Combater a violência e a desigualdade começa com educação! Reunimos alguns recursos úteis para promoverem a igualdade de género em casa e na escola.
Ser mulher não é fácil. Não é fácil na escola, não é fácil no mercado de trabalho, na sociedade e, muitas vezes, nem sequer em casa.
E o Dia da Mulher? O Dia da Rapariga? O Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres? Também não são felizes.
São dias em que lembramos mulheres que sofrem violência, preconceitos, abusos, injustiças, e que todos os anos continuam a sofrer, pela simples condição de serem… mulheres.
São dias em que as diferenças de oportunidade, acesso e cuidado são relembradas.
A História por detrás dos Dias
Nestes dias – e sempre! – é muito importante falar de igualdade de género e oferecer ferramentas às nossas crianças para que a utopia se torne real.
Dia da Mulher

A origem do Dia da Mulher remonta a 1909, quando, em Nova York, o Partido Socialista da América organizou uma jornada de manifestação pela igualdade de direitos civis e a favor do voto feminino.
Durante as Conferências de Mulheres da Internacional Socialista, no ano seguinte em Copenhaga, foi sugerido por Clara Zetkin que o Dia da Mulher passasse a ser celebrado todos os anos. No entanto, não foi definida uma data específica.
A partir de 1913, as mulheres russas passaram a celebrar a data com manifestações realizadas no último domingo de fevereiro. A 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no calendário gregoriano), ainda na Rússia Imperial, foi organizada uma grande passeata de mulheres, em protesto contra a carestia, o desemprego e a deterioração geral das condições de vida no país. Foi esta manifestação que precipitou a Revolução de 1917.
Nos anos seguintes, o Dia da Mulher passou a ser comemorado nessa data, pelo movimento socialista, na Rússia e noutros países do bloco soviético, até que em 1975 as Nações Unidas instituiram o Dia Internacional da Mulher a 8 de março.
A data é comemorada em mais de 100 países, mas, infelizmente, ainda é ignorada em muitos outros.
Dia da Rapariga

O Dia Internacional da Rapariga, que se assinala a 11 de outubro, existe para comemorar as conquistas alcançadas pelas raparigas, com elas e para elas, desde a adoção da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim, uma agenda política abrangente para o empoderamento de mulheres e meninas.
Felizmente, são cada vez mais as raparigas que frequentam a escola e terminam os estudos, assim como as que conseguem boas oportunidades no local de trabalho. Felizmente também, são cada vez menos as que se casam ou têm filhos enquanto crianças.
No entanto, muitas meninas sofrem ainda com normas de género prejudiciais e que influenciam todas as esferas da sua vida. No Afeganistão, por exemplo, o regresso dos talibã ao poder tirou milhões de meninas das escolas e das ruas, silenciando-as e a toda a sua existência.
Ao mesmo tempo, são muitas as regiões do globo onde são os homens quem decide se, quando e com quem se casam estas meninas, se têm acesso a serviços de saúde ou se podem trabalhar.
Os números indicam que duzentos milhões de meninas e mulheres são submetidas à mutilação genital feminina – por ano – e que três em cada quatro vítimas de tráfico de pessoas são mulheres e meninas.
Não é aceitável que as meninas cresçam sem liberdade, sorrisos e esperança. Não é aceitável que tenham de renunciar aos seus sonhos ou que sejam levadas a acreditar que não os conseguem realizar. Este dia existe para o lembrar.
Dia Internacional da Violência Contra a Mulher

O Dia Internacional da Violência Contra a Mulher celebra-se a 25 de novembro e foi decretado pela ONU como uma homenagem a Minerva, Patia e Maria Mirabal, ativistas dominicanas brutalmente assassinadas a 25 de novembro de 1960, a mando do ditador Rafael Trujillo.
As três mulheres foram sequestradas, mortas e atiradas por um precipício, juntamente com o seu carro, de modo a fazer parecer que haviam sofrido um acidente.
As Mirabal eram, à data da sua morte violenta, rostos da resistência ao regime há já dez anos, juntamente com a sua irmã Dedé, a única que escapou ao crime.
A popularidade das ativistas e o aumento gradual do número de torturas, desaparecimento, crimes e repressão acabaram por ter o efeito contrário ao desejado por Trujillo, que acabou também ele assassinado em 1961. O crime contra as Mirabal foi tão horroroso que as pessoas começaram a sentir-se inseguras, mesmo aquelas próximas do regime.
Ao contrário do que aconteceu com tantos outros silenciados, cujo destino nunca se desvendou, a morte das Mirabal, com nome e rosto, dimensão humana, permitiu aos dominicanos começar a questionar-se sobre a segurança das suas irmãs, filhas, mulheres e namoradas. E a relacionar a sua falta com as medidas rígidas do regime.
Em 1999, a assembleia-geral da ONU designou o dia 25 de Novembro o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres.
A Igualdade de Género: utopia ou realidade próxima?

