Olha os namorados, primos e casados, foram à… ou nem por isso? Nem por isso.
É natural que as abobrinhas queiram replicar os nossos comportamentos e padrões: afinal, os pais e restantes adultos de convivência diária são a sua maior fonte de aprendizagem e inspiração.
Na lista de “coisas-giras-que-os-crescidos-fazem” estão andar de salto alto (quem nunca apanhou uma criança minúscula a passear-se nuns saltos que levante a mão), usar maquilhagem, falar ao telemóvel, conduzir e… namorar.
No entanto, cabe-nos perceber quais os limites e passá-los aos nossos filhos, de forma gentil e pedagógica. Não vamos entregar a uma criança de 5 anos a chave do carro, não é? A mesma coisa acontece com os “namoradinhos”. Romantizar as interações infantis, dando-lhes um cariz adulto, pode afetar o desenvolvimento adequado das crianças.
Então, Sofia, conta lá à avó, já tens namoradx na escola?
Não. Se andar na creche, frequentar o primeiro ciclo ou estiver no 6º ano, a Sofia tem amigos, rapazes e raparigas de quem gosta e com quem passa tempo, brinca e troca confidências. Estas relações são puras, especiais e o alicerce da confiança futura das crianças, pelo que devem ser incentivadas da forma correta.
Não podemos comparar uma relação entre crianças, onde a intimidade física é parca (dar as mãos, abraçar, beijos na cara e nada mais) com um namoro tradicional entre adultos, até porque, indiretamente, podemos estar a normalizar situações que não queremos que eles assumam como possíveis. Há uma regra que as crianças precisam conhecer – a Ninguém Toca Aqui, seja “alguém” da sua idade seja alguém mais velho.
O desenvolvimento acontece de forma natural, no seu tempo: não saltem etapas

Todos sabemos, mas voltamos a reforçar: as crianças não estão preparadas para receber esses estímulos, não neurologicamente, e muito menos fisiologicamente.
Só a partir da puberdade, em média, por volta dos 12 anos, é que a criança, já adolescente, consegue entender o que representa um namoro ou um relacionamento, e mesmo assim podemos considerar que é uma fase precoce para o viver. Às vezes, achamos tão “querido” o relacionamento entre as crianças que incentivamos, sem ter essa noção, o estímulo emocional ainda antes de o corpo estar preparado.
Na verdade, por espontânea vontade ou incentivada, uma criança que diga que tem algumx “namoradinhx” está a desenvolver-se de forma natural. Entre os 3 e os 6 anos, as crianças emergem no mundo sensorial, percebem a diferença entre géneros e começam a entender-se como um ser independente dos pais.
Lembram-se daquela fase em que elas diziam que queriam casar com o pai ou com a avó? Já era. Mas esta fase de descobertas, biológicas e anatómicas, não é erotizada e a criança não tem nenhum entendimento sobre sexualidade – a sua ou a dos outros.
É perfeitamente natural que a curiosidade pelo outro se aguce nesta fase, e não devemos proibí-la (sabem o que dizem sobre o fruto, não é?), mas menos ainda incentivá-la.
Uma boa comunicação é essencial e parte de nós o estabelecer dos conceitos. Como?
- Cortem o termo “namoradx” das conversas com as crianças e substituam sempre por amigx;
- Peçam aos restantes adultos para fazer o mesmo;
- Não reprimam manifestações de afetividade – mostrem simplesmente o que é permitido;
- Não criem tabus: falar sobre o assunto naturalmente, e com uma linguagem adequada à idade da criança (não falamos da mesma forma com um menino de 5 anos e uma menina de 10), evita que eles procurem descobrir por si, e da forma errada.
- Eduquem meninas e meninos da mesma forma – os meninos não têm que ser garanhões, as meninas não têm que ser castas, ambos têm que ser crianças e, a seu tempo, pessoas emocionalmente responsáveis;
- Não nos podemos esquecer de que as crianças agem por imitação, refletindo o que veem no seu convívio diário, por isso evitem dar-lhes estímulos desnecessários, o que não significa ser tábuas sem sentimentos à sua frente. As crianças querem dar beijos, abraços e “namorar” porque convivem com casais e reproduzem esses comportamentos – não é desejo ou uma emoção muito clara. Deem amor de outras formas.
Suspeitam de comportamentos indevidos?
Tentem não tirar conclusões precipitadas com base em informação insuficiente ou pouco clara.
Conversem com os responsáveis escolares se x vossx filhx comentar que na escola outra criança lhe tocou/levantou a saia/beijou, e expliquem à criança que não são comportamentos a repetir ou permitir.
Caso no comentário ou queixa esteja implícito o envolvimento de uma pessoa mais velha (no universo escolar ou não, atuem para imediatamente apurar os factos e agir em conformidade).
