Mãe, porquê? Porquêêêêê?
Há uma fase na infância em que as crianças demonstram enorme curiosidade e fazem significativamente mais perguntas aos adultos. Nem sempre os pais têm à mão respostas imediatas e as questões são tão ingénuas ou complexas que provocam tanto reações de risos como de evitamento. A Psicóloga Clínica Raquel Carvalho da Equipa Mindkiddo – Oficina de Psicologia dá-nos a resposta a todos estes “porquês?”.
A clássica idade dos porquês surge por volta dos três/quatro anos, embora possa surgir mais tardiamente, dependendo da estimulação e capacidade intelectual de cada criança entre outros fatores ambientais e familiares. É nesta altura que as crianças conseguem observar e sentir muito mais estímulos do que os conseguem entender. Desta forma, sentem necessidade de procurar informação e naturalmente as perguntas vão-se multiplicando sobre variadíssimos temas.
Porquê tantos porquês?
A criança começa a ter noção do seu próprio eu, quer perceber-se a si mesma, sente necessidade de compreender os outros e o mundo que a rodeia. Mas antes de saber falar, a curiosidade já existe e manifesta-se de um modo mais elementar, de forma sensorial. À medida que cresce, desenvolve a fala e é mais eficiente na comunicação, começa a questionar os outros sobre tudo o que quer compreender.
Primeiramente, a curiosidade é formulada através do nome das coisas (o que é isto?). Posteriormente, a criança começa a perceber que existe uma relação de causa e efeito entre as coisas, passa a questionar sua funcionalidade e causalidade (porquê?).
As perguntas vão desaparecendo à medida que a criança vai assimilando, descobrindo e compreendendo as coisas.
Quais os benefícios desta fase?
– Estimulação da vontade de aprender, de descobrir coisas novas, de estar atenta ao que a rodeia.
– Compreensão de si, dos outros e do mundo.
– Estimulação das suas capacidades cognitivas.
– Quando validada nas suas perguntas, a criança é encorajada a não ter receio de questionar quando tem dúvidas, o que será uma mais-valia no seu futuro escolar e pessoal.
Como deve reagir a tantas perguntas para que esta fase seja benéfica?
– ter uma boa dose de paciência e manter a calma, ouvir a criança com atenção e não gozar com ela.
– lembrar-se que a criança não está a tentar ser chata propositadamente.
– responder da forma mais simples possível e adequada à sua idade e/ou maturidade. Por exemplo, se a criança vem com a famosa pergunta de onde vêm os bebês, os pais devem responder: ‘Vêm da barriga da mamã’. Muitas vezes, isso é suficiente. Não é necessário responder nada que a criança não esteja a perguntar.
– se o adulto não estiver certo da resposta, deve dizer que não sabe, que vai pensar e pesquisar e que depois lhe responderá, devendo cumprir a sua palavra.
– procurar as respostas em conjunto nos livros ou internet. Assim, terão uma oportunidade de interagir positivamente e reforçar a vinculação entre pais e filhos.
Que comportamentos não deve ter nesta fase?
– Por mais saturado que esteja, não deve ignorar as perguntas ou mandar calar a criança. É preferível combinar com ela que depois do jantar lhe responderá com mais calma. Se é travada no momento em que faz perguntas, pelas pessoas em quem mais confia, poderá sentir-se desvalorizada e até perder o interesse e vontade de descobrir coisas novas. E em futuros momentos do seu processo de aprendizagem poderá não questionar ou tirar dúvidas por medo ou insegurança, ou por achar que não é pertinente.
– evite dar respostas muito longas e elaboradas.
– não dar respostas antes de a criança fazer as perguntas, pois se a criança ainda não abordou ou assunto, respeitemos o seu ritmo.
– não dar respostas incorretas ou fantasiosas. Quando descobrir a verdade, a criança ficará confusa e poderá até perder parte da confiança que tem na pessoa que lhe respondeu inicialmente.
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