Isto de ter filhos é tentativa e erro e não há mães perfeitas. Vamos parar de agir como se houvesse um método único e infalível e aplaudir todas as famílias que estão a fazer o melhor que podem.
Quem nunca foi criticada por pessoas cheias idealismos e perfeições? Entramos completamente noutro mundo a partir do momento que nos começam a tratar por mãe. Como reagir? O que dizer? Conheça a perspectiva da Susana, do blog Ervilhas e Cenouras.
Isto não é exactamente um tópico novo. Estamos constantemente a ser bombardeados com críticas às mães (sim, os pais também levam, mas todos nós sabemos que a culpa é sempre da mãe, certo?) acerca de tudo o que concerne os filhos e maternidade em geral.
Há uns dias li no Vegana é a sua mãe que a Pink publicou uma foto no Instagram dela, a saltear legumes enquanto tinha a filha de meses num canguru. Que horror! disseram as massas – está a prestes a queimar a a filha bebé! Mas não queimou. Porque as leis da física não permitem que um feijão-verde salte da frigideira 20 cm para o lado. Ainda por cima a outra filha mais velha estava em cima do balcão da cozinha. Podia cair e partir a cabeça! Quando vi a foto, sinceramente, revi-me na situação.
Está claro que não devemos ter um bebé ao pé de, sei lá, óleo ou água a ferver que podem de facto saltar; mas durante os primeiros meses do Simão tudo era feito com ele no ergo. Porque ou era assim, ou não comíamos.
Já há um nome para isto: mom-shaming. É o envergonhar as mães por decisões que tomam acerca do que fazer ou não com e para os filhos. Hoje vou só levantar um bocadinho do pano.
5 coisas que pel’a-amor-de-deus-parem-de-criticar
Amamentação – Eu tive muita sorte: o Simão começou a mamar assim tocou com a boca no mamilo e nunca tive problemas nenhuns com amamentação. Mas sei bem que não é o caso com toda a gente. Ouço muitas mães a dizerem coisas do estilo “Ah, não tinha leite/ o leite era fraco/ ele não pegava/ etc”. Para além de que isso do leite fraco não existe, fiquei muitas vezes com a impressão que estas mulheres estavam maioritariamente a arranjar desculpas para não quererem amamentar sem serem julgadas por isso. Ora, porque raio havia uma mulher de ter de arranjar desculpas para não querer amamentar? Mas afinal de quem são as mamas? “Não quero” é um motivo perfeitamente válido, seja porque for. Há 30 anos atrás, quando os Leites Adaptados estiveram na berra e haviam médicos a darem injecções para “secar o leite” e a clamar a superioridade da lata, muita criancinha cresceu com o biberão. E cá estamos para contar história. O que faz bem ao crescimento dos bebés é terem as mães descansadas e com sanidade mental sem terem de justificar o que andam a fazer com as suas mamas. Aqui quero fazer uma ressalva: obviamente não apoio quando uma mãe não quer amamentar e depois vai comprar leite de vaca. A vaca também não queria amamentar o vosso filho, queria que não lhe tivessem morto o dela, a quem o leite era destinado. Mas há opções de LA vegetais!
Vacinas – Como já devem saber, eu defendo a vacinação e estou disposta a ter uma conversa séria e calma acerca deste tema. Mas as guerras das vacinas estão a tornar-se ridículas e não me parece que alienar quem não vacina apelidando-os de ignorantes ou, pior, de matarem os filhos, tenha bons resultados. A culpa de haver tantos pais que não querem vacinar os seus filhos (e que desconfiam da medicina moderna, no geral) é dos profissionais de saúde. Lamento se estou a ofender alguém, mas até a Bastonária da Ordem dos Enfermeiros comentou isto mesmo num programa qualquer quando houve o surto de sarampo recente. Se as pessoas vão à procura de conselhos de estranhos na internet, é porque algo esta errado com o método dos nosso médicos, certo? Mas independentemente de onde está a culpa, repito: chega de chamar nomes a outros pais que estão genuinamente a fazer aquilo que acham ser o melhor para os seus filhos.
Alimentação – Isto vem em seguimento da amamentação. Nós somos vegetarianos por motivos éticos; claro, é mais saudável e ecológico, mas isso são bónus. Quem segue o meu Instagram já me viu a dar bolachas e fritos ao Simão e até a deixá-lo lamber a tigela da massa do bolo de chocolate. Os miúdos não ficam nem subnutridos nem obesos de um dia para o outro e se houver falhas na alimentação, os pais podem ir corrigindo. Logicamente não apoio deixar miúdos comer porcaria a torto e a direito e ficarem obesos/diabético com 5 anos. Mas há parte dessas situações extremas, qual é o problema? Uns só comem biológico e sem açúcar; outros comem tudo cru; outros gostam de pizza e lasanha (eu!); a verdade é que o ser humano é extremamente resiliente e capaz de se adaptar a várias dietas e crescer bem e saudável.
Dormir e colo – Esta é um 2-em-1 mas tem a mesma raiz: a independência das crias. Num extremo estão os pais que deixam os filhos dormir sozinhos num quarto assim que possível e não os querem “habituar ao colo”; no outro, pais que praticam o co-sleeping e babywearing. Ora, eu estou mais neste último grupo. Mas isto porque foi o que resultou connosco, nesta fase da nossa vida, com este bebé. Não me passa pela cabeça andar a criticar quem não o faz, mesmo que ache ilógico a ideia de que é possível “habituar” um recém-nascido que sempre esteve “ao colo” in-utero a estar sempre deitado sozinho. Isto é uma opinião que tenho para mim, partilho-a se o tema vier à baila, mas quando há outra família a fazer outro esquema que resulta com eles, fico caladinha e aplaudo.
Método de ensino – A grande praga do sistema educativo é ser um molde quadrado que obriga os triângulos e os círculos e a caberem lá dentro. Ou vão haver espaços por preencher, ou os triângulos e os círculos não passam (literalmente). Como educamos os nossos filho vai ter que ver com a) nós b) eles c) recursos disponíveis. Tudo isto varia grandemente de família para família e ao longo da vida. Para uns, a solução pode ser o ensino doméstico, para outros, um colégio interno na Suíça.
Isto de ter filhos é tentativa e erro e não há mães perfeitas. Vamos parar de agir como se houvesse um método único e infalível e aplaudir todas as famílias que estão a fazer o melhor que podem.
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