Sofia Isabel Vieira, autora do projecto Pais com P Grande, fala-nos sobre o Natal e o seu significado, na 1ª pessoa.
Sou só eu que acho que estamos todos tão impregnados nos pormenores dispensáveis do Natal, que quase que nos esquecemos que é Natal?
É a árvore, são as decorações, são os presentes, é a lista de compras para a ceia natalícia, é a toalha de mesa do ano passado que este ano já não serve porque tem uma mancha de vinho, é o centro de mesa, o calendário do advento, a muda de roupa para estrear no dia 25… Enfim, uma check-list interminável de detalhes que, se pensarmos bem, são apenas isso- detalhes!
E nós acreditamos tanto que são estes detalhes que fazem o Natal ser o que é, que não nos damos tempo para silenciar o barulho de todas as coisas supérfluas e sentir a verdadeira essência do Natal.
Talvez o que escrevo esteja na fronteira com o exagero, apesar de eu não ser uma pessoa de radicalismos. Mas é verdade que sempre me preocupei muito com a crescente comercialização do Natal, enquanto época que implica gastar-se mais do que aquilo que se ganha (tantas vezes!).
E não escrevo isto em tom de sonsa, mas antes com o dedo no ar porque também eu me deixei tantas vezes ser levada pela tendência.
Depois de ter decidido ir viver sozinha (há já 18 anos atrás!), e enquanto trabalhava numa valência de apoio a pessoas sem abrigo, descobri o outro lado do Natal. Porque nestas coisas nós sabemos que elas existem mas temos quase sempre de as viver para lhes darmos o devido valor.
O Natal mudou para mim naquele ano, no ano em que o passei a encher balões para decorar uma sala sem qualquer alma para 12 pessoas que não tinham ninguém com quem passar o Natal. N
aquele ano eu nem deveria estar a trabalhar, mas fui voluntáriamente, porque seria cruel comigo mesma ignorar aquilo que senti quando olhei para a miséria nos olhos. E a verdade é que até alguns anos mais tarde, quando me tornei mãe, o Natal foi uma época que sempre me apertou o coração, exactamente pelo significado da mesma, tão bonito mas também tão cheio de hipocrisia.
Depois tive filhos, e desde sempre quis que eles tivessem uma noção mais realista do que é o Natal e do que ele representa. É sempre uma altura difícil, porque é uma luta desenfreada com as nossas famílias e amigos que querem generosamente oferecer prendas aos miúdos, e nós a tentarmos explicar que preferimos que eles tenham apenas um presente.
Em 2013 decidimos até não passar o Natal com as nossas famílias, exactamente porque queríamos que os nossos filhos comprovassem que o Natal não é esta rapsódia de coisas boas para toda a gente.
Que o Natal é o que acontece no coração das pessoas, e algumas pessoas, muitas até, têm tanta dor no coração que não têm espaço para o Natal entrar. Naquele ano voluntariámo-nos para passarmos o dia 25 com 80 pessoas que viviam na mesma vila que nós, mas que por não terem ninguém (nem nada) com quem (que) passar o Natal, vieram almoçar naquele espaço cedido por uma igreja.
O nosso almoço de Natal (que aqui no reino Unido é mais importante do que a ceia de dia 24) foi à mesa com outros seis desconhecidos, homens e mulheres, de idades entre os 18 e os 67 anos, todos com uma história triste para contarem. Naquele almoço a Gabriela, que tinha apenas 3 anos de idade, e o Tiago, ainda um bebé, no sling junto a mim, sentiram que o Natal é como uma casa. Uma casa dos sentimentos. E é nessa casa que temos de deixar entrar sentimentos bons.
Sentimentos verdadeiros. Natal é compaixão. Natal é empatia. Natal é sentir na pele que todos nós, mais ou menos pobres, mais ou menos solitários, mais ou menos errantes nas nossas vidas, temos direito a entrar nessa casa, a sentir a nossa presença nela benvinda, e a termos alguém do outro lado que nos abrace para sentirmos que o nosso coração ainda bate.
E já é quase Natal!
Sofia Isabel Vieira
Aventureira, sonhadora, mãe, autora do projecto Pais com P Grande
Pode ser seguida em www.facebook.com/Paiscomp ou www.instagram.com/Paiscompgrande
Tudo para um Natal feliz em família:
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