Guardar o Sábado - um hábito bíblico para a vida moderna - Pumpkin.pt

Guardar o Sábado – um hábito bíblico para a vida moderna

A importância de ter um dia de pausa, sem andar a correr entre tarefas domésticas, compromissos sociais e horas em frente ao ecrã

Fim-de-semana. Depois de uma semana de trabalho, escola, lancheiras e despertadores, eis o descanso. Mas é mesmo? Ou o fim-de-semana passa a correr entre supermercado, limpar, arrumar, lavar roupa e saltar entre três reuniões familiares diferentes? E quando chega a Segunda-Feira de manhã recomeçamos tudo, ainda mais cansados do que antes? A Susana Oliveira do Ervilhas e Cenouras lembra-nos a importância de “guardar o Sábado”. 

Na última Miscelânea Ocasional, mencionei que andamos a “guardar o Sábado”. Não me alonguei muito porque queria mesmo escrever um post inteiro sobre esta experiência. Historicamente, a ideia de guardar o Sábado vem do Êxodo, quando Deus terá revelado a Moisés os mandamentos e um deles ordena “lembra-te de guardar o Sábado, para o manter santificado”. O Sábado, seria portanto um dia dedicado ao descanso e à devoção religiosa. Quando digo descanso, é mesmo descanso hardcore. As proibições durante o Shabbat judaico incluem coisas como tecer, carregar coisas para fora de casa, tosquiar ovelhas, e tal. Vindo o cristianismo, o dia santo passou a Domingo, sem proibições mas igualmente com serviço religioso. Pronto, isto é o contexto histórico/religioso, para não acharem que estou completamente maluquinha.

Há umas semanas estava a ouvir um podcast norte-americano onde a locutora diz que ela e a família começaram a praticar o descanso semanal, numa espécie de shabbat moderno (e, no caso dela, cristão). Ora, nós somos ateus. Mas será que não podemos aprender nada com esta ideia?

Decidi que sim, que iamos tentar.

As nossas regras para Sábado:

(relembro que o funciona para a nossa família neste momento pode não ser o ideal para outras famílias ou outros momentos; cada um sabe do seu contexto e fará as suas regras)

Não há tarefas domésticas – é tudo dividido pelos outros dias; antes de começarmos com esta experiência, Sábado era o dia de lavar os caixotes do lixo/reciclagem/gato. Esta tarefas foram transferidas para as Quintas. De resto, só lavamos mesmo os pratos das refeições; nem a cama me dou ao trabalho de fazer, até porque frequentemente durmo a sesta aos Sábados ou passo a tarde deitada a ler um livro de janela aberta. Não se apoquentem; a roupa por arrumar espera por vocês noutro dia qualquer.

Não cozinhamos – comemos restos de outros dias, comemos fora, comemos congelados. Fazer uma lasanha na Sexta ajuda. Isto também ajuda a reduzir o número de loiça a lavar. Se nos apetecer fazer um bolo para o lanche, fazemos claro, mas não é uma tarefa.

Não vamos às compras – só se formos dar um passeio e passarmos pela padaria, ou assim. Supermercados? Centros Comerciais? Hell no.

Não usamos ecrãs individualmente – mensagens de telemóvel são a excepção. De resto, ecrãs só para ver filmes em conjunto, jogar Mario Kart um contra o outro (ele ganha sempre…), Skype com a família, enfim coisas com outras pessoas. Claro que se o meu marido estiver a trabalhar eu estou “autorizada” a ver um filme sem ele. A ideia é não cairmos nas profundezas da internet enquanto podíamos estar a curtir a família. Portanto não há Facebook, Instagram só se for para filmar no Stories e esqueçam o Pinterest, esse poço demoníaco sem fundo.

Não nos excedemos em compromisso sociais – para quem tem família extensa/longe esta pode ser difícil. É ao fim-de-semana que se fazem as reuniões familiares, as festas de anos, é quando os avós querem ver os netos, etc. Mas às vezes temos de dizer que não. Até porque nós também trabalhamos a semana toda e também queremos tempo só os 3 ao fim-de-semana! A ideia é encontrar um equilíbrio: um compromisso familiar por fim-de-semana e, idealmente, ao Domingo. É claro que se há um familiar próximo que se casa num dia e outro que faz anos noutro, vamos. Mas essas situações são raras. Temos de perceber que todo o tempo que passamos a andar de carro de um lado para o outro, a gerir sestas e comida, a chegar a casa tarde, tudo isso nos cansa.

Imaginem só: acordar no Sábado e não ter nada para fazer! Descansar, calar o ruído constante das tarefas, das redes sociais, dos jornais online que abrem link atrás de link. E para quem tem filhos pequenos, só o cuidar das necessidades básicas do gremlins já é trabalho suficiente!

Mas como é que podemos abdicar do Sábado como dia útil para tarefas?

Boa pergunta. É preciso algum planeamento. No nosso caso passamos a tal lavagem de caixotes para outro dia. Não sei se vocês têm as tarefas domésticas divididas pelos dias da semana, mas se não têm, está na altura.

Dizer Não a esta correria toda é dizer Sim ao tempo em família, ao descanso de que precisamos e às nossas necessidades individuais (AH! lembram-se que somos pessoas  únicas com necessidades únicas?) . É no tempo em que “não fazemos nada” que recarregamos baterias, que nos entretemos com pensamentos novos, deixamos fluir a criatividade, tudo isso. Não é por acaso que os professores universitários tiram ocasionalmente “anos sabáticos”; cada vez mais os jovens começam a fazer o mesmo entre o secundário e o ensino superior (ou outra via de estudo/trabalho); é essencial para o desenvolvimento intelectual uma pausa do trabalho quotidiano para descansar e reflectir, possivelmente estudar algo que nos interesse mais, ter outro tipo de experiências às que estamos habituados. Vamos lá ver: se até Deus trabalhou seis dias e descansou ao sétimo, como é que nós, comuns mortais, havemos de manter a sanidade mental sem descansar?

Bom fim-de-semana (com uma pausa sabática)!

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