Como lidar com a alergia alimentar? As fundadoras do projeto Senhora Alergia explicam!
Já imaginou se de um momento para o outro o seu filho tivesse uma alergia alimentar tão grave que poderia correr risco de morrer? Já pensou na importância de respeitarmos os cuidados das famílias de crianças com alergias alimentares? Já alguma vez pensou na diferença entre alergia alimentar e intolerância alimentar? Sabe como agir perante uma alergia alimentar? Beatriz Pereira do blog Mais Q’ Especial entrevistou as promotoras do projeto Senhora Alergia.
Sofia e Marta são ambas mães de crianças com alergias alimentares graves. Com base na sua experiência, história de vida e formação, dedicam-se a este projeto de coração e alma, relembrando que “não é uma alergia alimentar que define quem és! És muito mais do que isso!”.
A Senhora Alergia explica tudo sobre as alergias alimentares enquanto capacita todos aqueles que se tornam próximos deste mundo cada vez maior nos dias de hoje.
Com descontração e sem filtros, a Senhora Alergia desmistifica os mitos que existem, alerta e mostra como a confiança e o sentido prático da vida ajudam – e muito – nas alergias alimentares!
A Sofia e a Marta são as promotoras do projeto Senhora Alergia. Qual o propósito do vosso projeto Senhora Alergia?
A Senhora Alergia é uma plataforma online constituída por uma página de instagram (@senhora_alergia) e uma página de facebook (wwww.facebook.com/senhoraalergia) criadas pela Sofia Luz, que é médica imunoalergologista, e pela Marta Castelão Costa, responsável pelo projecto de Sustentabilidade do Grupo Pestana.
O nosso principal objectivo é valorizar quem tem uma Alergia Alimentar, divulgar a Alergia Alimentar de modo a tornar o mundo mais seguro para os nossos filhos alérgicos e dar soluções inclusivas para estas pessoas.
Que iniciativas fazem parte do projeto Senhora alergia?
Todos os dias escrevemos um post mais técnico (escrito pela Sofia) ou mais prático, com receitas, marcas de produtos seguros para alérgicos, truque e dicas das dicas do dia-a-dia (escrito pela Marta).
De onde vem o vosso interesse e relação com as alergias?
Nós somos mães de crianças com alergias alimentares muito graves. A Sofia é mãe do João Maria que tem 9 anos e tem alergia muito grave ao ovo. A Marta é mãe do Francisco, que tem 5 anos e é alérgico a ovo e do Sebastião que tem 2 anos e tem alergia muito grave ao ovo, trigo, proteína do leite de vaca, kiwi, carne de vaca e banana.
Para além de mãe, a Sofia é ainda Imunoalergologista.
Em conversas, chegámos à conclusão que, em Portugal, ainda existia muita falta de informação. A maioria das pessoas não sabe que se pode morrer em minutos após a ingestão acidental de alimentos ao qual se é alérgico. A constante desvalorização por parte dos outros, a confusão de conceitos, a dificuldade em encontrar os produtos alimentares adequados, levou-nos a criar uma plataforma de informação útil ao alérgico Alimentar.
Que dados nos podem dar sobre a prevalência e o impato da alergia alimentar em Portugal?
A prevalência de Alergia Alimentar em Portugal estima-se que afecte cerca de 5-10% da população.
Cada vez existe mais alergia alimentar e isto faz-nos pensar que o mundo tem de se preparar para lidar com esta doença. As escolas e os restaurantes têm de investir em formação dos funcionários.
Algumas alergias serão mais conhecidas que outras. De uma forma geral, que tipos de alergias podemos encontrar no mundo de hoje?
Podemos ser alérgicos a qualquer alimento em qualquer altura da nossa vida. No entanto, sabemos que existem alimentos que causam alergia alimentar mais frequentemente, tais como: Leite, ovo, trigo, soja, peixe, frutos secos e marisco.
Quais as principais dificuldades e necessidades que encontram junto de quem descobre e vive com uma alergia alimentar e/ou das suas famílias?
A principal dificuldade que encontramos prende-se com o próprio conceito de alergia alimentar. Existe uma desvalorização da Alergia Alimentar porque existe uma grande confusão entre alergia alimentar e intolerância alimentar. A intolerância alimentar é uma má digestão de um alimento, não se morre. De Alergia Alimentar, pode –se morrer.
Todos os pais referem uma coisa em comum “sentimos um rótulo permanente de Pais picuinhas, Pais hiperprotectores”.
No dia-a-dia, sentimos várias dificuldades: restaurantes, escolas, outros pais.
