Se pararmos para pensar com clareza, o que é a infância na sua essência? A infância é imaginação, é inventar histórias e brincadeiras, é criar, construir sem barreiras. É o universo das fadas, dos super-heróis, da magia e das princesas, verdade? Em que é que um amigo imaginário se distingue de tudo isto? Em que é que falar com um amigo imaginário é diferente das conversas que o seu filho/a constrói com a sua boneca ou com o seu homem-aranha? Tudo isto mais não é do que a infância na sua essência! O desenvolvimento a acontecer por si só de uma forma perfeitamente normativa e saudável.
Por essa razão, deixo-lhe aqui algumas ideias centrais a ter em consideração sobre estes amigos especiais dos mais pequenos:
– Um amigo imaginário não é o mesmo que alucinações: a criança conversar ou agir como se o seu amigo imaginário existisse na realidade nada tem a ver com alucinações ou estados psicóticos. A criança está tão somente a fazer o mesmo que faz quando imagina que está a conversar com o médico quando leva a sua boneca ao médico, por exemplo.
– Não deve proibir a criança de falar com o seu amigo: encare o pedido da criança para que aceite o seu amigo imaginário da mesma forma que encara os pedidos que ela lhe faz para a ajudar a cuidar da sua boneca (que ela encara como uma filha e não como uma mera boneca).
– Os amigos imaginários não duram para sempre: os amigos imaginários são amigos de crianças. À medida que a criança cresce, eles desaparecem por si só, à medida que o desenvolvimento vai evoluindo. Eles surgem numa fase específica, permanecem enquanto são importantes e saudáveis na vida da criança e quando deixam de o ser, desaparecem, sem qualquer prejuízo para a criança.
– Encare o amigo imaginário como um aliado: é importante que olhe para o amigo imaginário do seu filho como um aliado seu na promoção do desenvolvimento da criança, na medida em que este é uma via através do qual a criança pode expressar conflitos, colmatar inseguranças, expressar emoções e estimular o seu desenvolvimento afetivo e cognitivo.
Lembre-se sempre: nos primeiros anos de vida da criança, a noção da realidade tal como ela é, ainda não está presente, como é natural. E é por isso que a infância é tão especial: porque nela, tudo é possível, até o que não é real, e não há mal nenhum nisso. O amigo imaginário não é real? Não, de facto não é. Como também não o é homem-aranha, o pai-natal, a fada dos dentes e tantos outros personagens tão importantes e saudáveis no universo infantil. Mas é isso que faz da infância uma etapa tão especial e crucial de todo o desenvolvimento humano.
Este artigo escrito por Sandra Azevedo, Psicóloga Clínica, e foi-nos gentilmente cedido pelo Barrigas de Amor.
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