Ser pai é querer proteger o filhos de sentimentos menos positivos. Mas os adultos não são ETs, têm sentimentos que não se devem esconder dos miúdos, como nos explica Oficina de Psicologia.
Há por aí algum pai que já tenha colocado várias vezes uma cara alegre para o filho não perceber a sua tristeza? Há por aí algum adulto que já tenha respondido à criança que perguntou o que se passava com ele, dizendo que “não é nada, está tudo bem”?
Não, não está tudo bem e a criança sabe, só não sabe os motivos! É verdade que camuflamos emoções e evitamos falar do que nos perturba, na tentativa de protegermos os nossos filhos, pois os nossos problemas parecem demasiado complexos para as suas cabecinhas. Mas será que estamos realmente a protege-los?
Na maior parte das vezes estamos a criar ainda mais confusão para eles com 3 principais consequências:
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A criança vai perceber que algo de estranho se passa e vai tentar encontrar uma explicação que pode não ser verdade ou pode ainda achar que tem algo a ver com ela;
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Fica com a ideia que sentir ou falar sobre emoções não é correto e que ela própria é estranha por ter tantas emoções, algo que tenderá a ser cada vez mais complicado de gerir enquanto cresce;
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A relação entre pais e filhos não se torna mais próxima, muito pelo contrário é como se a estivesse a tirar o seu filho do seu mundo.
Porém, falar de emoções dos crescidos com os mais novos deve merecer alguns cuidados, “nem tanto ao mar, nem tanto à terra”, mas no ponto certo, falar de emoções poderá fazer a diferença no crescimento do seu filho e da vossa relação.
Vamos então refletir sobre alguns aspetos:
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Como já vimos os adultos não são ET’s, logo podem ficar tristes, zangados, irritados, ansiosos, envergonhados… e por mais que tente controlar isto vai acontecer em situações que o seu filho está presente. Portanto não tem escolha a não ser, ser humano.
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Perante a questão do seu filho ou estranheza dele perante as suas reações, explique o que sente por palavras simples “o pai hoje está um pouco irritado, o dia não correu muito bem no trabalho, mas não tem nada a ver contigo!”. Notou as palavras-chave no fim?! Garanta que apesar de não estar no seu melhor humor, isso nada se deve ao seu filho. Quando tiver a ver com algum comportamento dele é importante que, pelo contrário, refira que esse é o motivo e fale com ele sobre o assunto.
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Para algumas crianças isto poderá bastar, mas na sua maioria virá uma pergunta seguinte sobre o que aconteceu. Aqui vem a tal parte de “nem tanto, nem tão pouco”. O seu filho não precisa de saber que o seu colega andou a difamá-lo junto do seu chefe e que a discussão deu em alguns palavrões pouco simpáticos. Em vez disso – “Foi um colega do pai que disse coisas que o pai não estava à espera e isso deixou-me chateado. Por vezes acontece ficarmos chateados com o que os outros nos fazem”.
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E o seu filho quer saber o que fez ou que vai fazer. Se já era modelo para o seu filho, neste momento ainda será mais, por isso pense numa solução mesmo boa! – “Ainda não sei bem o que fazer filho, mas penso que amanhã vou conversar com ele para resolver as coisas. Acho que a conversar nos entendemos melhor do que eu estar aqui a pensar sobre isso.”
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O seu filho pode perguntar-lhe mais coisas sobre o que sente, sobre a situação ou situações passadas. Por vezes as crianças são muito espontâneas e conseguem colocar-se no seu lugar e o seu filho pode lembrar-se da situação em que também se chateou com um amigo… Reforce este diálogo, ouça o que o seu filho tem a dizer e encontre pontos em comum, afinal as emoções são as mesmas, simplesmente umas são em ponto grande e outras em ponto pequeno. – “Obrigado filho! Gostei de falar contigo! Realmente quando estamos chateados, por vezes é difícil esquecermos disso, mas agora até me sinto melhor. E se fossemos os dois até ao parque um bocadinho?”
Sem dúvida que este pai parece menos um ET do que aquele pai que vai no carro a gritar com os condutores que passam por ele na estrada sem motivo aparente, que fica a respirar fundo sem dizer uma palavra ou que diz à criança que se passa algo que ela não entende. Este pai tem uma pitada de humano.
Uau! O meu pai também se zanga com os colegas e também fica irritado com eles e no fim encontrou uma solução mesmo boa! Quando for grande, posso ser como o meu pai!!!
Inês Custódio
Psicóloga Clínica| Oficina de Psicologia
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