A maior parte das abobrinhas deixa de dormir a sesta aos três anos. É cedo demais?
O alerta foi dado pela Sociedade Portuguesa de Pediatras: não dormir a sesta pode trazer às crianças várias consequências a curto e a longo prazo; problemas de aprendizagem e de comportamento são os mais graves.
Este aviso dos especialistas surge a propósito da política de sestas adoptada pela maioria das creches e dos jardins de infância, que a partir dos 3 anos substituem o descanso pós-almoço por outras atividades.
As refeições foram, aliás, um dos pontos de comparação dos médicos, que acreditam que não dormir a sesta a partir dos 3 anos é tão prejudicial para as crianças como não ter direito a uma refeição na escola. “Um grave problema de saúde pública” foram as palavras usadas.
O pediatra Hugo Rodrigues reforça mesmo que é hoje em dia consensual que a privação de sono nos primeiros anos de vida pode estar associada a diversos problemas, tais como:
- Maior impulsividade;
- Menor atenção;
- Interferência nos processos de memorização e aprendizagem;
- Irritabilidade;
- Dificuldade na auto-regulação emocional;
- Obesidade / excesso de peso;
- Hipertensão arterial.
Até quando devem, então, as crianças dormir a sesta?
A recomendação é simples: as crianças devem dormir a sesta até aos cinco/seis anos de idade, de preferência no início da tarde e num período máximo de aproximadamente uma hora e meia.
No entanto, é de ressalvar que a necessidade fisiológica da sesta varia, naturalmente, de acordo com a idade, e se aos três anos a criança precisa de dormir uma sesta de uma a duas horas, por volta dos 5/6 anos é provável que um descanso de entre 20 a 30 minutos faça milagres.
Claro que é importante analisar caso a caso e perceber que as crianças não são todas iguais, vivendo em ritmos de desenvolvimento diferentes. Após os quatro anos, já não todas as abobrinhas têm a necessidade de dormir a sesta de forma regular, pelo que a família e as educadoras de infância são aconselhadas a conversar para definir padrões de sono.
Podem decidir, por exemplo, que a criança não dorme na escola, mas faz sestas ao fim de semana, ou alternar os dias de descanso para participar juntamente com os colegas noutras atividades.
Os benefícios de dormir a sesta
Para a Sociedade Portuguesa de Pediatria a sesta até idade escolar é muito benéfica. Está, por exemplo, provado que crianças que dormem a sesta regularmente apresentam um QI mais elevado do que aquelas que não descansam durante o dia. É durante o sono que consolidamos aprendizagens e crescemos.
A privação do sono tem para as abobrinhas consequências gravíssimas a curto prazo, como a perturbação da função neuro-cognitiva, distúrbios de humor, agressividade, alteração do comportamento e alteração motora.
A longo prazo, estas perturbações podem evoluir para quadros ainda mais preocupantes: mau rendimento escolar, hiperactividade e défice de atenção, ansiedade, depressão e perturbação da vida familiar.
Como saber se a criança ainda precisa de dormir a sesta?
Como dissemos, cada caso é um caso. Cabe aos pais, em conjunto com os profissionais de educação, perceber se a criança fica mais irritada e instável depois da hora de almoço, se parece cansada ou demasiado agitada, se fica menos atenta ou concentrada nas atividades e brincadeiras, e se faz mais birras do que o costume.
Se as respostas foram na maioria afirmativas, então, sim, a criança precisa ainda de fazer a sesta e vai tirar desse descanso vários benefícios.
É importante também lembrar que, dos 12 meses aos 3 anos de idade as criançasprecisam em média de 10 a 12 horas de sono noturno e de uma a duas horas de sesta. Já dos 3 aos 5 anos, são necessárias entre 11 a 12 horas, com ou sem sesta.
Isto significa que se a criança não dormir de tarde precisará de substituir esse período no sono da noite, o que na correria do dia a dia pode ser complicado.
Segundo Hugo Rodrigues, “o problema desta questão prende-se com o facto da maioria das crianças não conseguir perfazer de noite o total de horas que deve dormir, motivo pelo qual a sesta se revela de grande importância.
Se esta não for realizada, elas vão ficar num estado de privação crónica de sono, com todas as consequências que foram descritas acima.
E, se o sono nocturno é uma responsabilidade dos cuidadores, cabe aos estabelecimentos de ensino a responsabilidade de zelar por um sono diurno adequado para todos os seus utentes.”
Por isso, é fundamental criar estratégias e rotinas para que a criança descanse o suficiente para crescer bem e feliz.
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