Existe um sem número de procedimentos que são necessários quando se lida com pessoas alérgicas que não são do conhecimento da sociedade em geral, e por isso não são levados em conta pondo em risco a vida dos alérgicos.
Que passos e estratégias consideram fundamentais para as pessoas e/ou as suas famílias que têm uma senhora alergia alimentar?
É fundamental reduzir o stress à família e isso passa por serem portadores constantes da medicação SOS e de terem formação de como a usar. Essa segurança é de extrema importância.
É imprescindível garantir que todos os cuidadores, familiares, professores, amigos e profissionais das cozinhas estão formados e informados sobre a Alergia em causa.
É ainda fundamental ensinar as próprias crianças com alergia alimentar a defenderem-se de situações que possam ser causadoras de stress – por exemplo, não aceitarem comida que ofereçam sem ler rótulos.
No final, ser positivo e prático faz parte do nosso lema!
Numa perspetiva mais pessoal, consideram que as alergias condicionam o desenvolvimento e a aprendizagem dos vossos filhos? De que forma?
A Alergia alimentar faz com que as crianças alérgicas adquiram um grande sentido de responsabilidade muito cedo. Esta característica é transversal a todas as crianças alérgicas. Os pais confiam mais nas crianças do que nos adultos à sua volta.
Também sentimos que são crianças um pouco mais ansiosas, pois já vivenciaram momentos de reacções graves que não querem claramente volta a passar.
É importante trabalhar estas crianças para que consigam viver esta condição pela forma positiva e trabalhando sempre por “puxar” pelo lado bom, na medida em que as alergias são condicionantes da vida social das mesmas.
Se, por um lado, notamos que são crianças que rapidamente se tornam muito responsáveis, por outro podem facilmente ser crianças com níveis de confiança e auto estima baixos.
Sentem que as alergias condicionam as vossas famílias – a vossa dinâmica, a vossa organização e estrutura familiar? Se sim, de que forma e como contornam a situação?
Sim, sem dúvida. Toda a vida fora de casa exige uma organização e planeamento prévio. Não conseguimos sair de casa de “mãos a abanar”:). Por exemplo, a Marta ainda não consegue que o Sebastião tenha uma refeição fora de casa em lugar nenhum. A forma de contornar é ser prática. Leva uma mochila com comida para todo o lado! Não deixamos de ir a um restaurante, mas o Sebastião só come o que levamos na mochila.
A nossa família já tem “formação” sobre alergias e sabe exactamente como agir, mas ficamos sempre com o coração nas mãos.
Na escola, a mesma coisa. Demos formação na escola, eles levam para a escola as lancheiras com comida, só comem o que está na lancheira, mas nunca conseguimos estar completamente descansados.
Possivelmente, há muitos pais e familiares próximos que têm medo de confiar as suas crianças a outras pessoas. Isto é possível de trabalhar? Se sim, como?
Temos que aprender a confiar nos outros. Custa mas faz parte da vida. Deixar os nossos filhos com outras pessoas implica garantir segurança. A medicação SOS ajuda-nos a relaxar e saber que a anafilaxia não acontece tão frequentemente também nos dá mais confiança.
Se tivessem de escolher dois mitos para descodificar sobre as alergias, quais seriam?
1 – Não existe Alergia à Lactose. Existe Intolerância à Lactose e Alergia à Proteína do Leite de Vaca.
2- A reacção alérgica dá-se independentemente da quantidade do alimento ingerido.
Se tivessem de escolher duas verdades a partilhar sobre as alergias, quais seriam?
1- Alergia Alimentar pode matar em minutos.
2 – A caneta de Adrenalina salva vidas.
Se tivessem de escolher uma mensagem para quem descobriu agora ou vive com a alergia, qual seria?
Não desanime perante os obstáculos, na alergia alimentar temos que dar esses saltos todos os dias. Procurem informação e formação credível sobre as Alergias. Existem soluções e formas de contornar as Alergias Alimentares. Tudo o que no início parece muito complicado, com o tempo tornar-se-á perfeitamente normal.
Se tivessem de escolher uma mensagem para as famílias de quem vive com uma alergia, qual seria?
Não desvalorizem as Alergias Alimentares. Procurem uma consulta de Imunoalergologia.
Se tivessem de recomendar um livro sobre o mundo das alergias, qual seria?
Tenho Alergia Alimentar e Agora? de Dra. Inês Pádua.
Se tens uma alergia, valoriza-te porque…
Não é uma Alergia Alimentar que define quem és! És muito mais do que isso!
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