A PHDA é uma das doenças/perturbações mais debatidas nos últimos anos. Conheça aqui os vários tipos, os tratamentos, o diagnóstico e as terapias alternativas e complementares!
Ouve-se muito falar em hiperatividade e défice de atenção nos dias de hoje. Com vista a esclarecer todas as dúvidas relacionadas com este tema, entrevistámos alguns profissionais de várias áreas da saúde e reunimos informação para esclarecer o que é a PHDA, no que consiste exatamente esta perturbação, quais as suas diferentes formas, sintomas e tratamentos.
Hiperatividade
O que é a PHDA?
De acordo com a pediatra Ana Serrão Neto e uma equipa de especialistas de Neurodesenvolvimento do Hospital CUF Descobertas, e segundo a definição da Associação Americana de Psiquiatria, a PHDA é uma perturbação persistente de desatenção e/ou impulsividade-hiperatividade, que se revela de modo mais intenso e grave que o habitual para pessoas com o mesmo grau de desenvolvimento, interferindo significativamente no rendimento académico, social e laboral.
Ou seja, a PHDA consiste numa perturbação do desenvolvimento neurológico que provoca um excesso de atividade motora, baixo controlo da impulsividade e/ou dificuldades de concentração. Estas crianças têm dificuldade em selecionar informação e em prestar atenção a dois estímulos em simultâneo.
De acordo com o Centro SEI – Centro de Desenvolvimento e Aprendizagem, é uma condição que se manifesta, regra geral, por volta dos 3 anos e, quase sempre, antes de atingir dos 7 anos de idade.
Quais os sintomas de uma criança com PHDA?
A perturbação de hiperatividade e défice de atenção pode apresentar-se com sintomas variados. Todas as crianças que sofrem desta perturbação têm défice de atenção, mas nem todas são hiperativas, nem impulsivas.
Estão definidos três tipos de PHDA: tipo predominantemente desatento, tipo predominantemente hiperativo-impulsivo e tipo combinado.
As manifestações clínicas podem evoluir de um subtipo para outro, assim como apresentar algumas variações, consoante os diversos ambientes da criança. Estes sintomas são inconsistentes com o nível de desenvolvimento da criança, isto é, não estão adequados ao esperado para a sua idade.
Dentro da PHDA há diversos índices de gravidade, ou seja, há crianças com sintomas mais ligeiros e outras com sintomas mais graves.
Tipos de PHDA
Tipo predominantemente desatento
As crianças desatentas apresentam dificuldade em manter a concentração, por tempo ajustado à sua idade, sobretudo numa tarefa rotineira. Logo desde o 1.º Ciclo de escolaridade começa a exigir-se que as crianças permaneçam centradas numa tarefa durante um tempo superior à capacidade da criança com esta perturbação. Estas distraem-se facilmente com estímulos irrelevantes, o que prejudica o ritmo de trabalho e a finalização das tarefas. Parecem não ouvir o que se lhes diz e revelam dificuldade em seguir as instruções dadas. Não conseguem prestar atenção suficiente aos pormenores, cometendo erros, mesmo nas cópias. Tipicamente perdem objetos necessários para o adequado desempenho de tarefas.
Tipo predominantemente hiperativo-impulsivo
Esta forma de PHDA pode ainda desenvolver-se em três subcategorias.
• Hiperatividade
A hiperatividade pode ser motora, verbal ou cognitiva. As crianças hiperativas parecem movidas por uma fonte de energia inesgotável, correndo, saltando e trepando de forma excessiva e inapropriada em situações em que tal comportamento não é esperado. Mexem constantemente as mãos e os pés, enrolam os dedos na roupa, roem as unhas, as pernas estão constantemente irrequietas por baixo da secretária. Não conseguem manter-se sentados na sala de aula ou em outras situações em que é exigida a posição formal de sentado, como por exemplo à hora da refeição e para fazer os trabalhos escolares. A sua participação em jogos ou atividades não é feita de uma forma calma, o que prejudica a sua relação com as outras crianças, assim como pode aumentar o risco de lesões acidentais. Falam excessivamente, apresentando um discurso rápido e muitas vezes pouco percetível.
• Impulsividade
A impulsividade reflete-se na dificuldade da criança em controlar os seus impulsos e em esperar pela sua vez, quer seja numa fila, nas brincadeiras, nos jogos, nas suas atitudes e até mesmo no seu discurso. Intrometem-se e interrompem as conversas e atividades dos outros, perturbando o normal funcionamento da sala de aula. Têm tendência a antecipar respostas, isto é, a responderem a perguntas que não foram concluídas ou a completarem as frases das outras pessoas. Tomam atitudes repentinas, aparentemente inesperadas ou desajustadas à situação, tecendo comentários desadequados. Estas crianças apresentam-se com baixa tolerância à frustração, sendo difícil aos adultos que lidam com elas controlar os seus acessos de «raiva».
