinhar…), em vez de tempos longos em frente à televisão.
  • Terem tempos de passeio diários (ou pelo menos semanais) pela rua, simplesmente para observar novos sítios e novas coisas.
  • Calma e tempo para as tarefas rotineiras, como lavar os dentes ou tomar banho, dando espaço para a criança fazer a tarefa com atenção e cuidado.
  • Jogos que estimulem a atenção no momento presente, tão simples como, por exemplo, descobrir o máximo de coisas novas no caminho para a escola.
  • Aprender a ter espaço para respirar. Não é preciso fazê-lo de forma especial, basta apenas lembrar a criança antes de adormecer que pode ver como é que o seu corpo respira e como é que a barriga mexe.

Depois… Bem depois utilize a sua super imaginação de pai, pois em todos os dias existem coisas novas ou formas novas de fazer as coisas de sempre. 😉

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