Falar de Foco das crianças na Escola: pensar com os pés assentes no chão e a cabeça longe da lua
“Neste ano letivo não quero recados sobre faltas de atenção.”, dizem alguns pais. “Neste ano, vou concentrar-me mais nas aulas.”, prometem os filhos. Já sabem como ajudar a sua criança a trabalhar o foco de atenção na escola?
Inês Afonso Marques, Psicóloga Clínica e Coordenadora da equipa infanto-juvenil da Oficina de Psicologia, partilha estratégias para potenciar o foco das abobrinhas na escola.
Mas porque é que parece que os miúdos andam sempre de cabeça no ar?
A quantidade de nova informação, proveniente de várias fontes, a que as crianças têm acesso diariamente e a também quantidade e variabilidade de estímulos distratores que as crianças têm em seu redor propicia o viver dos dias com a cabeça no ar e no meio de correrias. Com o avanço da ciência e da tecnologia o conhecimento evolui a uma velocidade enorme e o acesso a novas informações faz-se de forma rápida e facilitada. As crianças de há 20 anos não se distraiam com o barulho do trânsito, o som dos aviões (porque era de facto um tráfego menor), um estojo cheio de canetas de todas as formas e cores (a oferta hoje é maior do que nunca), com a televisão, o telemóvel e o mundo à distância de um click…
Não será generalizável a todas as famílias nem a todas as escolas, mas a nossa sociedade é uma sociedade de ritmo acelerado, onde os estímulos proliferam, onde a pressão para se ser mais e melhor num grande número de coisas existe, pelo que os pais serão os principais guias para a criança.
Crianças aceleradas são crianças tendencialmente mais ansiosas. Ora se a ansiedade domina o seu corpo e os seus pensamentos, será mais difícil focarem a atenção.
Comparando o cérebro a uma janela de um browser de internet com muitas janelas abertas em simultâneo (tenho o trabalho de ciências para entregar amanha, não me posso atrasar para o judo, tenho que responder à mensagem do João, não me posso esquecer de fazer a cama e estender a roupa que a mãe pediu, “E agora o que vou dizer à Ana que acabou com o namorado?”, “Porque é que a Rita agora não fala comigo?”, “Será que se tiver boas notas posso ir passar férias com os meus amigos?”…), a dispersão pode ser enorme e, portanto, a capacidade de foco diminui.
Os pais podem ajudar a treinar o músculo da atenção, no dia a dia?
Enquanto pais podemos dar importantes contributos para a capacidade de desacelerar e para a capacidade de manter o foco. Em jeito de brincadeira diria que, para começar, os pais podem definir os despertadores para 15 minutos mais cedo, para que o início de dia das crianças não comece com correrias e stress, para não se chegar atrasado (digo isto porque é uma queixa de muitos pais em consulta e que se resolve com esta pequena diferença no despertador).
Depois, é fundamental não nos esquecermos que os adultos são modelos para as crianças. Como é que gere as suas solicitações quotidianas? Faz o jantar, responde a emails de trabalho, dobra roupa, brinca com o bebé e ajuda o mais crescido a fazer os TPC, enquanto a televisão está ligada num canal de notícias? Ou consegue gerir o tempo de forma mais eficiente? Como encontra momentos de pausa, de maior consciência no momento presente, no decorrer da azáfama? Senta-se 5 minutos quando chega a casa a relaxar e simplesmente não fazer nada a não ser ganhar consciência da respiração, do corpo, em contacto com a cadeira? E inicia depois outro tipo de atividades, evitando ser como um “polvo” com vários braços a trabalhar simultaneamente em áreas diferentes? Ou mantém um ritmo TGV até ir dormir?
Não é suposto exigir-se a uma criança que seja reflexiva, ponderada, que esteja quieta o tempo todo e que seja um primor no capítulo do planeamento e organização. As áreas cerebrais envolvidas na capacidade de regulação emocional, autocontrolo e planeamento motor, só se desenvolvem já perto da idade adulta! O crescimento é a oportunidade para se irem treinando competências, desenvolvendo músculos (incluindo o da atenção) sem que se exija a mestria em crianças pequenas.
Uma criança que se concentra é uma criança mais feliz?
Estar concentrado é estar mais consciente da experiência que se está a ter – seja uma leitura, uma aula, um passeio, uma refeição, um abraço… Havendo maior contacto com a experiência há maior possibilidade de se regularem de forma mais consciente comportamentos e emoções. E isso pode ser um dos múltiplos fatores associados ao bem-estar.
Ensine ao seu filho que a sua mente é como um cachorrinho brincalhão
Já reparou que a sua mente é como um cachorrinho brincalhão? Está concentrado numa determinada tarefa e, de repente, pufff! A mente correu para outro local, tal como o cachorrinho percorre agitadamente o espaço, saindo do seu campo de visão.
Explique ao seu filho que a sua cabeça (os seus pensamentos) é como esse pequeno cãozinho: é curiosa, gosta de explorar e nem sempre quer seguir as orientações que lhe damos. Muito semelhante a quando dizemos ao cachorro “senta” e ele desata a correr atrás de uma borboleta. Explique ao seu filho que zangar-se com o cachorrinho apenas o assustaria, porque ele ainda está a treinar a ser obediente. Ele não faz por mal. Ele quer apenas descobrir o que o rodeia. Tal e qual o que a nossa mente faz.
Então, sugira ao seu filho que sempre que ele repara que os seus pensamento fugiram para longe – como quando está a ver um filme no cinema e subitamente “desliga” do ecrã e fica a pensar na loja que quer visitar em seguida ou na amiga a quem quer telefonar a contar as últimas novidades – se imagine a reconduzi-los gentilmente para “aqui” tal como se estive a puxar a trela do cachorrinho brincalhão para junto de si.
Que o regresso às aulas seja feito com tranquilidade e que marque o início de muitas descobertas em relação ao “eu” e ao mundo.
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