Tipo misto ou combinado
Ainda assim é importante referir que, como esclareceu a pediatra Ana Serrão Neto, “a perturbação de hiperatividade e défice de atenção pode apresentar-se com sintomas variados. Todas as crianças que sofrem desta perturbação têm défice de atenção, mas nem todas são hiperativas, nem impulsivas.”
Será que se trata mesmo de Hiperatividade?
Na opinião de Alexandra Barros, psicóloga clínica e psicoterapeuta, “existe, em primeiro lugar, um sobrediagnóstico”. Ou seja, existem vários “quadros a ser diagnosticados e tratados como PHDA, mas que na verdade não o são”.
Existem meninos que são simplesmente um pouco mais imaturos, que têm “falta de regras ou falta de oportunidade de se mexerem e de libertarem energia”. Todos estes fatores, juntamente com uma má alimentação podem, de acordo com a especialista em psicologia, desencadear “outras alterações da saúde mental [com sintomas semelhantes ao da Perturbação da Hiperatividade e Défice de Atenção], como por exemplo a depressão” e que poderão ser mal diagnosticadas como PHDA.
Explica ainda que os problemas com “sintomas semelhantes melhoram apenas com psicoterapia e aconselhamento parental, enquanto que a PHDA requer também, na maior parte das vezes, intervenção medicamentosa”, demonstrando a importância de um bom diagnóstico do que se passa com a criança.
Como é percetível o diagnóstico não é fácil e requer uma investigação exaustiva, avaliação especializada e observação atenta e compreensiva, “o que implica uma articulação estreita entre pais, professores, psicólogo/neuropsicólogo e neuropediatra”.
Alerta, por isso mesmo que, “não é possível fazer um diagnóstico em consultas de 10 minutos de regularidade mensal”, algo que acontece devido à falta de recursos médicos e falta de tempo desses mesmos recursos.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é sempre clínico, mas de acordo com Alexandra Barros, não é um processo fácil, uma vez que, como refere Ana Serão Nunes, “não há um teste definitivo que permita fazer o diagnóstico”.
As crianças são submetidas a vários testes psicológicos e os pais e professores devem responder a questionários comportamentais, de forma a pormenorizar a informação clínica.
Mónica Pinto, Pediatra de Neurodesenvolvimento, “O processo de diagnóstico deve ser de facto por uma equipa multidisciplinar que deve incluir um médico (que pode ser pediatra do neurodesenvolvimento, neuropediatra ou pedopsiquiatra), técnicos com experiência nesta patologia (psicólogos, TSEERs) e deve envolver sempre os pais e os professores”.
Sinais de Alerta
“Os pais estão constantemente na linha de fogo com tanta informação que devem absorver”, atesta a terapeuta de psicomotricidade Ana Fonseca.
Caso os pais sintam que os filhos estão com alguma dificuldade na atenção ou mais agitados, é essencial que tentem perceber a razão pela qual se sentem mais agitados – tentar perceber se gostam ou não da escola, do que aprendem, dos professores e dos colegas.
“Muitas vezes o que lemos como uma perturbação é apenas a forma da criança nos transmitir que não está bem… e manter uma linha de comunicação aberta com a escola, sem qualquer tipo de culpa ou julgamento, é meio caminho andado para ter um olhar completo sobre a situação e os sinais de alarme”, esclarece a terapeuta.
A psicóloga Alexandra Barros faz um breve resumo dos sinais de alerta que podem indicar que a criança pode ter PHDA:
- É frequente que a atenção da criança seja facilmente desviada perante estímulos mínimos;
- Quando a criança capta apenas parte de um discurso;
- Quando interrompem e/ou monopolizam as conversas, com frequência;
- Se é muito desorganizada e “esquecida”, mais do que o normal – que já é muito, nesta fase da vida;
- Se nota que a criança tem dificuldade em permanecer numa atividade concentrada e quieta;
- Se repara que está permanentemente ansiosa;
- Se, ao longo do tempo, verifica que faz várias coisas ao mesmo tempo, mas não as levam até ao fim;
- Se tem pouca noção de perigo e, por esse motivo, tende a colocar-se em risco;
- Têm uma baixa tolerância à frustração;
- Parecem não ter “filtro” e fazem ou dizem coisas sem pensar, para além de terem dificuldade em cumprir regras.
De acordo com a psicóloga, estes sinais são comuns a outras perturbações. “A diferença está, essencialmente, na idade em que começam a manifestar-se, na frequência com que acontecem, na intensidade e no impacto que tem na vida da criança”, esclarece. “E sobretudo se estes sinais surgem na idade escolar e há queixas dos professores de que estão a prejudicar a aprendizagem”, acrescenta Mónica Pinto.
Em todos os casos nos quais se manifestam estas situações e existe a probabilidade de virem acompanhados de um diagnóstico de doença ou perturbação de foro mental, existe sofrimento emocional. A única diferença é se o sofrimento emocional é a causa destes sintomas ou se é a consequência.
