O desenvolvimento da linguagem nas crianças e nos bebés é, muitas vezes, factor de preocupação para os pais. Conheça os sinais de alerta.
Uma grande parte dos bebés começa a comunicar por volta dos nove meses, embora sem intenção. A partir dessa idade, começam a perceber que sons diferentes têm significados diferentes e por volta dos 12 meses já tentam dizer uma ou duas palavras.
Antes dos quatro anos as abobrinhas não desenvolveram ainda a linguagem o suficiente para falar sem erros – o que é perfeitamente normal! Contudo, a partir dos quatro anos é esperado que uma criança já consiga articular palavras sem grandes problemas (dar erros é normal e expectável!).
Mas e se não o fizer? É problemático? Estamos perante um distúrbio da fala ou problema no desenvolvimento da linguagem?
Antes de se preocuparem e correrem para o pediatra, atentem neste artigo em que explicamos o essencial sobre o desenvolvimento da linguagem nas crianças e nos bebés!
- Desenvolvimento da linguagem do bebé
- Como estimular o desenvolvimento da linguagem nos bebés e crianças?
- A importância do sono no desenvolvimento da fala
- Impacto das otites no desenvolvimento da fala
Desenvolvimento da linguagem do bebé
Saiba como funciona o desenvolvimento da linguagem dos bebés a partir de cada faixa etária, os sinais de alerta a que deve estar atento e conselhos.
A terapeuta Rita Costa da Fale Connosco deixa-nos algumas dicas sobre o que esperar e como devemos agir para fomentar o desenvolvimento da linguagem nos bebés, dos 0 aos 3 anos.
O desenvolvimento da linguagem num bebé com entre 0 e 6 meses
O que acontece?
- Chora de forma diferente consoante as necessidades: nas primeiras oito semanas de vida, o recém-nascido só tem à sua disposição o choro reflexo para expressar desconforto. A partir da 8ª semana o bebé torna-se mais responsivo, começa a saber manifestar a sua satisfação, o seu bem-estar, o gosto pela companhia dos interlocutores. O adulto vai conseguindo distinguir entre choro de dor (cólicas por exemplo), fome, sono, chamada de atenção, etc.;
- Reage a sons e começa a dirigir o olhar e/ou a cabeça na sua direção;
- Produz sons (sucção, arrotos, soluços, espirros, suspiros, palreio);
- Manifesta os primeiros sorrisos intencionais, a primeira manifestação de bem-estar físico, psíquico e afetivo;
- Começa a “conversar” (protoconversação) surgindo as primeiras alternâncias na tomada de vez da comunicação, a sobreposição das vocalizações do bebé e do adulto são menos frequentes.
Sinais de alerta
- Não reage aos sons;
- Não estabelece contacto ocular.
Conselhos
- Escute e responda às iniciativas do bebé (choro, movimentos corporais, riso, olhar…): Se por exemplo o bebé chorar com fome diga: “Calma bebé, a mamã já vai dar de mamar…”.
- Cante e ria com o bebé: O canto acalma os nossos bebés e o riso é por excelência uma manifestação de bem-estar.
- Fale com calma com o bebé: Aqui as rotinas diárias têm uma importância crucial, constituirão as bases para as primeiras aprendizagens semânticas, utilize frases simples e:
- Explique-lhe o que ouve;
- Explique-lhe o que faz durante a alimentação, higiene…
- Nomeie pessoas familiares e objetos do dia-a-dia.
O desenvolvimento da linguagem num bebé com entre 6 e 12 meses
O que acontece?
- Balbucio reduplicado: mais do que produzir sons começa a produzir cadeias vocais dos mesmos sons repetidos /mamamamama/, /tatatatata/, /bababababa/ e consegue produzi-los durante bastante tempo seguido;
- Reage ao nome, olhando quando é chamado;
- Reage quando o adulto nomeia um objeto ou brinquedo que conheça e goste;
- Diz uma ou duas palavras, habitualmente “mamã” ou “papá” porque contêm consoantes bilabiais, as mais fáceis a ser aprendidas por serem as mais visíveis.
Sinais de Alerta
- Não reage ao seu nome;
- Não reage a sons familiares como o telefone;
- Deixa de produzir sons.
