Depois de ganhar novas curvas e estaturas, diferentes tons de pele e outros rostos, contornando assim os problemas de falta de representatividade e de irrealismo corporal de que a acusavam, a Barbie reveste-se agora de uma mensagem poderosíssima: as meninas (e os meninos) podem ser quem e aquilo que quiserem.
Há crianças que querem agarrar as mais imprevistas profissões. Há meninas que querem ser astronautas e conhecer a lua, e outras que, com os pés colados ao chão, se imaginam a ser jornalistas de desporto. Há meninos que sabem que nasceram para dançar, e outros que acreditam que só podem ser felizes no papel de cabeleireiros. Na vida de todas estas crianças, há uma realidade transversal: os estereótipos de género que os afastam dos seus sonhos.
A proposição de que ainda existe sexismo é rejeitada pela grande maioria das pessoas – e, no entanto, quem é que nunca ouviu alguém afirmar que “os meninos são mais agitados”, que “as meninas são organizadas e perfeccionistas” ou que determinadas brincadeiras são mais apropriadas para um género do que para o outro? Frases como estas contêm um preconceito velado que costuma ser perpetuado sem que tenhamos essa consciência, sendo apenas reflexo da sociedade em que vivemos, e proveniente de uma divisão criada pelo mundo dos adultos.
Assim sendo, há comportamentos, gestos, posturas, além de atividades e funções, que são entendidas como mais ou menos adequadas para cada um. Essa dicotomia reflete-se também nos brinquedos: enquanto que para as meninas existe uma variedade de objetos que imita os utensílios caseiros de cozinha e serviços domésticos, tal como as bonecas que incentivam a ideia de “mamã e filho” desde cedo, para os meninos o que se propõe são brincadeiras com carrinhos, armas, bolas e skates. Que uma criança brinque com um brinquedo que, à partida, não é visto como adequado para si, e perpetuar essa diferença, é limitar o processo de aprendizagem das crianças nas atividades lúdicas e incentivar preconceitos futuros.
O ato de brincar é fundamental na infância, uma importante forma de aprendizagem e de compreensão do mundo, além de fonte de prazer e uma maneira de expressão. As amarras de género podem ser muito prejudiciais nesse sentido: o período da infância é de exploração e de descoberta de possibilidades, e as imposições dos adultos, baseadas em tabus culturais, impedem que isso se efetive de forma plena. Afinal de contas, as crianças são curiosas, e o interesse de um menino em brincar com bonecas ou de uma menina em andar de skate nada tem de estranho. Se uma criança vê um colega a brincar com alguma coisa, fica interessada em participar, independente de qual seja a brincadeira. Como não interiorizou ainda aquilo que “é certo ou errado” para si, vai simplesmente atrás das suas vontades.
Porquê que isto é grave?
Alguém que passou a infância a ouvir que só as meninas é que brincam com bonecas pode tornar-se num adulto que acredita que a responsabilidade de criar uma criança ou de varrer a casa e cozinhar são tarefas estritamente femininas, por exemplo. Assim, se estiverem livres para serem elas mesmas, as crianças podem dar novos significados à cultura na qual estão inseridas, contrariando as expectativas dos adultos e quebrando preconceitos.
Por isso é tão importante que grandes marcas, como a Mattel, reforcem a possibilidade infinita que é o mundo para as nossas crianças. A ideia é simples: quando uma menina brinca com uma Barbie, tem a liberdade de imaginar que pode ser quem e aquilo que quiser. Nós, na Pumpkin, completamos a premissa – quando são os meninos a brincar com bonecas, também.
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