No caso da Hiperatividade com défice de atenção, a agitação, de origem neurobiológica, provoca sofrimento pelo facto da criança sentir que não consegue corresponder às expectativas. Também a constante crítica e punição fazem aumentar esse sentimento negativo exponencialmente. Contudo, nos restantes casos há um sofrimento que causa a agitação e não se pode falar em PHDA quando existem fatores que expliquem melhor os sintomas. Em qualquer caso, a criança precisa de ajuda.
Mas, Ana Fonseca relembra os pais:
“É importante que os pais se lembrem do que é ser criança. Sujar, esquecer, saltar, pular e mexer são sinais saudáveis do desenvolvimento. Uma criança que não mexe e que fica sentada o dia todo é tão, ou mais preocupante do que as crianças que não param dois segundos.”
Tratamentos para a Hiperatividade
Como tratar a PHDA?
Os principais tratamentos são comportamentais e farmacológicos e devem andar de mãos dadas, esclarece-nos a especialista em Pediatria Ana Serrão Neves.
“Mesmo as crianças que tenham indicação para realizarem a terapêutica farmacológica devem ter apoio psicológico educacional e/ou comportamental. Ou seja, a medicação ajuda muito a criança, mas não resolve por si só todos os problemas.”
Hugo Rodrigues, pediatra e autor do blog pedriatria para todos, afirma que o tratamento assenta em três grandes pilares:
- Na medicação, importante para repor o equilíbrio químico;
- No apoio pedagógico, adotando medidas estratégicas e adequando as práticas educativas a estas crianças;
- No acompanhamento psicológico, de forma a que as crianças com PHDA consigam desenvolver estratégias para se autocontrolarem e melhor lidarem com as suas dificuldades e, consequentemente, frustrações.
A psicóloga clínica e psicoterapeuta, Alexandra Barros, reforça:
“É preciso salientar, mais uma vez, que não devemos diabolizar a medicação. A medicação existe e deve ser usada quando realmente se justifica, uma vez que as crianças com a PHDA podem efetivamente beneficiar dela, sobretudo no que respeita ao rendimento académico. O problema está no diagnóstico apressado e desajustado que coloca inúmeras crianças na prateleira da PHDA e que deviam ter outro tipo de intervenção.”
Terapias Alternativas ou Complementares
Essas intervenções podem passar por caminhos onde se cruza a medicina tradicional com as terapias alternativas, fazendo destas últimas um complemento ao tratamento.
Como nos explica a terapeuta de psicomotricidade Ana Fonseca, as crianças com PHDA “são crianças que se mexem muito e não param. No entanto, quantidade não é qualidade, pelo que são crianças que apesar de se moverem muito, têm dificuldade em movimentar-se com qualidade e de forma organizada.”
É por esse motivo que o é fulcral que a psicomotricidade como complemento ao tratamento é fulcral, porque, como afirma a terapeuta, numa primeira instância “não as vai impelir a movimentarem-se menos, apenas a focarem de forma orientada o seu movimento e vai permitir organizar o seus pensamentos e os seus movimentos em uníssono, provando a elas mesmas que são válidas e cheias de boas ideias”.
Reforça a importância, dizendo ainda:
“A psicomotricidade para estas crianças é um espaço prazeroso e seguro, o que lhes irá permitir brincar e explorar, adquirindo a capacidade de se autorregularem e ainda de trabalharem outras componentes de forma lúdica e sempre, mas sempre em movimento.”
Já a psicóloga Alexandra Fonseca destaca o desporto, o yoga e o mindfullnesscomo atividades que podem ajudar a potenciar os bons resultados no que toca ao desenvolvimento das crianças com esta perturbação. E fundamenta as suas escolhas: “Tenho tido relatos de professores de 1º ciclo que iniciam o dia com uma pequena rotina de relaxamento e respiração e isso tem mostrado ter um impacto significativo no comportamento e no foco dos alunos”.
Para além destes tratamentos complementares, pode ainda recorrer-se à acupuntura, cujos benefícios foram já comprovados por diversos estudos e nas mais diferentes áreas da saúde.
O pediatra Hugo Rodrigues deixa alguns conselhos:
“As crianças pequenas devem passar tempo de qualidade com os pais, em brincadeiras estimulantes e sem os chamados “ecrãs”. Relativamente às escolas [hiperatividade na escola], devemos tentar ter ambientes mais favorecedores da concentração, nomeadamente com menos alunos por sala, tempos de aulas mais curtos e intervalos suficientes para as crianças poderem descansar e brincar à vontade, mas sempre com limite se bem estabelecidos durante todo o seu desenvolvimento.”
Se suspeitar que o seu filho pode ter PHDA, consulte um profissional e solicite uma avaliação especializada, certificando-se que a criança é observada pelos diversos profissionais que mencionamos na secção “Como é feito o diagnóstico?”.
Veja também:
- Hiperatividade na escola: dicas para lidar com ela
- Hiperatividade com Défice de Atenção: quais são os sinais de alerta?
- Défice de atenção, um problema real
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