Magda Gomes Dias explica porque é que as palmadas não funcionam em 10 pontos que tiram todas as dúvidas
Magda Gomes Dias (Mum’s The Boss e Escola de Parentalidade e Educação Positivas) partilha 10 motivos pelos quais a palmada não funciona:
1. A palmada só tem uma coisa positiva. Qual é ela? Funciona no imediato! As más notícias, quais são? É que funciona a curto prazo, ou seja, funciona naquela situação específica e funciona durante pouco tempo. Porquê? Porque vamos percebendo que não é por bater que o nosso filho não vai fazer aquilo que nós não queremos que ele faça. O bater pouco garante. Ele faz, nós batemos e, naquele momento ele pára. Mas continua dali a uma hora, dali a uma semana ou mês. A má notícia é, portanto, que a palmada não evita o comportamento.
2. Os estudos. Existem muitos estudos que nos provam uma série de coisas acerca da palmada. Um diz-nos que a zona do medo é maior em crianças cujos pais batem (acerca da palmada terapêutica ou sacode o pó, podes ler mais abaixo). Outros estudos dizem que pais que não apanharam quando eram miúdos não têm como opção a palmada porque sentem que isso os desrespeita e desrespeita os filhos. É bom de notar que em lares onde não se usou esta opção, os filhos não a usam mais tarde. Finalmente, comportamento gera comportamento. Qual é que escolhe?
3. Bato em ti porque bateste no teu irmão. Não deixa de ser uma frase irónica e hipócrita. Esta frase ensina que, porque eu sou maior que tu então ‘toma lá que é para aprenderes.’ Ensina então que é a lei do mais forte sobre o mais fraco que é a melhor. Não ensina nada em relação a firmeza e a assertividade – elementos chaves para a construção de uma personalidade segura e que todos os pais desejam que os filhos tenham.
4. Bato em ti porque me pões doida. Devia ser obrigatório todos fazermos alguma formação de desenvolvimento pessoal ou lermos sobre o assunto porque – e embora isto possa parecer estranho – a verdade é que cada um de nós é que escolhe o seu comportamento. O que é que eu quero dizer com isto? Não é a criança que me põe doida. Eu é que não aprendi ainda a gerir as minhas emoções, ainda não aprendi a lidar com as minhas frustrações e, então, rebento e bato. Porque, supostamente, tu me puseste assim… Vale a pena pensar nisto, não vale? Serás tu ou serei eu?
5. Dói-me mais a mim do que a ti. Muitos de nós acreditamos que não é possível educar sem fazer a criança sofrer. E, embora não o queiramos fazer, acreditamos que há alturas em que isso é absolutamente necessário. Quais são essas alturas?
i) A criança precisa de saber que não é ela que manda.
ii) A criança precisa de saber obedecer.
iii) A criança precisa de saber que não pode ter tudo o que quer.
Será? Ou será assim:
i) A criança precisa de saber que tem um adulto que sabe o que está a fazer e que é emocionalmente madura.
ii) A criança precisa de saber que é escutada, que é importante escutar. Nós, adultos, devemos oferecer-lhe as oportunidades para que ela possa cooperar.
iii) A criança precisa de saber que os limites são construtores e servem para assegurar a sua segurança física e emocional. Nós, adultos, precisamos de nos lembrar que o mimo não estraga. O que estraga é a falta de limites.
6. Quanto mais me bates mais eu… me revolto, afasto de ti, procuro pessoas e influências na justa oposição de quem tu és. É assim com todos, sobretudo com as crianças.
… me aninho, me fecho e tenho medo – deixo de pensar por mim, deixo de sentir valor e de me sentir capaz. Torno-me um trapo, submisso, sem vontade e sem capacidade de me encontrar.
7. Desenvolvimento cerebral. Pois é, lá tinham de vir estes estudos – e repare que deixei isto quase para o fim porque qualquer um dos pontos acima são já bastante óbvios. E sim, é verdade que crianças que apanham têm a área do cérebro referente ao medo e aos alarmes maior. Valerá a pena fazer com que os nossos filhos estejam constantemente em estado de alerta, com tudo o que isso acarreta (libertação de mais cortisol, batimentos cardíacos mais elevados, estado de stress constante?).
8. Mas uma palmadinha na hora certa. Se vem mal ao mundo? Pois eu acho que essa não é a questão (mas para isso tens de ler o ponto que se segue). Então se esta palmadinha pequenina, de enxotar o pó é isso mesmo, uma palmadinha que é só para ele ver quem manda, sem intenção de magoar… para que bater? Porque não, em alternativa, agarrar na criança com firmeza (leu firmeza, não é força!) ou tocar nela para a ‘acordar’. Sim, porque na verdade parece que essas palmadas são só uma lembrança para isso mesmo. Acorda.
9. Mas uma palmadinha na hora certa – versão 2. A questão é: como é que eu me quero ver enquanto pai? Quero ver-me como uma pessoa que soube lidar com as situações próprias do crescimento de uma criança ou como aquela cuja criança era um embaraço? Quero ser fonte de inspiração? Ou quero criar uma relação sem grande significado? Se dá mais trabalho passar a usar a Parentalidade Positiva? Claro que dá, porque é uma mudança de mindset. Mas, as boas e maravilhosas notícias são que a mudança se faz, que fica e que, melhor do que tudo, o que vamos colher é extraordinário!
10. Eu até mereci a palmada que recebi! Quem, no seu perfeito juízo, acha que merece que lhe batam? Ninguém merece ser agredido, sobretudo por aqueles que, supostamente, deveriam proteger, ensinar e direccionar os comportamentos. O ideal é sermos corrigidos, ensinados por pais que se sabem gerir. Mas, na falta disso, aceitar ser-se agredido, não pode vir de alguém no seu perfeito juízo.
+1 Sim, isto é tudo muito bonito mas como é que eu faço então, se não uso a palmada? Sentas-se em frente ao teu computador ou encostas-te para trás um bocadinho com o teu tablet ou telemóvel na mão e lê este blogue e assina esta newsletter. Depois, recorda que a mudança é um processo e, como em tudo, é algo que acontece de forma gradual, com avanços e recuos. Mas que o objectivo é sempre a melhoria contínua e nunca, nunca, a perfeição!
Artigo escrito por Magda Dias
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