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Chega de “porquês?”!

chega de porquês

Os "porquês" podem, na verdade, ser a razão pela qual o seu filho não ouve as suas perguntas.

Os nossos filhos zangam-se muitas vezes. Gritam, choram, “fazem birras”, e conseguem levar-nos à exasperação e ao desespero na mesma medida.

Não é intencional, mas fazemo-lo muitas vezes, entre a pressa da vida e a necessidade de lhes minimizar o sofrimento, a angústia ou as revoltas do dia-a-dia: segundo Adele Faber e Elaine Mazlish, autoras do intemporal “Como Falar Para as Crianças Ouvirem e Ouvir Para as Crianças Falarem“, os pais têm uma tendência inata para diminuir as dores e as queixas das crianças. Como? No mais simples, mas também naquilo que mais impacto traz.

Os exemplos podem parecer extremos, mas são apenas paralelos para a realidade. Uma criança choraminga porque cortou o dedo numa folha de papel, e os pais respondem, mesmo que a brincar, “vê lá se te sai daí a tripa”. Ou uma criança queixa-se de ter frio, e nós, mesmo que também o sintamos, rimos e dizemos que o frio é psicológico.

Este desvirtuar de sentimentos é a primeira das quebras de confiança entre pais e filhos, porque as crianças esperam que os adultos lhes resolvam todos os problemas, e sentem a falha na resposta que imaginavam.

O fundamento da abordagem de Faber e Mazlish para educar é reconhecer os sentimentos das crianças

Não diminuir, não minimizar, não fugir das explicações, não culpar, não procurar soluções imediatas. Apenas e só reconhecer. Ouvir. Valorizar.

Faber e Mazlish dizem-nos que são quatro as formas como os pais podem praticar este reconhecimento:

– Os pais podem simplesmente olhar nos olhos das crianças, dar-lhes atenção total, e ouvir as suas queixas.

– Os pais podem fazer pequenas afirmações de concordância ou compreensão, como “eu entendo-te” ou “estou a perceber”.

– Os pais podem tentar identificar os sentimentos dos filhos, que não sabem ainda expressar-se correctamente.

– Os pais podem entrar num mundo de fantasia que, de uma forma pueril, alimenta a sensação de empatia e compreensão. “Não seria maravilhoso podermos usar calções no Inverno?” ou “Quem me dera podermos construir uma máquina cura-corte-de-papéis”.

As crianças podem não entender os seus sentimentos

Além do nervosismo inicial que sentem, quando confrontadas com “porquês” as crianças são obrigadas a racionalizar a sua raiva e a encontrar explicações que podem não existir ou ser baseadas na emoção – e, por isso, difíceis de definir por palavras.

Ao mesmo tempo, os miúdos podem sentir que as suas razões, aos olhos dos adultos, não são “suficientes”, e ter vergonha de as expressar.

As crianças precisam de ter os seus sentimentos entendidos e respeitados, e não questionados; quando falamos ao telefone com um amigo ou familiar próximo, conseguimos interpretar o seu estado de espírito pela voz. “Pareces cansado”, “não estás bem, pois não?” ou “é bom ouvir-te tão entusiasmada”. Mas quando conversamos com as crianças e as percebemos mal a tendência é questionar automaticamente “porque estás a chorar?”.

Ainda que estejamos a tentar comunicar e expressar empatia e preocupação, a construção das frases e as palavras escolhidas podem passar uma mensagem contrária: a de que não estamos a ouvir as nossas crianças.

Não precisamos de saber porque estão os nossos filhos tristes, ter urgência de resolver o problema ou satisfazer a nossa necessidade de controlar tudo. Precisamos – devemos – apenas reconhecer a sua tristeza e oferecer a nossa presença, conforto apoio ou tempo, de forma a aliviar-lhes o peso; e, eventualmente, abrir-lhes espaço para que, de livre vontade, tentem expressar os seus motivos quando a situação lhes for confortável.

Ou não.

“Porquê?” soa a acusação

Este tipo de pergunta coloca as crianças numa posição impossível e muito difícil de gerir: quando questionados, e sentindo-se de alguma forma desvalorizados, a tendência será assumir uma postura defensiva e de culpabilização alheia.

Como desligar os “porquê?”

Às vezes, alterações ligeiras fazem toda a diferença no discurso.

Se, por exemplo, o seu filho começar a chorar porque está a chover e não podem ir ao parque, ao invés de perguntar “é só chuva, porque estás a chorar?” tente uma abordagem afirmativa: “estás triste porque está a chover; sei que querias muito brincar no escorrega, mas talvez possamos fazer uma pintura.”

Ofereça compreensão. E um abraço. É tudo aquilo de que eles precisam.

Apontar os “porquê?” ao nosso comportamento

Porque é tão difícil para os pais lidar com a expressão de emoções negativas das crianças? Porque são os pais tão rápidos a minimizar os sentimentos dos filhos?

É muito complicado responder de forma lógica a este tipo de interrogação – a resposta mais óbvia é a de que estamos tão focados em fazer dos nossos filhos pessoas felizes, realizadas e bem-sucedidas que rejeitamos qualquer evidência de tristeza ou frustração.

No entanto, e apesar das boas intenções, este é um comportamento com consequências negativas a médio prazo: se não queremos que as nossas crianças cedam e quebrem perante qualquer adversidade, e sim que floresçam mesmo nos tempos mais difíceis, precisamos de os ajudar a identificar e a lidar melhor com as suas emoções.

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