Como gerir o cansaço e o amor?
A Vanessa Muchagata do Para Lerem Quando Crescerem partilha connosco uma história de amor, cansaço, individualidade e maternidade, num relato que emociona porque é transversal a todas nós, Mães.
O cansaço das Mães acumula-se devagarinho, lentamente, noite após noite em que se dorme de forma intermitente, entre as refeições engolidas à pressa, nas discussões diárias sobre assuntos pouco relevantes, insignificantes até, sobre o relógio que te apressa o passo e te acusa o constante atraso, com as palavras que se atrapalham umas sobre as outras que te levam à dislexia que te tolda o discurso, as birras exaustivas e frequentes, quando se trabalha dentro e fora de casa, quando tentamos cuidar de nós mesmas, quando chegamos ao ponto de esforço para conseguir alimentar o Amor.
Mas como gerir o efeito colateral deste Amor maior que é ter um filho? Porque o cansaço é nada mais nada menos do que a consequência inevitável de uma escolha livre. Ser Mãe!
E esta escolha faz-me viver sempre como se tivesse outros dois corpos para além do meu, corpos esses que também precisam de ser alimentados e cuidados, que me trazem angustia se ficam doentes, se não estão a respirar bem à noite, se não comem, se não estão a crescer como deveriam, outros dois corpos que tento proteger a todo o instante de toda e qualquer agressão, mas há ainda o meu corpo, que tem que existir e resistir porque aqueles outros corpos precisam de mim e às vezes o meu corpo não consegue.
Não consegue, porque as escolhas livres às vezes também são insidiosas, tal como o cansaço das mães é insidioso, suga-te por dentro e torna-se quase uma condição crónica, e às vezes és envenenada pela falta de paciência, pela frustração, pelo julgamento, pela falta de consolo, pela culpa, pelo descontrolo, pelos gritos, pela vontade de fugir, pelas respostas tortas e menos correctas, porque és humana e falível, e tudo isto porque simplesmente, estamos cansadas.
Mas às vezes, e independentemente da decisão de ter filhos ter sido minha, eu preciso de me permitir deixar de sentir este cansaço e preciso de um tempo.
Mas precisas de um tempo como? Mas não são os teus filhos o meu melhor da tua vida?
O Amor pelos meus filhos não tem limites ao contrário da minha energia que é tantas vezes levada pelo cansaço, quase como se o Amor fosse o motor da maternidade e a energia o seu combustível, e sem combustível todo o Amor que sinto não será suficiente para trazer sempre ao de cimo o melhor de mim.
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