Sabiam que uma em cada cinco crianças é vítima de abuso sexual e que na maioria dos casos o abusador tem uma relação próxima e de confiança com ela? Descubram como podemos impedir que cheguem às crianças.
Ângelo Fernandes é o fundador da Quebrar o Silêncio — a primeira associação portuguesa de apoio especializado para homens e rapazes vítimas e sobreviventes de violência sexual — e autor do livro “De Que Falamos Quando Falamos de Violência Sexual Contra Crianças?”, um guia dirigido a pais, mães e pessoas cuidadoras com orientações para a prevenção do abuso sexual de crianças.
Neste artigo, Ângelo Fernandes partilha connosco como podemos impedir que os abusadores cheguem às crianças.
“Os abusadores são astutos na forma como conseguem conquistar a confiança das crianças, mas particularmente no modo como conquistam os pais e as mães. Na realidade, são os adultos cuidadores que estes abusadores têm de se esforçar para serem reconhecidos como pessoas de confiança e não alguém suspeito ou perigoso.
Neste texto, vamos abordar como quem abusa sexualmente de crianças cria a oportunidade para fazê-lo e o que os pais e mães podem fazer para estar alerta e minimizar estas situações. Lembre-se de que uma em cada cinco crianças é vítima de abuso sexual e que na maioria dos casos o abusador tinha uma relação próxima e de confiança com ela.
Acima de tudo, quem abusa precisa de criar oportunidades para ter acesso à criança ou às crianças. Se for um membro da família, este acesso poderá estar facilitado pois o contacto com a criança poderá fazer parte do quotidiano e dinâmica familiar. Noutras circunstâncias, terá de criar a oportunidade.
Pode ser um amigo da família que se aproxima cuidadosamente e que em certas ocasiões propõe ajudar os pais (ex: levar a criança ao cinema para que os cuidadores possam descansar), um treinador de futebol que gosta de passar tempo a sós com cada jovem, um chefe de escuteiros que solicita ajuda a uma criança, um padre, um professor, etc.
Qualquer profissão que tenha contacto regular com crianças e acesso às mesmas, garantirá ao abusador várias oportunidades que este vai explorar para se aproximar cuidadosa e gradualmente delas.
Conquistar a confiança das crianças é um passo importante, mas relativamente fácil para quem abusa. É natural que as crianças correspondam à atenção que um adulto lhes dá, especialmente se for um adulto cuidador. Por isso, o abusador terá de desenvolver estratégias para conquistar a confiança das pessoas adultas, nomeadamente das que são responsáveis pela criança.
O objetivo é que nenhuma das interações que tenha com ela seja percepcionada como desadequada, estranha ou perigosa. No sentido de normalizar estas interações, estes momentos podem ocorrer na presença de outros adultos para que posteriormente possa isolar a criança sem levantar suspeitas.
É importante ter em mente que os abusadores detêm o controlo total sobre este processo. Eles medem cuidadosamente como e quando podem interagir com as crianças, em que circunstâncias, se na presença dos adultos cuidadores ou a sós.
Para facilitar este processo de manipulação da vítima, quem abusa poderá identificar e selecionar crianças que possam ser menos suscetíveis de partilhar uma história de abuso sexual.
Há condições que poderão deixar as crianças mais vulneráveis, nomeadamente as que tenham um ambiente familiar mais punitivo, em que o diálogo com elas não é habitual, em que a sua voz não é ouvida ou em que os pais sejam emocionalmente mais desligados.
Se tiver interesse em saber mais sobre a prevenção da violência sexual contra crianças consulte o livro De que Falamos Quando Falamos de Violência Sexual Contra Crianças de Ângelo Fernandes.
Este é um guia de prevenção com orientações para mães, pais e pessoas cuidadoras.

Orientações e questões a ter presente
Quando e em que circunstâncias o seu filho ou filha está a sós com um adulto?
Por que razão a criança precisa de estar sozinha com um adulto? Será numa atividade desportiva? Minimize estas situações. Uma das estratégias a que pode recorrer é fazer visitas aleatórias nos momentos e/ou atividades em que a criança está a sós com um adulto. Não tem qualquer problema o pai ou a mãe querer saber se está tudo bem.
Não é uma questão de sexo ou sexualidade, é uma questão de segurança.
Por vezes os pais e as mães sentem dificuldade em abordar temas relacionados com a sexualidade, especialmente com as crianças mais velhas. Lembre-se, violência sexual não é sexo e não está relacionado com a sexualidade. Estas conversas são sobre a segurança do seu filho ou filha. Da mesma forma que não quererá que um adulto agrida fisicamente a criança ou seja violento verbalmente, a prevenção do abuso sexual é outra preocupação a ter relativamente ao bem-estar e à segurança da criança.
Fomente o diálogo e a comunicação.
Eduque a criança a conversar consigo sobre tudo que ela sinta curiosidade ou tenha interesse. E quando se diz «tudo» é para incluir todo e qualquer tema, mesmo aqueles que possam ser mais difíceis e desconfortáveis para os adultos cuidadores.
Lembre-se, se a resposta não vier dos pais, poderá vir de outras fontes menos seguras, como por exemplo, de um abusador que explora essa mesma curiosidade para conquistar a confiança da criança.”
Querem saber mais?
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