A entrada no mundo da parentalidade ensina que o amor não tem limites. Com este amor sem limites, muitas vezes, chega o sentimento de culpa.
A culpa pode tornar-se um bloqueador de felicidade e bem-estar e um impulsionador de ansiedade, dificuldade em observar as potencialidades da criança e de acreditar que muito é possível desde que se percebam que adaptações ou ajustes que se podem fazer perante as fases ou desafios que vão surgindo.
Este texto é para si que sente culpa. A culpa que vem do amor de ser pai ou mãe. E foi escrito pela Beatriz Pereira, do blog Mais q’Especial.
Porque surge o sentimento de culpa na parentalidade?
O sentimento de culpa surge na sequência do amor sem limites. Quando amamos, queremos proteger, dar tudo de nós para que a pessoa que mais precisa esteja no seu melhor e se sinta o melhor possível.
No entanto, há questões biológicas, neurológicas, comportamentais ou desenvolvimentais que, enquanto não forem realmente aceites ou observadas, dificultará o caminho da felicidade e bem-estar. No fundo, não te permitirá conhecer verdadeiramente a criança e “vive-la” na sua verdadeira essência.
A culpa pode ser mais do que uma.
Estarei a fazer o suficiente?
O sentimento de culpa traduz a sensação de não se estar a fazer o suficiente. Pois bem, pára e pensa comigo: se te preocupa se estarás a fazer o suficiente, é porque certamente te preocupas e olhas para o teu filho/a e tens interesse em saber como fazer. Isso já não é importante? Acredito que sim.
Quando sentires culpa, faz uma pausa de dez minutos e pensa em duas ou três coisas que fizeste na última semana para ajudar o teu filho/a. Não tens de ter super-poderes, basta dares o teu melhor!
Não posso mais
O sentimento de culpa também pode estar relacionado com a saturação de toda a logística, rotinas, as terapias no caso das necessidades especiais, etc. É normal este sentimento. Antes de pai/mãe, lembra-te que és uma pessoa e tens direito a sentires o cansaço. Se estás a passar por esta fase aconselho-te a arranjar ajuda para teres tempo para ti ou até mesmo refletir sobre o que poderás reformular no teu dia-a-dia que te dê alguma “pausa”.
Saber pedir ajuda é um ato de coragem e libertação, não é sinal de fraqueza. Saber dar prioridade a ti mesmo, é fundamental para que estejas mais feliz, para que te sintas mais disponível emocionalmente e fisicamente para os que te rodeiam e contam contigo.
A culpa pelo comportamento da criança
Quando uma criança tem comportamentos desajustados, nos surge com um desafio derivado do seu próprio crescimento ou até mesmo de um diagnóstico, é frequente que os pais e a família da criança passem por uma fase de negação, de raiva, de indignação. Outra das fases, é a fase da culpa…e muitas vezes, esta fase transforma-se num elemento da família da criança, dificultando aos seus membros reconhecer potencialidades, reconhecer talentos, reconhecer pontos positivos, valorizar conquistas.
Em vez de te perguntares “o que fiz de mal?” pergunta-te “fiz algum mal intencional ao meu filho/filha para que esteja/seja assim?”. Por vezes, não há biologia, neurologia ou comportamentos que consigas alterar pelas tuas próprias mãos. Outras vezes, bastará procurares saber mais sobre o desenvolvimento do teu filho/a, parares para refletires não sobre o que possas ter feito de mal, mas sim sobre o que podes fazer para ajudar o teu filho/a.
Em vez de lutares contra ou te deixares ficar pelo que estás a sentir no presente, faz o teu caminho para escutar, aceitar a natureza, as dificuldades e necessidades do teu filho/a e focares-te em conhecê-lo, em descobri-lo.
Não consigo dar atenção aos meus outros filhos
A verdade é que quem tem mais do que um filho, e principalmente se algum deles tem necessidades especiais, sente que não está a conseguir dar atenção ou a acompanhar os passos de todos de igual forma. Com isto, é frequente que te questiones se estarás a falhar com a tua família.
O melhor que podes fazer é validares que as circunstâncias, por vezes, assim o levam. Lembra-te de que 5 minutos de grande foco e interesse, são mais valiosos do que 24 horas lado a lado sem grande comunicação ou ligação. Por isso, agarra-te a todos os “5 minutos” e verás que todos sentirão que são valiosos de igual forma para ti.
A importância de te libertares da culpa
A culpa poderá funcionar como um portão que não te permitirá ser dono das tuas emoções, saber observar e analisar de forma mais clara as verdadeiras questões, comportamentos ou dificuldades que o teu filho/a está a passar. Ao estares por detrás desse portão, não conseguirás ajudar na superação das suas questões e estar tão disponível quanto queres para ti, para o teu filho/a ou para a tua família.
O truque é fazeres o teu caminho para aceitar a criança e/ou as circunstâncias. E o aceitar irá permitir-te focar todos os teus esforços e intenções em superar desafios, em promover e estimular o desenvolvimento do teu “amor sem limites”, tornando-te a ti, ao teu filho/a e à tua família num ninho ainda mais feliz e unido!
Aceitar é amar sem limites e sem culpa.
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