O Barrigas de Amor e a Oficina de Psicologia partilham connosco algumas dicas para os pais aprenderem a lidar com a culpa.
A parentalidade tem o dom de proporcionar aos pais a oportunidade de vivenciar experiências emocionais muito gratificantes, sendo uma das principais o amor incondicional. Mas a parentalidade também traz consigo algumas emoções difíceis. Uma das emoções mais familiar para os pais é a famosa culpa.
Ser pai/mãe é um desafio repleto de exigências e nem sempre é fácil estar à altura das mesmas. Por essa razão, não raras vezes os pais confrontam-se com frases como “onde é que eu errei?” “não sou um/a bom/boa pai/mãe”, entre outras.
Geralmente este sentimento de culpa surge na sequência de uma série de dificuldades com as quais os pais se deparam: a gestão entre a vida profissional e familiar, a gestão entre a vida a dois e a vida familiar e ainda entre a vida pessoal e a vida familiar.
A uma dada altura, os pais são invadidos pela culpa nas mais diversas situações (seja porque o nosso filho estava a falar para nós e não ouvimos o que disse, seja porque saímos uma vez mais tarde do trabalho, seja porque gritamos com ele porque estamos irritados a pensar nas coisas que ainda estão por fazer, etc).
Mas então, como podem os pais aprender a lidar com a culpa? Deixo-lhe algumas sugestões:
- Procure o que está escondido atrás da culpa: ninguém gosta de se sentir culpado. Esta é uma emoção que gera desconforto, que potencia uma atitude autocrítica e geralmente deixamo-nos envolver por estas sensações desagradáveis como se fossem um beco sem saída.
Se a culpa fosse um objecto, quase que poderia ser uma porta com espelho: uma porta difícil de abrir e que nos impede avançar, obrigando-nos a ficar ali, paralisados a olhar para nós próprios e para as nossas falhas. O truque está em ver para além desta porta, para além da culpa: porque razão se sente culpado?
O que é que tem feito ou não tem feito, que gera este sentimento de culpa? Procure estar centrado a olhar para a resposta a estas questões: nelas está a chave que irá permitir-lhe mudar comportamentos/atitudes que irão abrir esta porta difícil, desbloquear esta culpa e permitir-lhe avançar no caminho que quer traçar enquanto pai ou mãe.
- Aceite que também tem o direito a errar: é importante que se lembre que antes de ser pai ou mãe, é um ser humano que, tal como qualquer outro também erra. Inclusivamente como pai/mãe.
Todos nós erramos nos diferentes contextos e papeis que desempenhamos ao longo da nossa vida: como filhos, como alunos, como profissionais, como cônjuge …e no papel de pai/mãe não é diferente.
Aprenda a aceitar que erra. Gritou com o seu filho numa altura em que estava mais impaciente ou irritado e sente que foi injusto com ele? Não se deixe invadir pela culpa, ela só irá consumir tempo precioso que poderá aproveitar para pedir desculpa ao seu filho e reconhecer o seu erro.
- Dê tréguas a si próprio: não há mal nenhum que pare para refletir sobre o trabalho que tem feito enquanto mãe/pai. Só tem de estar preparado que, nessa reflexão, vai inevitavelmente confrontar-se com falhas que considera que tem feito. E também não há problema nenhum nisso. O segredo é focar-se nas soluções e não se deixar enredar pelos bloqueios da culpa. Sente que tem dedicado pouco tempo de qualidade ao seu filho?
Não se deixe levar pela culpa e procure felicitar-se por ser consciente das mudanças que sente que tem de fazer. Seja tolerante consigo próprio/a e procure alternativas: olhe para a sua agenda, tente reorganiza-la e definir horários para estar com o seu filho.
- Dedique tempo a si: sim, também tem essa necessidade e sobretudo o direito a ter esta necessidade! A maternidade/paternidade não anula a sua existência enquanto um ser individual. Continua a necessitar de tempo para si, para estar consigo. Não deixe que a culpa o/a convença do contrário. Tem de haver um “tempo só seu” para que os tempos com os outros sejam produtivos. Inclusivamente o tempo com os seus filhos.
Lembre-se sempre: Procure não censurar-se nem autopenitenciar-se. Seja generoso e compreensivo consigo próprio. As falhas também existem na parentalidade porque educar também é um processo de aprendizagem: quanto mais educamos, mais aprendemos a fazer mais e melhor!
Sandra Azevedo
Psicóloga Clínica | Oficina de Psicologia | Equipa Mindkiddo
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