Dados estatísticos que comprovam a desigualdade
Um estudo feito em 2020 pela União de Mulheres Alternativa e Resposta em Portugal, com um universo de jovens com média de 15 anos de idade, mostra que 67% dos jovens consideram legítima a violência no namoro.
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É por parte dos rapazes que a legitimação é maior, com destaque para o comportamento “pressionar para ter relações sexuais”, em que a legitimação entre os rapazes (16%) é quatro vezes superior à das raparigas (4%).
É evidente que os jovens de hoje são os adultos de um futuro próximo. Por isso, e por ecoarem nos registos de violência de género atuais, estes dados tornam-se ainda mais assustadores.
A verdade é que no nosso país, segundo informações divulgadas pela Rede 8 de Março, “a violência machista mata, em média”, duas mulheres a cada mês. Este relatório frisa também que as mulheres representam 80% dos casos de vítimas de violência doméstica e que são elas as vítimas de 90,7% dos crimes sexuais registados.
Em 2020, em Portugal, pelo menos 32 pessoas foram mortas em contexto de violência doméstica: 27 mulheres, 2 crianças e 3 homens.
Já em 2021, das 23 vítimas mortais em contexto de violência doméstica, 16 eram mulheres, 2 crianças e 5 eram homens. Entre as sobreviventes, foram recebidas mais de 31 mil queixas de violência – no seu seguimento, mais de 2000 pessoas foram acolhidas por casas de apoio.
Em 2022, registaram-se 28 casos de homicídio em contexto de violência doméstica, mais cinco do que no ano anterior. Dos 28 homicídios, 24 incidiram sobre mulheres e 4 sobre crianças.
Por outro lado, estatísticas divulgadas em março de 2022 pelo Eurobarómetro mostram que quase um terço das mulheres abdicou de trabalho pago por causa da carga doméstica durante a pandemia.
O mesmo orgão diz-nos que 90% das mulheres em Portugal acredita que a violência de género aumentou e que as portuguesas são as mais preocupadas da UE com a disparidade salarial entre mulheres e homens.
Uma violência brutal que vê nas mulheres objetos inferiores e despojáveis.
Também no resto do mundo a desigualdade de oportunidades, acesso, salários e representatividade é uma realidade inquestionável. Há mais pobreza feminina, mais barreiras na educação para as mulheres, mais desemprego feminino, e mais pressão social sobre as meninas, desde sempre, para corresponder a determinados padrões ou imagens irreais.
As mulheres também estão mais sobrecarregadas, conciliam trabalho fora com trabalho em casa, e manifestam maiores níveis de ansiedade e de depressão pela intensidade da vida quotidiana.
O que é, e como alcançar, a igualdade de género?
Assim, lutar pela igualdade de género é cada vez mais importante. Mas o que é ela, afinal? Uma questão de direitos humanos e uma condição de justiça social.
A Igualdade de Género exige que, numa sociedade, homens e mulheres gozem das mesmas oportunidades, rendimentos, direitos e obrigações em todas as áreas, da educação à saúde, na carreira profissional e nas esferas de influência.
Na Pumpkin, sentimos que esta é uma luta sem fim, mas uma luta que nunca deixaremos de fazer nossa. Somos uma equipa maioritariamente de mulheres, com filhas maioritariamente meninas.
Não encaramos cada batalha como uma luta deles contra nós, mas sim como a luta de todos os seres humanos com valores e que batalham pela justiça, igualdade de oportunidades e respeito.
Acreditamos genuinamente que é no poder do amor e na educação das futuras gerações que está o segredo para contrariar o paradigma.
Como outras, antes de nós, lutaram pelo que hoje consideramos direitos básicos – votar, ter a nossa própria voz, escolher a pessoa com quem casar, escolher não casar, ter a oportunidade de trabalhar naquilo de que se gosta, estudar, vestir calças ou ser proprietárias de algo – vamos todos nós lutar para que, um dia, as mulheres não sintam ser necessárias quaisquer reinvindicações mais.
Esta luta passa por apoiarmos as nossas amigas, valorizarmos as suas conquistas.
Passa por educar as nossas filhas para serem o que quiserem e irem mais longe nos seus sonhos.
Passa por educar os nossos filhos para o respeito e amor.
Passa por estarmos atentos e disponíveis para ajudar quem precisa.
Passa por lutarmos contra as injustiças e desigualdades com palavras e atos concretos.
Passa por reconhecer os comportamentos e palavras machistas que reproduzimos, e fazer um esforço por corrigi-los.
Comecemos já.
Não temos, infelizmente, a fórmula perfeita, mas trazemos algumas ideias.
Igualdade de género através da educação
Confiança na adolescência e na pré-adolescência: como ajudar na sua construção?

