Contra os produtos normalizados: as crianças têm direito a ser crianças!
Eduardo Sá é psicólogo clínico, psicanalista, professor e escritor – e uma voz poderosa na quebra de tantas ideias pré-concebidas sobre felicidade, famílias, educação e amor. A propósito do Dia Mundial da Criança, resgatámos este seu texto, que nos reforça a importância de deixar as crianças… ser crianças!
As crianças têm o direito a ser crianças enquanto são crianças. Por isso mesmo, têm o direito a não crescer depressa. E, apesar das expectativas dos seus pais, têm o direito a descobrir e a desenvolver o seu talento – natural! – para serem crianças. Devagar.
As crianças têm o direito a ser semelhantes nas suas diferenças. E a descobri-las e a apurá-las! Para que, só depois, possam aprender que só quando somos singulares nos tornamos idênticos, parecidos ou, até, “iguais”. As crianças têm, portanto, o direito a não ser “produtos normalizados”. E a crescer com inseguranças, com medos e com dificuldades. Com uma história. E com o direito a errar, sem o qual nunca se aprende. E só assim se tornarem únicas e improváveis. E irrepetíveis. Para sempre.
As crianças têm o direito a dar mais atenção à família do que à escola e mais importância ao brincar do que ao estudar. Por isso mesmo, têm o direito ao colo. E a regras. E o direito a terem tempo para serem crianças.
As crianças têm o direito a má-criações. A ser rabujentas. E a ter “mau feitio”. E têm o direito a ser distraídas. Como, aliás, têm direito ao “bicho-carpinteiro” e ao “nervoso miudinho”. Mas têm, sobretudo, o direito à “cabeça no ar”. E a tudo aquilo que as leve a apanhar o jeito de sentir enquanto aprendem e de escutar ao mesmo tempo que se dão.
As crianças têm o direito a descobrir que conhecer é sempre um improviso. Uma circunstância feliz! Uma criação a que se chega em companhia. Que nos apanha de surpresa. E nos leva, vida adentro, a transformar os estranhos que nos dão a mão e às descobertas em pessoas da família.
As crianças têm o direito a serem crianças para sempre. Sobretudo, enquanto forem crianças. E sempre que não percam de vista que o amor será, sem tempo, a prova duma criança que, pela vida fora, sobreviveu à sua infância.
Por tudo isto, as crianças têm o direito a pessoas que olhem por si. E que, interpretando o que de mais comovente elas nos trazem, pense por elas. Com sabedoria e com bondade. E que, de cada vez que o faça, nos leve a sentir crianças. Outra vez.
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