Como tirar partido da evolução tecnológica sem nos tornarmos reféns dela? Como criar crianças numa era em que tudo mudou? Conta-nos a Sara da Zen Kids que o desafio das famílias atuais é um tema que tem desenvolvido com alguma frequência em workshops, e trouxe-nos uma reflexão sobre as características e desafios que vivem as famílias nas sociedades atuais.
A sociedade mudou substancialmente nas últimas décadas e com essas mudanças surgiram também alterações ao nível da estrutura familiar.
Se com essa mudança assistimos a uma maior liberdade de pensamento e atuação de homens e mulheres, com todos os benefícios daí consequentes, assistimos também à existência de maiores desafios para as famílias e parentalidade, num circuito que vai desde maiores exigências a maior necessidade de conjugação de diversas áreas, entre elas, a conjugação da vida familiar e profissional, menos tempo para os filhos (o que obriga a mais tempo na escola e centros de atividades), maiores exigências a nível da relação do casal, etc.
Importa refletir que a família mudou, mas as necessidades afectivas de adultos e crianças permanecem semelhantes. E daí surge o desafio.
Já que não podemos pensar tanto em quantidade de tempo, pensemos em qualidade do mesmo.
É importante que os momentos da família sejam de partilha, de convivência, de afecto, que o tempo perdido com os avanços da tecnologia seja gerido de forma a não interferir com a relação da família; importa estipular momentos para todos e para que cada um se sinta valorizado e cuidado; importa que a criança encontre momentos para se expressar e para comunicar as suas vivências e quotidiano; importa também que os momentos da família possam permitir relaxar das pressões do dia-a-dia e por isso, o contacto com a natureza e outro tipo de atividades deviam estar presentes, cada vez mais.
Porque se não, vejamos, não será esta falta de estrutura, calma e tempo de qualidade que poderá estar na base de uma geração de crianças agitada, com falta de atenção e com tanta hiperatividade…?
Este é um fenómeno generalizado na infância atual.
Em que os benefícios que recolhemos dos vários avanços que o ser humano empreendeu começam agora a apresentar o seu lado menos bom.
Ser criança é ter tempo para imaginar, brincar e fazer de conta… Essa leveza que caracteriza esta faixa etária não pode ser abolida nem ultrapassada. Deve ser respeitada.
Porque quem pensa que preparar as crianças para a vida adulta é fazê-las ter atitudes adultas, não percebe que o que prepara as crianças para a vida adulta saudável do ponto de vista emocional é aceitar, gostar e respeitar a criança que foram.
O peso da infância na nossa vida é único e inquestionável.
Como dizia Jean-Jacques Rousseau : “A natureza quer que as crianças sejam crianças antes de serem homens. Se quisermos perverter essa ordem, produziremos frutos temporãos, que não estarão maduros e nem terão sabor, e não tardarão em se corromper; teremos jovens doutores e velhas crianças. A infância tem maneiras de ver, de pensar e de sentir que lhe são próprias”
Este artigo foi útil para si?