Uma menina confiante será, no futuro, uma mulher confiante, de bem consigo mesma e feliz.
Numa altura em que as mulheres são cada vez mais agredidas (não apenas fisicamente, como também psicologicamente) e rebaixadas por uma sociedade que as condena pelo que vestem, dizem e pelo que mostram ser, a importância de ensinar pequenas mulheres a defenderem-se torna-se cada vez mais importante.
Vamos a isso, então! Como promover uma maior confiança na adolescência? Temos cinco sugestões que vão ajudar as nossas filhas a serem mais fortes, a olharem para si mesmo com maior empatia, e a fortalecerem as suas relações, consigo e os demais.
A igualdade começa em casa
Se têm meninos em casa, ensinem-lhes pelo exemplo e na vossa rotina que as tarefas domésticas, por exemplo, são responsabilidade igual de toda a família, e que devem ser eles a limpar o que sujam, a arrumar o próprio quarto e a ajudar, tanto quanto as meninas, a por a mesa ou a dobrar a roupa.
Se têm meninas que vos pedem camisolas azuis, bolas de futebol ou carros, se têm meninos que preferem brincar com bonecas, lembrem-se: os brinquedos não têm género. E, se têm, não são adequados a crianças. Deixem-nos expressar os seus gostos e individualidades sem os castrar, sem os dobrar, sem os limitar. Deixem-nos descobrir quem são.

O Guia Sensibilizar e Educar para a Igualdade de Género é um instrumento de leitura simples, que vos permita refletir sobre o tema, designadamente sobre as consequências da desigualdade de género e de como esta pode potenciar relacionamentos abusivos ou violentos.
Este Guia faz parte da coleção Guias para Famílias, uma coleção desenvolvida pela APAV com o objetivo de envolver as famílias na prevenção da violência e na promoção da igualdade de género.
A aplicação destas estratégias na educação das crianças possibilitará às famílias assumir um papel mais ativo na prevenção da violência e na promoção de relacionamentos mais positivos, bem como melhorar a interação entre a criança e a respetiva família.
É possível que seja pedido que se (re)posicionem relativamente a algumas questões e que, eventualmente, façam um esforço para contrariar algumas das crenças com que cresceram e que podem ser desconstruídas à luz do que atualmente conhecemos. Porque educar é, também, aprender.
A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) também partilhou com o público um documento sobre a violência emocional e psicológica.
Não esquecer que a violência doméstica afeta também as crianças e os jovens, direta e indiretamente. Insultar e gritar, ameaçar e intimidar, humilhar, rejeitar e desprezar, isolar ou punir são formas de violência emocional com consequências graves.
Acreditamos que crianças felizes e abertas ao mundo serão sempre adultos mais tolerantes, empáticos e, obviamente, felizes. E nós, como adultos, também vamos sempre a tempo de evoluir.
Igualdade de género através da cultura
Livros infantis que provam que as meninas podem ser quem elas quiserem

A Pumpkin reuniu algumas sugestões de livros para oferecer à sua filha, à sua sobrinha, à filha de uma amiga ou… a si mesma. São livros para meninas, mas também para meninos, que reforçam a ideia de que uma menina, futura mulher, pode ser o que quiser, quando quiser, que depende apenas de si e que em nada fica a dever aos homens.
Leitura obrigatória nas nossas casas, são obras que contribuem para o reforçar do amor próprio e da auto-estima das nossas filhas, mas que também mostram aos meninos o quanto elas são fortes e inspiradoras.
Filmes para toda a família com protagonistas femininas

