Os pais perdem o controlo com alguma facilidade por inúmeros fatores do seu dia-a-dia, mas existe a necessidade de aprender a controlar as emoções, especialmente no que toca à relação com os filhos.
Desengane-se quem pensa que ser pai é fácil. A falta de sono, a inexperiência e as pressões sociais a que os novos pais estão sujeitos potenciam a falta de paciência dos pais. Apesar de não ser suposto os pais perderem a paciência, de acordo com o que ditam as regras que nos são impostas pela sociedade, a verdade é que é algo que é muitas vezes inevitável. Ainda assim, esses momentos afetam a criança psicologicamente.
Como acalmar as crianças depois de uma zanga com os pais?
Mas antes disso, o objetivo passa por analisar, com base em dados recolhidos de outros artigos, como é que estes momentos podem causar danos no desenvolvimento psicológico das crianças.
Como as discussões afetam as crianças
De acordo com algumas pesquisas, a exposição à raiva ou sentimentos negativos pode alterar padrões comportamentais, afetar a forma como as crianças socializam e diminuir a sua autoestima. Além disso, podem ainda gerar ansiedade excessiva e desnecessária.
Foto: Mohammed Abdelgaffar (Pexels)
O ideal seria que os pais estivessem sempre (ou quase sempre) calmos – entenda-se tranquilos -, mas quando isso não acontece, a solução passa por acalmar a criança.
De acordo com a terapeuta familiar especialista em saúde mental infantil Shanna Donhauser, “as crianças estão constantemente a aprender com o meio envolvente, especialmente com as relações familiares. A rutura e o conflito são inevitáveis, mas a reparação dessas estruturas fortalece as relações e ajuda a criar [e solidificar] conceitos como a confiança, o conforto e a segurança“.
Tendo em conta esta afirmação, a especialista identificou quatro passos para ajudar os pais a, por sua vez, ajudar os seus filhos a ultrapassar a experiência de ver os pais muito zangados consigo. Se pensam que agir como se nada se tivesse passado é a solução, lamento informar-vos que não é bem assim.Enquanto pequeninos seres em crescimento, é muito importante que as crianças experimentem os vários tipos de emoções para que, futuramente, possam tirar as suas próprias conclusões, a tal “moral da história” da qual os pais falam sempre no final da leitura de um livro.
Quatro passos para acalmar os pequenos depois de uma discussão
1. Vamos lá a acalmar
Foto: Rebecca Blandon (Unsplash)
Este é o primeiro passo. Os pais precisam de se afastar e analisar o que levou à perda de controlo para depois poderem falar tranquilamente com os filhos.
A psicóloga e autora do livro “The Anger Workbook for Women”, Laura Petracek, aconselha os pais a deslocarem-se até outra divisão da casa, “mesmo que seja apenas por uns poucos minutos”
Shanna Donhauser concorda com a psicóloga Laura e acrescenta, em declarações ao Fatherly, que “é como a regra de segurança da companhia aérea: ‘proteja a sua própria máscara de oxigénio antes de tentar ajudar os outros’. Os pais não podem apoiar os filhos enquanto ainda estão com raiva ou em processo de acalmia.”
Ainda no rescaldo do momento, experimentem imaginar os vossos filhos enquanto bebés, declara Sandra Thomas, professora da Universidade do Tennessee, nos EUA, e co-autora de “Use Your Anger: A Woman’s Guide to Empowerment” ao Good Housekeeping.
“As crianças e os adolescentes não são tão adoráveis como os bebés, e às vezes podem mesmo ser muito desagradáveis”, explica. Mas, relembra que “quando se lembram deles como bebés que foram um dia, isso pode acalmar-vos” e colocar os acontecimentos de uma outra perspetiva.
2. Refletir no que a criança viu e experienciou
Foto: Sharon McCutcheon (Unsplash)
As explosões de emoções dos pais podem parecer muito assustadoras e até ameaçadoras para as crianças. Portanto, é importante que os pais se possam colocar no lugar da criança e ver a situação da sua perspetiva.
“Terá sido a postura que os assustou? Ou os gestos?”, “Foi algo que disse?” são algumas das perguntas sobre as quais podem refletir para tirarem, depois, algumas conclusões que servirão para modificar o comportamento no futuro (não esquecendo, claro, que estão a analisar a situação do ponto de vista da criança).
3. Reparar o dano causado
Foto: Caroline Hernandez (Unsplash)
Neste terceiro passo é quando se dá a reconexão. Podem começar por convidá-lo a sentar-se confortavelmente num local do agrado da criança.
Existem crianças que não querem falar abertamente sobre o que aconteceu e que preferem brincar à medida que absorvem e trabalham as suas emoções e não existe nenhum mal nisso.
Ainda assim, a terapeuta Shanna Donhauser, que detém a Happy Nest Therapy, aconselha os pais a partilharem as suas emoções e as suas intenções, independentemente da criança estar a contribuir ativamente para a resolução do problema ou de estar ainda a processar toda a informação do sucedido.
“Envolvam o vosso filho no processo de reparação [do dano causado], para que ele possa criar [em conjunto com os pais] soluções para esse problema.
As crianças são criativas e muitas vezes apresentam ótimas soluções, quando têm essa oportunidade. Quando são convidados a criar soluções, também eles ficam mais propensos a permanecer cooperativos e ultrapassar o problema que tiveram ainda há instantes.”
4. Conectar novamente com a criança
Foto: Sai de Silva (Unsplash)
Depois da reparação segue-se a procura de oportunidades para se conectarem novamente com o pequeno – seja numa deslocação ao parque infantil ou no simples ato de se disponibilizarem para brincar com as crianças.
Ao contrário do que muitos pais e “plateia” possam pensar, esta dica não serve o propósito de fazer de conta que nada aconteceu, mas sim de mostrar que se preocupam e que têm interesse em manter a vossa relação forte, porque, no final das contas, a demonstração de amor e de carinho é o que mais importa em qualquer relação humana.
Segundo Shanna Donhauser, os pais precisam perceber que a criança não merece, nem precisa sentir-se fisicamente ameaçada por um “disparar de emoções” dos pais nos dias em que a mais pequenina coisa os irrita ou os faz perder controlo, mas sim que estão preocupados com a sua relação de pai-filho (ou mãe-filho/a). É por esse motivo que é tão importante os pais aprenderem a controlar estes impulsos. Caso sintam que isto não é uma tarefa fácil, considerem a hipótese de procurar um profissional que vos ajude.
Pode não ser fácil admitir que, enquanto pais, temos dificuldades em controlar as nosssas emoções, mas ser pai e mãe é isso mesmo: ter o discernimento de perceber que errámos e que temos de fazer algo para mudar isso, mesmo que isso signifique procurar ajuda – que, aliás, diga-se de passagem, não é problema nenhum. Todos somos humanos e o que nos distingue é a capacidade de vermos o que fizemos de errado e procurar remediar e não voltar a fazer.
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