E qual a diferença entre lembranças, prendas e presentes, afinal?
Há uma diferença grande entre lembranças, prendas e presentes. Quem o diz é Eduardo Sá, psicólogo clínico, psicanalista, professor e escritor – e uma voz poderosa na quebra de tantas ideias pré-concebidas sobre felicidade, famílias, educação e amor.
Na verdade serão, “tecnicamente”, gestos muito bem embrulhados em afecto que algumas pessoas, importantes para nós, fazem questão de nos dar. Mas, por mais que haja quem os confunda, lembrança, prenda e presente são coisas muito diferentes.
Ao contrário dos avisos com que as pessoas nos advertem, sempre que nos dão uma lembrança, aquilo que separa lembrança, prenda e presente não é o valor pecuniário de cada um. Mas o seu valor “simbólico” .
Quando alguém nos oferece seja o que for, esse gesto acaba por ser sempre uma “prova de vida” em relação ao nosso lugar dentro dessa pessoa. O “lado simbólico” daquilo que nos oferecem é esse: sermos tão preciosos e tão indispensáveis para uma pessoa que, seja a pretexto da data que for, ela faz questão de nos dizer, com aquilo que nos oferece, que não se esquece de nós. É “o lado simbólico” daquilo que nos oferecem que nos dá mais vida.
Já as prendas são, também elas, formas de mimarmos uma pessoa. E, regra geral, acabamos todos a dar-lhes, implicitamente, uma dimensão muito mais significativa do que aquelas que atribuímos às lembranças.
Mas nem sempre uma prenda é um presente. Há, aliás, muitas prendas que são a prova inequívoca que as pessoas que são preciosas para nós não nos conhecem. Às vezes, quando as prendas são muito “ao lado” daquilo de que mais gostamos, fica claro que as pessoas que as oferecem confundem os seus gostos com os nossos o que, por outras palavras quererá dizer, que o quanto somos preciosos e importantes e, ao mesmo tempo, o quanto nos acham estranhos e desconhecidos para si.
Com os presentes tudo se passa de maneira diferente. Um desejo é um segredo, claro. Na verdade, um presente só é um presente quando traz à luz um desejo. É por isso que um presente não é bem uma forma de alguém nos dizer que não se esquece de nós.
Mas, antes, um modo de afirmar que não só se lembra sempre de nós como, “dentro” daquilo que nos oferece, acaba por concretizar a forma como reivindica para si o engenho de nos conhecer melhor, ainda, do que nós nos conhecemos a nós próprios. Um presente é – sempre! – um gesto de reconhecimento.
Uma forma de alguém nos dizer que, independentemente de tudo aquilo de que gosta, não só não nos esquece como nunca nos confunde consigo. Sempre que alguém vem ao encontro dos nossos desejos, aquilo que nos oferece é uma “prova de amor”.
No entanto, é um bocadinho dramático que, chegados ao Natal, aquilo que seriam várias “provas de amor” se transformem, quando muito, em “provas de vida”. Eu acho que não são os ressentimentos que acumulamos que nos fazem viver o Natal ora tristonhos ora enfadados.
É claro que os ressentimentos ajudam a tornar o Natal um bocadinho mais “escuro” e menos “luminoso”. Mas aquilo que faz com que o Natal se torne muito mais triste do que todos gostaríamos que ele fosse é o mal-estar de acabarmos sempre à espera que cada presente se resuma a uma simples lembrança. Aquilo que mais magoa é que “provas de amor” se transformem, quando muito, em “provas de vida”.
Devia ser obrigatório escrever ao Pai Natal para prevenir decepções? Nem por isso. Devia ser obrigatório que quem nos ama não precisasse de cartas para nada. Mas não deixasse de ser cuidadoso ao perceber que todos os verdadeiros presentes são surpresas e, ao mesmo tempo, nos fazem sentir “velhos conhecidos”.
E que só quando alguém liga desejo e segredo, e surpresa e reconhecimento o Natal é um milagre. De Natal.
Tudo para um Natal feliz em família:
- Receitas de Natal deliciosas para uma mesa cheia de amor.
- Decoração de Natal: preparem a casa para a quadra mais mágica do ano!
- Postais de Natal: criem o vosso e enviem-no… por correio!
- Vivam o Natal em família: são muitas as atividades para fazer com os miúdos no mês de Dezembro
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