São muitas as frases a que recorremos para incentivar os nossos filhos a ser pessoas honestas. Tentamos que cresçam e construam relações fortes e seguras, onde exista confiança e abertura para partilhar fragilidades, sem que seja necessária a mentira. Falamos, conversamos, explicamos que “não é bonito”, que “é uma coisa que os prejudica”, que “traz consequências”…
Mas, ainda assim e mesmo que de vez em quando… lá nos mentem a nós, na escola, a um amigo ou outro…
E porque é que isso acontece?
É importante termos noção do impacto que as nossas respostas têm no comportamento dos nossos filhos. Não só o que lhes vamos dizendo mas o modo como actuamos em cada situação.
Não vale a pena culpabilizarmo-nos pelos seus actos porque estes devem-se a múltiplos factores, que no caso da mentira poderão ser:
-Evitamento de castigos/punições (“Não fui eu que parti o vidro, foi o mano”)
-Obter vantagens (“Estou com dores de garganta, não posso ir à escola hoje”)
-Incapacidade de lidar com as suas próprias inseguranças ou medos (“Está um bicho no meu quarto, hoje tenho de dormir no dos pais”)
-Auto-afirmação (“Eu não tive nenhuma negativa este período”)
… Mas, devemos sim, estar conscientes de que as crianças aprendem o código moral que lhes transmitimos em família e que é possível no dia-a-dia ir prevenindo a mentira e apelando à verdade.
Antes de mais importa identificar se o que a criança está a dizer é mesmo mentira. Poderá tratar-se de uma reprodução errada… Muitas vezes o simples facto de ter percebido mal o que alguém disse e o transmitir dá origem a distorções da informação inicial. Ou poderá ser apenas fruto da fértil imaginação que tem já que o seu mundo simbólico está em constante desenvolvimento e por vezes há dificuldade em separá-lo da realidade.
A mentira está geralmente associada a intencionalidade. A criança mente tendo noção de que o que está a dizer não é verdadeiro. E fá-lo, tal como já foi referido, por diversas motivações.
Então e o que poderemos fazer para desmotivar a mentira?
Comecemos por aceitar os nossos filhos tal como são, transmitindo-lhes admiração e orgulho. Ensinemo-los a gostarem de si próprios e a não terem receio de se expor, mesmo quando os seus gostos, interesses ou hábitos sejam diferentes dos do vizinho do lado.
Dar o exemplo é extremamente importante. Nunca pedirmos aos nossos filhos que mintam! – “Diz que tens 10 anos para não pagares bilhete”. Estaremos a validar este comportamento e a aumentar a probabilidade de a criança o repetir. Nem lhes mentirmos a eles: “Para a semana vamos comer um gelado”, quando não temos intenção de o fazer.
Mostrar-lhes que há situações em que não é necessário mentir, tais como agradecer simplesmente um presente que não se gostou, sem ter que acrescentar mais nada.
Reforçar positivamente a coragem da criança em admitir que falhou, quando é algo que é especialmente difícil, valorizando situações em que ele é honesto.
Ir corrigindo quando percebemos que há engano – ao contarem uma história com pormenores que sabemos que não correspondem à realidade.
Sempre que possível ajudarmo-los a “consertar” o que inventaram. Se acusaram injustamente um colega, incentivarmos a que no dia seguinte admitam e minimizem o dano causado.
Evitar rótulos ou generalizações – mentir é diferente de ser mentiroso. Estaremos a colocar uma pressão negativa na criança, inibindo-o de tentar proceder de maneira diferente.
Não vale a pena entrar em ratoeiras: “Foste tu quem atirou a bola na sala e partiu aquele prato?” quando sabemos perfeitamente que sim. Em vez de criar oportunidade à mentira, será mais útil mostrarmo-nos compreensivos e disponíveis para ouvir o que aconteceu e apelando a comportamentos alternativos.
Fomentar na criança a responsabilidade pelos seus actos. Ensiná-la a avaliar consequências em situações específicas.
Este texto foi escrito por Mariana Santos Paiva, Psicóloga Clínica da Oficina de Psicologia.
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