Isabel Stilwell: Os netos são os nossos olhos em mundos onde já não estamos - Pumpkin.pt

Isabel Stilwell: Os netos são os nossos olhos em mundos onde já não estamos

Isabel Stilwell entrevista livro

Depois do enorme sucesso de Histórias Para os Avós Lerem aos Netos 1, chegam mais histórias testadas em netos de carne e osso. Estas são histórias inspiradas em episódios da vida real, em que a semelhança com a realidade de avós e netos não é pura coincidência. São histórias com birras e dentes a abanar, medo do desconhecido e do escuro, meninas que não querem tomar banho, meninos que fogem da escola e, claro, manas do meio esmigalhadas entre as irmãs. São histórias “verdes”, com monstros vegetarianos e gente que, nas mãos, em vez de dedos tem árvores  São histórias cheias de coisas por descobrir onde vivem as formigas, quantas patas têm os insectos, por que é que algumas ovelhas têm asas? Mas, acima de tudo, são histórias para a voz dos avós. Pontos de partida para tantas outras, pretexto para momentos especiais em que, por um bocadinho, os pais não podem entram.  Foi a propósito delas que a Pumpkin entrevistou a autora, Isabel Stilwell. Uma avó como poucas! 🙂 

«As Histórias para os Avós lerem aos Netos 2» são baseadas em episódios da vida real. Os seus netos são a sua maior inspiração, não só no processo criativo mas também na vida? 

São mesmo uma fonte constante de inspiração e de felicidade. Acho que me dão mesmo momentos de felicidade pura, momentos em que consigo abstrair-me de tudo o resto, e só por isso tinham de ter um efeito positivo na minha criatividade. Ainda há bocadinho, a Carminho entrou aqui vinda da escola e contou-me o seu dia, e, de imediato, abriu-se uma clareira de luz. Eles são os nossos olhos em mundos onde já não estamos, mas conseguem também fazer-nos viajar dentro de nós próprios. E se os filhos já não nos deixavam dormir em serviço – muito menos permitiam que a vaidade nos subisse à cabeça –, os netos com a sua franqueza e autenticidade continuam essa tarefa. Como costumo dizer, são mesmo o maior antídoto para a senilidade.

É muito engraçada a premissa de que este é um livro no qual «os pais não podem entrar». A voz dos avós conta palavras diferentes?

Venho em defesa de espaços e tempos que pertençam só aos avós e aos netos, em que podem construir a sua história, memórias comuns, fazer as coisas de uma outra maneira. Em que os avós deixem a sua voz dentro dos netos, criando um lugar mental onde eles podem sempre regressar, mesmo quando os avós já cá não estiverem. Quero que os avós se sintam com direito a esse tempo, o cultivem e valorizem. A ideia não é estimular a concorrência, até porque os avós que concorrem com os pais (há até alguns que se iludem com a ideia de que são mais importantes do que eles) são basicamente maus avós.

Este é já o segundo volume das «Histórias para os avós lerem aos netos». Pensa escrever mais e tornar assim este título uma série? São infinitas as histórias que avós e netos inventam juntos?

Tem toda a razão, são infinitas as histórias. Gostava muito que se tornasse numa série, e que as crianças que ouviram as primeiras pudessem ir crescendo com as nossas histórias. Ponto de partida, como digo sempre, para que os avós e os netos que as leem, façam eles próprios o mesmo.

Qual é a sua história favorita deste livro?

Pergunta difícil, porque a todas associo momentos que foram fantásticos. Adoro a da Constança e as botas de borracha, porque a Constança de carne e osso, aos quatro anos é mesmo assim, cheia de vida e de vontade de testar coisas diferentes. Gosto muito das histórias da Ratinha cor-de-rosa pela mesma razão: a Carmo, a Madalena e eu sabemos que ela existe, e a prova é que roeu um dos meus melhores casacos cor-de-rosa. A do Monstro Vegetariano aconteceu mesmo, e foi a resposta que uma das gémeas deu à que tinha tido o pesadelo. Podia continuar por aqui adiante, cada história tem uma história. Depois há as do Francisco, o meu filho mais velho, que me espanta sempre com as suas histórias, porque estão cheias de magia e surpresa. Sobretudo os rapazes que as ouvem, identificam-se sempre muito mais com as dele do que com as minhas. A das aventuras na Serra dos Candeeiros é mesmo deliciosa —  criaturas de um olho só, elefantes que contam anedotas, dedos das mãos que são como árvores e perdem as folhas no inverno…

Se pudesse dar um único conselho, como avó, a quem foi agora mãe pela primeira vez, qual seria? Existe alguma forma de contornar o conflito geracional que, de alguma forma, se sente sempre que um neto nasce e limites precisam de ser estabelecidos?

Sabe assusta-me quando vejo as mães, nos blogues que às vezes leio, tão zangadas com as sogras… há uns tempos li o post de uma que se queixava de que a sogra pegava no bebé e lhe dizia qualquer coisa como «se não fosse eu tu passavas fome» ou uma ou outra frase mortal do mesmo género. As mães que comentavam o post escreviam também barbaridades do género «põe-lhe já limites, ou nunca mais te livras dela», «não a deixes visitar o bebé, marca dias e horas», num discurso que só pode levar a raiva mútua. É claro que há sogras e mães que atropelam as noras, genros, filhos e quem se puser à frente, possuídas pela ilusão de que são mães daquele bebé, mas há outras que se limitam a, de forma desajeitada, é certo, procurar a confirmação de que vão ser importantes na vida daquele bebé. Se as mães que ouvem estes comentários não estivessem inseguras, cansadas e com as hormonas aos saltos conseguiriam perceber que a melhor maneira de reagir seria com sentido de humor, dizendo-lhe qualquer coisa como: «Pois é… sem a avó tu não eras nada, pois não, bebé?». E, entretanto, aproveite para lhe deixar a criança durante uma hora, enquanto vai dormir uma sesta, ou ver umas montras. Diria às mães: «Sosseguem, o vosso filho nunca vai gostar tanto de outra pessoa como gosta da mãe», por isso… sejam generosas. O seu filho só vai ganhar em ter uma família alargada que o conhece e ama, e nos momentos de maior irritação pense… que bem lhe vai saber ir ao cinema, com a certeza de que ele fica num lugar a que está habituado e com pessoas que conhece. 

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