A psicóloga Natália Antunes da Oficina de Psicologia explica-lhe os comportamentos que as crianças podem ter, caso os pais se divorciem.
Não raras vezes, em contexto clínico, nos apercebemos de situações em que as crianças estão a ser alvo de comportamentos dos pais que lhes provocam um enorme sofrimento, sobretudo depois de situações de divórcio.
Os próprios pais, muitas vezes, não se apercebem que aquela dor de barriga, aquela solicitação constante de afeto, aquele choro sem razão aparente são, de facto, manifestações claras do impacto que algumas atitudes ou comentários sobre o outro progenitor têm.
Podemos falar de manipulação, seja ela mais aberta/consciente (“o teu pai/a tua mãe não gosta de ti, foi mau/má para nós”) ou mais encoberta/inconsciente (“Fico triste e a sentir-me sozinho/a quando vai para casa da tua mãe/do teu pai”).
Nestas situações, assistimos a uma instrumentalização da criança para atingir o outro, através da existência de alianças ou coligações entre um ou ambos os progenitores e a criança, tornando-se a criança num “go between” ou numa arma de arremesso entre os dois progenitores. A criança gosta do outro progenitor, mas no fundo sente que não o pode sentir, pois poderá correr o risco de ser desleal sempre que manifesta os seus afetos.
É esta contenção emocional em que a criança vive que pode criar o terreno fértil para o surgimento de sintomas emocionais ou físicos, estes últimos como manifestação dos primeiros.
Mas os perigos podem ser ainda maiores quando há:
1. Pensamento mágico: a criança faz interpretações mágicas dos acontecimentos. O mundo é como nos filmes infantis e a não realização de um desejo (manter os pais juntos) pode ter um enorme impacto nela.
2. Confabulação: tal como os adultos, a criança preenche as lacunas das histórias para lhes dar consistência, muitas vezes de forma errada.
3. Egocentrismo: sobretudo dos 3 aos 6 anos, a criança pode assumir que tudo é culpa dela, incluindo a separação dos pais, o afastamento deles…
4. Parentificação: decorrente da horizontalidade das relações entre os progenitores e a criança, ela pode assumir para si as responsabilidades para que tudo continue bem, substituindo o progenitor ausente nas tarefas que antes ele tinha. Exemplo comum é a criança começar a dormir com o progenitor.
Para reduzir estes mecanismos, é importante que os pais compreendam que, dentro de tudo o que muda com o divórcio, as questões que dizem respeito à criança devem ser o mais mantidas possível.
Ter duas casas não significa que se passará a ter duas famílias!
Quanto mais promovermos os contactos entre progenitores, quanto mais as regras forem consistentes entre as casas, quando menos os pais sentirem que estão numa competição, mais a criança sentirá que continua a ser o centro da atenção daqueles dois pais que, mesmo estando divorciados, continuam a ter todo o afeto do mundo para lhes dar, de forma incondicional.
Natália Antunes – Psicóloga
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