“Os Bebés Também Querem Dormir” é o novo livro de Constança Cordeiro Ferreira. Um livro que resulta de vários anos de experiência a acompanhar pais e bebés.
Leia a entrevista da Pumpkin à autora e saiba tudo o que descobrimos sobre este fantástico livro.
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O livro “Os Bebés Também Querem Dormir” é o resultado de vários anos de experiência profissional com pais e bebés. Porque sentiu a necessidade de partilha-la?
A primeira vez que recebi o convite para escrever um livro para pais foi em 2011. Na altura já trabalhava com famílias há cerca de três anos, mas sentia-me ainda longe de transpor essa experiência para livro. Por outro lado, senti que havia um pouco a expectativa de “um manual de instruções”, o que não era de todo o que eu queria fazer. A parentalidade já está demasiado sobrecarregada com instruções, palpites e teorias.
Eu queria escrever algo diferente, libertador dos instintos dos pais e que pudesse significar uma verdadeira aproximação entre pais e bebés. Por outro lado, sentia que transpor a minha experiência para livro era uma grande responsabilidade. Um livro é algo de muito sério. Para mim era preciso ganhar muita maturidade profissional e investigar muito antes de me sentir pronta para o escrever .
Uns anos mais tarde recebi mais convites de editoras e acabei por aceitar o da Matéria Prima, precisamente por sentir que não haveria limitação na forma como queria fazê-lo e também porque, tudo aquilo que eu trabalhava com as famílias e tudo o que a minha experiência e investigação me indicava, não estava a ser dito por mais ninguém. As famílias diziam-me: “É necessário”. E eu senti que era o momento. Demorei quase três anos a escrevê-lo.
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O que podem aprender os pais com este livro?
Vão conhecer melhor os seus bebés, o porquê dos seus comportamentos, aquilo que é de facto “normal” para o bebé humano. “Os Bebés Também Querem Dormir” compila a minha experiência nos últimos sete anos junto de famílias com bebés que choram inconsolavelmente, têm dificuldades de amamentação, ou cujas famílias atravessam dificuldades com o sono ou a harmonia das necessidades de todos.
Por esse motivo inclui muitas histórias reais de pais e bebés, bem como várias estratégias práticas para acalmar o bebé que chora, para melhorar os sonos diurnos e nocturnos e para nos ligarmos mais profundamente ao nosso bebé, compreendendo o que ele nos está a transmitir.
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Há diferentes tipos de choro? Como é que os pais podem identificá-los?
O choro é uma linguagem. Portanto é preciso escutá-lo com atenção. Biologicamente estamos desenhados para isso. Quando ouvimos o bebé a chorar os nossos níveis de alerta sobem, para que possamos selecionar a resposta adequada. Ficar nervoso quando um bebé chora não é ser “galinha” ou demasiado ansioso.. é apenas normal e expectável: é suposto que o choro do bebé nos incomode, senão as suas necessidades não seriam atendidas.
O choro de fome por exemplo, é o primeiro que os pais aprendem a reconhecer.. mas há muitos sinais precoces antes dele. O choro inconsolável está muitas vezes relacionado com a incapacidade de se auto-regular face aos estímulos, é preciso a ajuda dos pais, do colo… e muitas vezes há medo de o dar.
Deve dar-se colo sem medo. O bebé não se habitua ao colo, o bebé já vem desenhado para estar ao colo. Depois é preciso trabalhar a linguagem fora do choro. Porque o choro não é de todo a única linguagem do bebé… é a linguagem tardia, a linguagem gritada. Quanto mais os pais olharem e conhecerem os seus bebés, melhor reconhecerão o porquê do bebé chorar e também os sinais que lhes dá fora do choro.
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Qual o caso mais complicado que teve durante a sua carreira?
São sempre os bebés que choram muito. Já tive bebés que chegavam a chorar quatro e cinco horas seguidas sem que os pais conseguissem acalmá-los de forma alguma. Muitas vezes são também bebés que recusam dormir. Já tive bebés que acordavam de meia em meia hora à noite ou que demoravam muitas horas para adormecer.
É preciso dizer que eu só trabalho com bebés que estejam a ser acompanhados por pediatra ou médico assistente e que já tenha havido um despiste em termos de saúde para o choro e o sono. Então eu trabalho a linguagem e o relaxamento do bebé. Apoio os pais na descodificação do que o bebé possa estar a querer dizer-nos.
Em alguns casos é preciso trabalhar em equipa: pediatra, psicóloga e eu. Curiosamente os casos aparentemente mais complicados foram muitas vezes aqueles que também se resolveram mais pacificamente… só era preciso colocar palavras nas mensagens que o bebé estava a passar tão desesperadamente.
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Quais os principais conselhos que recomenda a todos os recém pais?
Olhem para os vossos bebés. Não como algo que vos transcende ou que vos é incompreensível. Não como algo de incrivelmente complicado para o qual temos que ter logo todas as respostas. Não como algo que é urgente dominar, treinar ou “domesticar”. Olhem para eles como a vossa cria. Algo que é vosso para cuidar, proteger, compreender. Sem desconfianças, sem medos.
Olhem e falem com os vossos bebés com a mesma confiança e empatia com que falariam com alguém que vos é imensamente querido. E se sentirem que precisam de ajuda, peçam-na junto de quem tem a mesma atitude de compreensão convosco e com os vossos bebés. E sintam que é no interior de nós, pais, que estão as grandes respostas que nos permitirão seguir o nosso caminho com mais confiança. A nossa voz interna é o melhor guia.
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