A sério?!
Eduardo Sá é psicólogo clínico, psicanalista, professor e escritor – e uma voz poderosa na quebra de tantas ideias pré-concebidas sobre felicidade, famílias, educação e amor. Neste mês tão especial, ele devolve-nos… a fé.
1. Não sei se devia ser eu a dizer-vos mas, na verdade, as crianças não acreditam no Pai Natal
E não imaginam que cento e muitos quilos de ternura, uns pares de renas, algumas toneladas de presentes e o trenó voem… Assim, sem uma ventoinha estridente e colorida ou uma qualquer coisa ruidosa que anuncie, desde muito longe, que a bondade das pessoas está, outra vez, mais ou menos para chegar.
Já agora, as crianças também condescendem a propósito das chaminés (ares condicionados ou exaustores, incluídos). E percebem que se tombassem por elas abaixo todos os presentes do Pai Natal acordariam até os mais rebeldes dorminhocos. Há, portanto, qualquer coisa de muito emaranhado nisto tudo. E eu não entendo que haja quem acredite em histórias batoteiras no espírito do Natal.
2. Imagino que (só) alguém assustadiço vos tenha dito, um dia, que o pai Natal, afinal, era mentira
Pois bem: chegou a altura de falarmos verdade. O Pai Natal… existe! É assim como um avô do céu. Um pai de todos os pais. Um pirata – dos bons! – que resgata os tesouros que os pais escondem, todos os dias, dentro de si, como se fossem tolices de criança.
«Estou triste», «tenho medo» ou «quero colo» são as verdadeiras renas do país do Natal. Mal se balbuciam, mesmo que de forma trapalhona, estas palavras com o seu quê de “abracadabra”, e logo os pais são erguidos (não se sabe por quem) e, em silêncio, o seu olhar pesadão sobrevoa cordilheiras, longos prados, lagos, bosques e outros lugares onde o silêncio os torna mais pensativos e mais bonitos.
E, sem nunca se sair do lugar, é-se levado, até a um mimo farfalhudo que aninha e aconchega. As palavras que nunca nos dizemos são as verdadeiras renas do país do Natal!
Não, quem gosta de nós não surge sempre que precisamos. Na verdade, as pessoas que nos tornam especiais aparecem quando menos as esperamos. E sempre que nos sentem e nos imaginam, enfeitam-nos de luz e são… o Pai Natal. Parece mentira mas é verdade: é o mimo que faz com que seja Natal mais ou menos todos os dias.
3. Não sei se devia ser eu a dizer-vos mas, na verdade, as crianças só acreditam no Pai Natal porque…
… Sempre que dão mimo a essa história batoteira, os pais ganham a luz misteriosa que só as pessoas que confiam nas suas mentiras parecem acarinhar.
E é só porque ficam enternecidas ao roçarem o seu olhar no deles – quando, de língua de fora, fazem as melhores das suas letras, sempre que escrevem ao Pai Natal – que os desculpam, mesmo que alguém lhes tenha já dito, uma e outra e outra vez, que é feio que se minta. Mas os pais ficam presentes tão coloridos quando, um bocadinho atabalhoados, se atropelam nas suas histórias, que o coração duma criança vacila, de ternura.
Então quando mentem sobre renas e chaminés parecem mais pais, quando menos os esperamos, e deixam de ser os mais rebeldes dos distraídos! Se nos faltam as fotografias que podíamos ter deles quando nos fitam como se fossemos o seu presente, é porque tudo o que é mágico (e nos faz sentir especiais) nos enche de enfeites que, mesmo que se arme em atrevida, qualquer película que ouse apanhar-nos de surpresa, se atrapalha com a luz e se comove.
E, logo que se compenetra, já só apanha o rasto que todas as pessoas que se sentem amadas deixam no céu, sempre que sobrevoam as outras que vivem – pesadonas – invejosas por não conseguirem acreditar que cento e muitos quilos de ternura, uns pares de renas, algumas toneladas de presentes e o trenó voam, assim, sem uma ventoinha estridente e colorida.
4. Não sei se devia ser eu a dizer-vos mas, na verdade, o Natal serve para nos rebelarmos contra os dias onde o coração parece ter de bater, unicamente, dentro do peito
E para nos insubordinarmos contra a vida quando ela, vezes demais, não parece enternecer-se. E para falarmos da falta que nos faz um mundo que sorria para nós.
O Pai Natal serve para falarmos de esperança (e da fé) de termos – algures num grão, mais ou menos perdido, do Universo – alguém que nos conheça, nos vire do avesso e, por isso, teime e teime e não desista de fazer de nós o melhor do mundo só para si.
Tudo para um Natal feliz em família:
- Está à procura da prenda de Natal ideal? É para o menino e para a menina, para a mãe e o avô!
- Receitas de Natal deliciosas para uma mesa cheia de amor.
- Decoração de Natal: preparem a casa para a quadra mais mágica do ano!
- Postais de Natal: criem o vosso e enviem-no… por correio!
- Vivam o Natal em família: são muitas as atividades para fazer com os miúdos no mês de Dezembro
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