Não podemos controlar aquilo que Hollywood produz, mas, como pais, podemos e devemos garantir o equilíbrio: é importante que os nossos filhos tenham também acesso a filmes onde há meninas fortes, poderosas e que assumem papéis de liderança, vivem aventuras inesquecíveis e contrariam muitos dos estereótipos associados aos contos de fadas.
Espreitem as nossas sugestões de filmes com personagens femininas e, mesmo longe do Dia das Bruxas, a lista que fizemos com filmes de Halloween com protagonistas femininas. Afinal, há alguns séculos, as mulheres fortes eram vistas como bruxas e queimadas nas fogueiras. É também por elas que lutamos, hoje, pelo diminuir das barreiras do preconceito.
Igualdade de género através de iniciativas e outros recursos
Coolkit – Jogos para a Não-Violência e Igualdade de Género

O COOLKIT foi concebido no âmbito do projecto “Violência Zero”, a partir de uma experiência-piloto desenvolvida pela CooLabora na Escola Secundária Quinta das Palmeiras, na Covilhã, durante o ano lectivo de 2010/2011.
As atividades propostas têm como objectivo promover a igualdade de género e uma cultura de não-violência e abordam diversos temas associados a estas problemáticas: estereótipos de género, violência no namoro, “bullying”, gestão de conflitos, etc.
Em cada ficha de actividade indica-se o perfil de destinatários/as adequado à dinâmica de grupo ou jogo descrito e especificam-se algumas características que o grupo-alvo deve satisfazer tais como, por exemplo, a idade mínima ou máxima dos/as participantes.
A versatilidade do kit reside também na multiplicidade de metodologias utilizadas (discussão de dilemas, jogos cooperativos, “role-playing”, teatro-fórum, debates, etc.) e na sua aplicabilidade a diferentes contextos educativos: escolas, centros de atividades de tempos livres, associações juvenis, entre outros.
O Jogo das Profissões para a Igualdade

O Jogo das Profissões Para a Igualdade é um jogo com o objetivo desconstruir estereótipos de género associados às profissões e demonstrando que não há só profissões para homens ou só para mulheres.
Futuramente, o site que aloja o jogo será alimentado com outros desafios e atividades interativas, bem como conteúdos e informações sobre estes temas, disponíveis para toda a comunidade educativa e famílias.
Este projeto é uma iniciativa da Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro, em parceria com as Women in Tech® em Portugal, Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e com a Ironhack Lisboa. O portal foi desenvolvido pela Comunidade Raparigas do Código, ilustrado pela designer Rita do Mar e conta ainda com o apoio da DNS.PT.
Dream Gap Project
Em 2008, a Mattel apresentou mundialmente o Dream Gap Project, que tem como objetivo chamar a atenção para os fatores limitadores com que as meninas se deparam enquanto ainda são pequenas, levando-as a não acreditar no seu verdadeiro potencial.
Vejam o vídeo que promete emocionar o mundo nesta luta pela igualdade de direitos e de oportunidades. Aqui irá ver várias meninas que mostram, através dos seus depoimentos, a realidade vista aos seus (pequeninos e, ao mesmo tempo, GRANDES) olhos:
O Dream Gap Project tem como objetivo fechar o Dream Gap, que é a diferença da confiança que se verifica entre meninas e meninos.
Entre os 8 e os 14 anos as raparigas têm menos 30% de confiança em si próprias do que os meninos no mesmo intervalo de idades. Esta é uma altura da sua vida em que sentem que não conseguem atingir os seus sonhos e se sentem diminuídas numa sociedade que ainda privilegia um pouco mais os rapazes.
Para a Mattel, mais importante do que dizer “Tu podes ser o que quiseres!”, é mostrar que houve e continua a haver mulheres que conseguiram alcançar o seu objetivo e distinguirem-se nas suas carreiras, muitas delas associadas a um universo mais masculino.
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Obrigada pelo belo artigo! Não sabia que havia o dia da rapariga.
Sendo mãe de um menino e uma menina, tento incutir aos dois tudo isto…. Espero ver os frutos um dia!
Continuem com todo o excelente trabalho, Parabéns e Obrigada
Paula
Agradecemos as palavras, Paula, de coração!
Acreditamos que verá frutos maravilhosos (ou abóboras) ?
Beijinhos grandes para a vossa família 🙂
Bom e abrangente artigo sobre o que há a fazer ainda pela mulher.
Nota-se que há fervor e paixão pelo tema. Continuem.
Olá, Filipa, muito obrigada. Ficámos felizes com este feedback. Trabalhamos todos os dias para, dentro dos meios que temos à disposição, fazer a diferença. Beijo!
Muito obrigada pelo excelente artigo!
Obrigada nós, Cátia!