Conselhos
- Encoraje todos os tipos de interação (expressão facial, riso, olhar…), ajude o bebé a descobrir o prazer da comunicação.
- Dê tempo ao bebé para responder: É importantíssimo estimular a troca de turnos durante a comunicação e isto pode ser feito durante um qualquer jogo, por exemplo de encaixes, eu encaixo, tu encaixas… A imitação é também um ponto de partida para o turn-taking, o bebé faz, o adulto imita e o bebé volta a imitar.
- Responda ligeiramente acima do nível das produções da criança: Aqui o importante é que expanda os enunciados da criança, por exemplo, a mãe está a brincar com a criança e o bebé produz /mamamamama/, a mãe pode dizer: “/mamamama/, sim a mamã está aqui, a mamã está a brincar com o bebé”.
O desenvolvimento da linguagem num bebé com entre 12 e 18 meses
O que acontece?
- Identifica objetos de uso comum;
- Compreende verbos de ações relacionadas com a vida diária;
- Diz palavras isoladas com sentido de uma frase (ex.: dá, pai, mãe);
- Repete palavras familiares;
- Imita ações do adulto.
Sinais de Alerta
- Não usa palavras isoladas;
- Não reage quando brincam com ele (ex.: olhando ou sorrindo).
Conselhos
- Responda ligeiramente acima do nível das produções da criança.
- Dê o modelo correto, mas atenção que nesta idade é normal que a criança não diga as palavras corretamente, o importante nesta fase é que as diga e não como as diz.
- Mostre-lhe livros e fale sobre eles.
O desenvolvimento da linguagem num bebé com entre 18 e 24 meses
O que acontece?
- Identifica objetos e imagens de objetos.
- Identifica partes do corpo.
- Compreende ordens simples (ex.: “anda cá”).
- Diz o seu nome.
- Junta 2 palavras em frases simples (ex.: “não quero”).
Sinais de Alerta
- Não compreende ordens simples.
- Não produz mais do que 5 palavras.
Conselhos
- Enriqueça o seu vocabulário nas situações do dia-a-dia, bem como as frases, por exemplo se a criança disser “popó aqui”, o adulto pode dizer “O popó está aqui”.
- Produza palavras que ele não utiliza.
O desenvolvimento da linguagem num bebé com entre 2 e 3 anos
O que acontece?
- Brinca ao faz de conta, por exemplo dar de comer a um boneco;
- “Idade dos porquês”;
- Grande expansão de vocabulário;
- Nomeia e diz para que servem objetos comuns;
- Identifica imagens de ações;
- Identifica grande, pequeno e muito;
- Produz frases com quatro palavras (ex.: “eu quero um gato!; hoje vou à escola!”);
- Começa a produzir frases coordenadas (ex.: “eu quero um gato e um cão.”);
- Utiliza predominantemente substantivos;
- Utiliza verbos, adjetivos, determinantes, pronomes pessoais, alguns advérbios e preposições;
- Já começa a fazer a variação em género e número.
Sinais de Alerta
- Não junta duas palavras em frases simples (ex.: “dá pão”);
- O discurso não é inteligível.
Conselhos
- Envolva a criança nas atividades do dia-a-dia.
- Reserve tempo para ouvir a criança e responder-lhe.
- Expanda os seus enunciados, por exemplo se a criança disser “comer”, diga “Vamos comer a sopa”.
- Façam jogos em que cada um joga na sua vez (lotos de imagens, de identificação de sons, de associação de pares, cores…)
- Se a criança ainda usa o biberão e/ou a chupeta, encoraje-a a deixar de usar!
E o desenvolvimento da fala depois dos 3 anos?
A sua criança diz “uápis” em vez de “lápis”?, ou fala de forma muito infantil? Pode tratar-se de dislalia ou perturbação da articulação. Este distúrbio é mais frequente em crianças. Quando começam a falar, é natural que não o façam corretamente, pelo que até aos quatro anos de idade a dislalia é considerada normal.
Atenção que é muito importante que a criança seja estimulada pelos adultos. Os educadores são o modelo das crianças e só através deles aprendem a utilizar a linguagem adequadamente!

Como estimular o desenvolvimento da linguagem nos bebés e crianças?
