Olá, Pais. Bem vindos à (minha) adolescência! - Pumpkin.pt

Olá, Pais. Bem vindos à (minha) adolescência!

adolescência

A voz de um adolescente sobre esta fase tão marcante da vida.

Mariana Santos Paiva, Psicóloga Clínica da Oficina de Psicologia, “entrou nas palavras” de um adolescente e escreveu esta carta aos pais, com conselhos, lembranças e orientações para melhor lidar com esta fase decisiva da vida dos filhos. 

Acho que para os meus pais é complicado compreender que me encontro numa fase de grandes mudanças. Se, por um lado, já não me identifico com certas brincadeiras ou interesses que tinha quando era mais pequenino; por outro, ainda não me revejo em responsabilidades e tarefas próprias de quem é crescido.

Ser adolescente é ganhar consciência dos valores e princípios que adquiri na infância e que têm moldado a construção da minha personalidade e agora me ajudam a orientar o meu futuro. Ser adolescente é sofrer alterações a nível físico, psicológico, emocional, social que deverão ser respeitadas e acompanhadas pela minha família com amor e disponibilidade, o que só é possível se existir partilha e confiança entre pais e filhos.

Para que me entendam melhor, seleccionei 6 principais desafios que tenho enfrentado nesta fase:

1. O primeiro diz respeito às transformações físicas nas raparigas e nos rapazes que são variadas e naturalmente diferentes, a nível fisionómico, hormonal ou sexual. Vão surgindo de forma desigual e imprevisível o que muitas vezes leva a uma situação de vulnerabilidade, dada a falta de controlo no próprio corpo. O diálogo é fundamental no sentido de ir respondendo às nossas dúvidas e questões. É natural que haja momentos em que nos sintamos pouco confiantes ou inseguros e por isso iremos precisar de ser elogiados e incentivados.

2. O segundo tem a ver com a crescente conquista de independência e maturidade. Desde pequeninos vamos adquirindo competências e habilidades que nos permitem desempenhar determinadas funções/papéis de forma autónoma. Cada vez temos mais responsabilidade e somos chamados constantemente a tomar decisões e fazer escolhas que têm impacto no nosso futuro. Esta construção do nosso espaço torna-nos muitas vezes alheados do que se passa na Família, o que poderá incomodar os pais, já que não nos sentem tão envolvidos e presentes como dantes.

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3. A sociedade em que vivemos também nos desafia constantemente. Os outros têm muito impacto em nós, bem como as suas atitudes e escolhas. Sentimo-nos muitas vezes pressionados a ir ao encontro do que esperam de nós e a corresponder às experiências e interesses dos nossos amigos e conhecidos porque estamos inseguros e pouco convictos do que queremos. Precisamos que os pais nos ajudem e nos orientem quando percebem que estamos a ter comportamentos desadequados ou precoces. Precisamos que estes se interessem pela nossa vida de uma forma diária.

4. Esta é também uma altura em que a natureza das nossas relações se começa a alterar, tornam-se mais maduras, complexas e selectivas. Antes interagíamos com as outras crianças de uma forma espontânea e desprovida de qualquer outro interesse para além da amizade. Agora identificamo-nos mais com determinadas pessoas/grupos; damos significados diferentes aos relacionamentos e despertamos para as sensações e emoções que estes provocam em nós. Deixam de ser exclusivamente relações sociais para dar lugar a relações amorosas.

5. Um outro é a instabilidade emocional que vivemos constantemente. A velocidade a que passam ideias, sonhos, expectativas, anseios, vontades pela nossa cabeça é muitas vezes superior à nossa capacidade de reacção, o que acaba por nos desregular. E o facto de nos termos que “despedir” da criança que fomos e abraçar agora as novas aquisições próprias da vida adulta poderá ser assustador e levar-nos a sentimentos de incompreensão e frustração.

6. Em termos escolares também existem alterações. Se antes o nosso foco eram os estudos, agora o espectro está bastante mais alargado, o que nos poderá levar a negligenciar o trabalho escolar. Também a necessidade de nos afirmarmos própria desta fase gera por vezes situações de desafio perante as normas e as regras impostas, que outrora não eram questionadas.

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Estes são alguns exemplos que ilustram a forma como percepciono a adolescência, que penso serem comuns a outras pessoas da minha idade. Dos meus pais espero compreensão pelo facto de estar a crescer e de também eles já terem passado por esta fase. Claro que vou precisar que estipulem limites e não aceitem tudo o que eu quiser fazer, não quando é prejudicial para mim no imediato ou claramente terá impacto negativo no meu futuro. Não quando estiver a desrespeitar ou a magoar outras pessoas à minha volta.

Espero que os meus pais consigam ser assertivos comigo, dando-me espaço e liberdade para me desenvolver, sem que esta seja excessiva. Sei que não é uma tarefa simples, ser pai ou mãe de um adolescente, mas garantindo uma relação baseada em confiança, abertura, proximidade e consistência torna-se mais fácil viver comigo este período que é fundamental na construção do Adulto que serei.

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