Garantam à criança que vão fazer alguma coisa e contactem alguém que bos possa ajudar, por exemplo, um psicólogo, um educador, um médico, um assistente social ou a polícia.
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Muito interessante e educativo.
Obrigada pelo feedback, Maria Candida!
Beijinhos abobrinhas 🙂
Muito interessante a forma como abordar este tema, obrigada
Agradecemos as palavras, Graça.
Saudações abobrinhas 🙂
Parei de ler o artigo (cujo tema me interessa profundamente) quando vi um X a substituir a/o.
Entendo a necessidade da não discriminação mas este caminho de mudar a língua é uma batalha vazia.
Andar às voltas com a gramática para parecer inclusivo é inútil e esta professora explica muito bem porquê:
PROFESSORA DE PORTUGUÊS DANDO AULA
(Texto de Vivian Cabrelli Mansano)
“Não sou homofóbica, transfóbica, gordofóbica.
Eu sou professora de português.
Eu estava explicando um conceito de português e fui chamada de desrespeitosa por isso (ué).
Eu estava explicando por que não faz diferença nenhuma mudar a vogal temática de substantivos e adjetivos pra ser “neutre”.
Em português, a vogal temática na maioria das vezes não define gênero.
Gênero é definido pelo artigo que acompanha a palavra.
Vou mostrar pra vocês:
O motorista. Termina em A e não é feminino.
O poeta. Termina em A e não é feminino.
A ação, depressão, impressão, ficção. Todas as palavras que terminam em ção são femininas, embora terminem com O.
Boa parte dos adjetivos da língua portuguesa podem ser tanto masculinos quanto femininos, independentemente da letra final: feliz, triste, alerta, inteligente, emocionante, livre, doente, especial, agradável, etc.
Terminar uma palavra com E não faz com que ela seja neutra.
A alface. Termina em E e é feminino.
O elefante. Termina em E e é masculino.
Como o gênero em português é determinado muito mais pelos artigos do que pelas vogais temáticas, se vocês querem uma língua neutra, precisam criar um artigo neutro, não encher um texto de X, @ e E.
E mesmo que fosse o caso, o português não aceita gênero neutro. Vocês teriam que mudar um idioma inteiro pra combater o “preconceito”.
Meu conselho é: ao invés de insistir tanto na coisa do gênero, entendam de uma vez por todas que gênero não existe, é uma coisa socialmente construída.
O que existe é sexo.
Entendam, em segundo lugar, que gênero linguístico, gênero literário, gênero musical, são coisas totalmente diferentes de “gênero”. Não faz absolutamente diferença nenhuma mudar gêneros de palavras. Isso não torna o mundo mais acolhedor.
E entendam em terceiro lugar que vocês podiam tirar o dedo da tela e parar de falar abobrinha, e se engajar em algo que realmente fizesse a diferença ao invés de ficar arrumando pano pra manga pra discutir coisas sem sentido.”
Olá, Miguel.
Obrigada pela sua partilha construtiva, é um bom ponto de vista.
Esperamos que apesar de o artigo ter esta abordagem algo controversa faça sentido e contribua na mesma para um tema que achamos importante, e que dê continuação a vários debates muito necessários, entre eles este da questão dos pronomes neutros, particularmente desafiante na Língua Portuguesa.
Saudações abobrinhas 🙂
Muito obrigada pela clareza e suave alerta para os perigos da sexualização precoce de crianças.
Lembro-me de esbarrar há +11 anos com um livrinho colorido e apelativo, para a idade pre-escolar, do plano nacional de leitura, à venda nos CTT, que me deu a volta ao estômago de tão gráfico e descontextualizado de conteudo. PERIGO! Expor levianamente crianças pequenas a curiosidade e brincadeiras imaturas pode ter consequências graves!! Children see, children do!
Por favor protejam e promovam a sã inocência e bondade das crianças.
Têm tempo para crescer e ser adultos saudáveis e responsáveis.
Agradecemos a partilha, Inês.
Beijinhos abobrinhas 🙂
Boa tarde,
Achei muito interessante o artigo. Cá em casa, também dizemos meninos (com “os” e nunca com x) não namoram, brincam. Embora a minha filha tenha um “namorado” desde os 5 anos (agora tem 9) e confesso que não é muito fácil não dar importância. Vamos gerindo o melhor que sabemos.
E concordo completamente com o Miguel: X? Quanto mais categorizamos menos empáticos nos tornamos.
Olá, Ana.
Obrigada pela sua partilha e opinião, que teremos em consideração.
É um tema complexo, mas sobre o qual estamos sempre dispostos a ouvir e a aprender.
Saudações abobrinhas 🙂