Cada um sabe dos seus.
Eu, às vezes não sei das minhas.
Talvez seja a nota mais marcante da minha relação com as minhas filhas, a autonomia. A verdade é que nunca li nada sobre isso, nem nunca procurei uma base que sustentasse a forma como as educo. Menos ainda, li literatura pedagógica que encorajasse um qualquer modelo que tentaria levar à prática. Nem imitei a educação que me deram, porque lhe reconheço deficiências profundas. Fui mãe por intuição. E as únicas premissas que tinha, sem fazer delas verdades absolutas, era de que eu já estava cá primeiro e que não era no exercício da maternidade que confiaria a realização plena do meu ser. Posso dizer à boca cheia que sou de longe, das mães mais descontraídas que conheço, mas não o faço movida por nenhum principio de “coolness”, é só assim que sou. Confio. Entrego. Permito. Desde que nasceram que dormem fora, em sofás, gavetas improvisadas e em casas de amigos recentes. Nunca deixei que o conforto de uma logística cerrada se sobrepusesse a tudo o que o lhes podia proporcionar. Sempre as fiz sentirem-se nómadas, quando lhes repito, vezes sem conta, que o mais importante levamos sempre connosco. Sempre as deixei ir com quem vinha de bem, e sempre mas devolveram inteiras. Se é questionável? Não sei. O que sei é que a confiança gera amor e o amor gera confiança. E é na confiança da vida que nasce o Sonho. E se a vida nem sempre é um sonho, a verdade é que o amor, nunca deixará de ser a maior lanterna da humanidade. Sem confiança não há entrega, sem entrega, não há partilha, sem partilha, não há conhecimento. E se não se conhece, não se sonha da mesma maneira.
Proteger só é cuidar, se o cuidado não asfixiar a vida. É uma aprendizagem dolorosa para as mães, constatarem que de facto, nunca serão donas dos seus filhos. Mas serão sempre donas dos seus sonhos.
E houve um dia que sonhei que ia ser mãe.
Este artigo foi-nos gentilmente cedido pela fotógrafa Isabel Saldanha.
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