As crianças precisam de ser ouvidas.
Ou melhor, as crianças não precisam de ser simplesmente ouvidas, mas que escutemos com atenção o que têm a dizer. Quem o diz é Inês Custódio, Psicóloga Clínica na Oficina de Psicologia.
Falo deste tema, porque a um ritmo acelerado, muitas vezes subvalorizamos as conversas que temos as crianças. Não damos tanta atenção a estes momentos porque afinal de contas elas “nem sabem ter conversa de gente adulta” e divagam sobre temas “pouco interessantes” para nós. Estes pensamentos até pode ser verdade, porém o que importa não é o tema da conversa, mas o ato de conversarmos com elas.
Então porque havemos nós de entrar nas divagações sobre o que a Gata borralheira fez depois do baile? Ou porque é que devemos escutar a descrição pormenorizada de como o João aprendeu a fazer uma finta?
A verdade é que conversar é tão natural e necessário para nós humanos, que se tornou uma das mais importantes formas de nos relacionarmos e criarmos vínculos emocionais. Se o contacto físico é o princípio do vínculo entre pais e filhos, a comunicação dá continuidade a esse vínculo e é um preditor da relação que vamos ter com os filhos.
Assim, ao ouvirmos atentamente a crianças, estamos a dizer-lhes “Tu és importante” e a mostrar-lhes que as valorizamos e que as levamos a sério, por isso estamos disponíveis para elas. Nestes diálogos, estamos também a ajudá-las a resolver problemas e a esclarecer dúvidas, estamos a ajudá-las a falar e a lidar com emoções e a ensiná-las a escutar os outros (incluindo a nós).
Porém, apesar das nossas melhores intenções, por vezes não é fácil ter esta disponibilidade e conseguir escutar o que as crianças à nossa volta têm para dizer.
Por isso mesmo, deixo algumas palavras que podem ajudar:
Esforço: No início pode ter de fazer um esforço para ter tempo, para estar, para acompanhar a conversa, mas valerá a pena.
Atenção: Por vezes, apesar da intenção de darmos um tempo à criança, a nossa mente começa a divagar por outros assuntos que consideramos “mais importantes” e sem darmos conta, já nos perdemos e já não estamos a escutar… Para estar mais presente, procure tirar alguns momentos para refletir sobre as suas próprias questões sozinho(a), para encerrar um dia de trabalho, para organizar as tarefas a fazer… resulta bem antes de ir buscar as crianças à escola ou antes de as deitar, por exemplo. Desta forma, estará mais disponível e atento enquanto conversam.
Curiosidade: Curiosidade pelas vivências da criança. Questione, procure perceber e deixe de lado as suas “certezas” ou a ideia de que o adulto sabe tudo. É importante sermos humildes para ouvirmos realmente e para compreendermos, principalmente quando a criança tem algo mais sério a dizer (e sim, a discussão com a melhor amiga, pode ser um tema sério e importante para qualquer menina).
Alinhe: Entre no tema da conversa, não tem de inventar nada, pois mesmo quando não souber muito sobre o tema, pode sempre pedir que ela lhe explique. E se forem fantasias ou “tolices”, procure aquela parte de criança dentro de si e entre na conversa. Por vezes é só uma conversa divertida.
Iniciativa: Não deixe que seja sempre a criança a procurá-lo(a) para conversar ou para perguntar algo. Aproveite momentos em que ela está a brincar ou a ver um desenho animado, para se sentar perto dela e perceber o que ela está a fazer.
Respeite: Com a iniciativa vem também o respeito pelos momentos em que a criança não quer falar. É importante dar-lhe tempo, espaço e aceitar que nem sempre terão de falar sobre tudo (afinal de contas o nosso espaço pessoal é muito importante). Respeite também quando a criança lhe contar algo que não quer que partilhe com mais ninguém, afinal de contas ela está a confiar em si.
Cumpra: Se, por outro lado, a criança pede para falar consigo num momento em que está noutra tarefas (e as crianças adoram chamar repetidamente por nós quando estamos a falar com outra pessoa), diga-lhe que a ouvirá em seguida e cumpra isso.
Sinceridade: Seja sincero nas suas opiniões, nos seus cometários e até sobre os momentos em que não estava a ouvir, em que se distraiu ou em não compreendeu algo. As crianças são pequenas, mas percebem perfeitamente quando não estamos a ser verdadeiros.
Boas conversas!
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