Otite Média Aguda na criança - Pumpkin.pt

Otite Média Aguda na criança

O que é uma otite? Porque é que é tão comum nas crianças? Quais os sintomas? E qual o tratamento?

 O termo otite refere-se a um estado inflamatório (de causa infecciosa ou outra) de qualquer uma das estruturas que compõem o ouvido. Neste texto, contudo, vou falar especificamente de Otite Média Aguda (OMA), a qual se define como infecção aguda do ouvido médio (estrutura do ouvido que se localiza logo após a membrana timpânica). Esta infecção pode ser vírica ou bacteriana.

A OMA é uma condição muito frequente e típica da pediatria, tanto que a grande maioria das crianças, quando atinge os três anos, já teve pelo menos uma OMA diagnosticada. Ela é também a principal causa de prescrição antibiótica na idade pediátrica.

Como e porque é que as crianças têm tantas otites?

O ouvido médio está separado do ouvido externo por uma membrana – o tímpano – que, para o seu normal funcionamento, tem de se encontrar à mesma pressão do meio ambiente. Isso é assegurado pela trompa de Eustáquio, que liga o ouvido médio à zona da garganta por detrás do nariz. Este tubo serve também para facilitar a drenagem de muco ou líquido que se forme no ouvido médio.

As trompas de Eustáquio na criança têm duas particularidades: primeira, são mais curtas e horizontais (o que facilita o acesso de vírus e bactérias ao ouvido médio) e, segunda, estão frequentemente obstruídas por estados de congestão nasal (constipações, alergias, etc.). Esta obstrução predispõe ao acumular de líquido no ouvido médio, o qual mais facilmente infecta e causa a otite. Também a presença das adenóides, maiores nestes primeiros anos de vida, pode ser causa de obstrução.

Para além desta predisposição anatómica da criança, existem outros factores que se associam a um aumento de risco de otite:

  • Exposição ao fumo de tabaco;

  • Aleitamento por biberão;

  • Frequência de creche em idades precoces (por aumento do número de infecções respiratórias);

  • Sexo masculino;

  • História familiar de otites;

  • Inverno (por aumento do número de infecções respiratórias).

Quais os sinais e sintomas da Otite?

A história típica de OMA é a de uma criança que já anda «constipada» há uns dias, com nariz entupido, ranho e tosse, e que subitamente inicia queixas de dor de ouvidos.

Os principais sinais e sintomas da Otite são:

  • Otalgia (dor de ouvido) – devida ao aumento da pressão causada pelo líquido acumulado dentro do ouvido médio. Na criança mais pequena essa queixa pode traduzir-se «apenas» por estar mais chorosa do que o habitual e por irritabilidade;

  • Recusa em se deitar e em se alimentar – porque a posição deitada, a mastigação e a sucção causam alteração da pressão no ouvido com consequente dor;

  • Otorreia (drenagem de pus pelo canal auditivo externo) – quando a pressão no ouvido médio é suficientemente alta, a membrana timpânica pode perfurar. Nessa situação é habitual a criança deixar de se queixar de dor uma vez que a pressão no ouvido normaliza;

  • Perda auditiva parcial e temporária – o líquido acumulado altera a transmissão dos sons;

  • Sensação de ouvido «entupido»;

  • Febre;

  • Tonturas;

  • Sintomas de infecção respiratória alta (obstrução nasal, escorrência nasal, tosse…) – que, como já referi, em geral precedem o aparecimento da otite.

 O diagnóstico da Otite

Perante a suspeita de que o seu filho possa ter uma OMA, este deverá ser observado pelo médico. O diagnóstico assenta, entre outras coisas, na visualização do tímpano através de um otoscópio.

Tratamento da Otite

Como referido anteriormente, as OMA tanto podem ser víricas como bacterianas.

Além disso (e independentemente disso) verifica-se que, na criança previamente saudável, num número considerável de casos a OMA resolve-se por si só em dois ou três dias, sem necessidade de qualquer tratamento específico, nomeadamente sem necessidade de antibiótico.

Em situações seleccionadas, existe a possibilidade (recomendação) de o médico optar por uma abordagem do tipo «esperar para ver». Neste caso, o médico dá apenas tratamento para alívio da dor (paracetamol ou ibuprofeno) e depois a criança é reavaliada passadas cerca de 48 horas, para decisão da real necessidade de dar antibiótico.

Desta forma poupa-se a criança de tomas desnecessárias de antibióticos que, para além de não terem qualquer benefício no caso da otite vírica, também se associam a efeitos indesejáveis a curto e a longo prazo.

No entanto, salienta-se que para este tipo de actuação «esperar para ver» tem de estar sempre assegurado o correcto seguimento/acompanhamento da situação clínica da criança.

 Por outro lado, existem situações em que o tratamento com antibiótico está indicado logo desde o início. São os casos de crianças muito pequenas (idade inferior a seis meses), com otite bilateral, com supuração (drenagem purulenta pelo ouvido), com otites de repetição, com doença severa, com doença crónica ou genética, com malformações da orofaringe, etc.

Ou seja, a decisão deverá apenas ser tomada após avaliação/opinião médica.

Complicações nas Otites Médias Agudas?

Como em qualquer doença: sim. No entanto a probabilidade é baixa, principalmente numa criança sem qualquer doença de base.

Existem até estudos recentes que demonstraram que a opção de tratamento expectante (sem antibióticos de início) não se associou a aumento de complicações.

A complicação mais frequente da OMA é a ruptura da membrana do tímpano, com consequente exteriorização de líquido purulento. Esta é, também, a complicação menos grave, sendo que a membrana timpânica geralmente se restabelece em poucos dias após a resolução da infecção.

Uma complicação mais grave, e também mais rara, é o avanço da infecção do ouvido para o osso (mastoidite) ou meninges (meningite). O aparecimento de uma orelha «descolada» (parece que fica mais afastada do crânio) ou de rubor/tumefacção atrás da orelha, em qualquer fase da doença ou mesmo após o início de tratamento, deve ser motivo para procurar observação médica imediata.

 

Pediatra Márcia Ferreira

Knok Healthcare

 

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