Inês Afonso, psicóloga clínica, dá as seguintes dicas para estimularem o desenvolvimento da linguagem dos vossos pequenotes:
- Sempre que possível, mantenha o contacto ocular com a criança enquanto fala com ela, e quando ela se dirige a si para falar;
- Não interrompa a criança. Dê-lhe o tempo que ela necessita para falar. E, se não perceber tudo o que ela diz, tome atenção à linguagem corporal;
- Converse muito com a criança. Enquanto bebés, as horas do comer, do banho, do deitar e do brincar, são excelentes para fortalecer laços emocionais, e para estimular a linguagem conversando com o bebé. As viagens, de carro ou nos transportes, são também óptimos momentos para conversar. Os temas surgirão naturalmente;
- Leia histórias com a criança. Ela irá adorar ouvir as diferentes características que o discurso pode assumir;
- Digam lenga-lengas;
- Não fale “à bebé”. Lembre-se de que é um modelo para ela, por isso seja um modelo adequado, falando como é esperado que a criança fale;
- Crie a necessidade de a criança falar, por exemplo, retirando-lhe do alcance um objecto que deseje, ou dando-lhe duas opções de escolha em relação a qualquer assunto;
- Encoraje o relacionamento com outras crianças;
- Quando a criança diz mal uma determinada palavra não a critique, nem ridicularize. No sentido de a ajudar a ultrapassar as dificuldades, repita a palavra de forma correcta e não seja demasiado insistente a pedir-lhe que a repita correctamente;
- Esteja atento e mostre interesse pelo que a criança diz.
A importância do sono no desenvolvimento da fala
O sono é extremamente importante, e não só para a saúde mental dos pais! Alguma vez pensou que enquanto os bebés dormem o seu cérebro processa as informações recolhidas ao longo do dia?
No estudo “The Sleeping Infant Brain Antecipates Development“, ou, traduzindo livremente, “O cérebro adormecido da criança antecipa o desenvolvimento”, afirma-se que quanto maiores as sestas, mais assimilada é a informação. Ou seja, sono e aprendizagem estão diretamente relacionados!
Comparando-a com outras formas de desenvolvimento, que demoram meses a serem consolidadas, os investigadores defendem que o desenvolvimento da linguagem pode dar-se numa questão de minutos, em “fast motion” durante o sono.
Os resultados demonstram que mesmo as crianças mais pequenas podem memorizar o significado das palavras a longo prazo, de forma muito mais precoce do que aquela que poderíamos julgar: ainda que as estruturas cerebrais relevantes para este tipo de memória não estejam totalmente maduras, elas podem e devem ser utilizadas e estimuladas.
Por isso, toca a deixar os bebés dormirem!
Impacto das otites no desenvolvimento da fala
As otites nos miúdos são extremamente comuns e é uma condição que interfere no desenvolvimento da fala e da linguagem das crianças, pelo que requer uma atenção redobrada no primeiro ano de vida.
Quando ocorre uma otite, a criança tem uma perda auditiva temporária. Sabendo que é através da exposição sonora que a criança desenvolve competências auditivas, de processamento e identificação dos sons da fala, a ocorrência de otites recorrentes irá fazer com que a criança não consiga apreender o estimulo auditivo durante esses momentos, dificultando a perceção da fala e consequentemente a sua aprendizagem.
Posto isto e tendo em conta que é através da audição que também processamos os sons da fala que compõem as palavras e frases que produzimos, a entoação e as intenções comunicativas associadas (ex: repreensão ou carinho), esta perda momentânea pode interferir com a capacidade de compreensão do que ouvimos.
Deste modo, podem surgir alterações na fala como substituições e/ou omissões dos sons, mas também dificuldades no desenvolvimento da linguagem ao nível da expressão e compreensão (ex: nomeação, produção de frases, compreensão de ordens).
Pode saber mais sobre as otites e o impacto no desenvolvimento da linguagem neste artigo, escrito em co-autoria por Ana Beatriz Saraiva e Vanessa Bento.
É preciso atentar nos sinais de alerta no desenvolvimento da linguagem para cada idade (que mencionámos acima) e, mais importante ainda, recorrer a um especialista, como terapia de fala, se tiver dúvidas quanto ao desenvolvimento da linguagem do seu rebento.
Informações úteis
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