Insucesso escolar: as notas não definem o seu filho

Insucesso escolar: As notas escolares não são o cartão de apresentação do seu filho!

insucesso escolar

O insucesso escolar, muitas vezes definido pelas notas escolares, é uma das grandes preocupações da maioria dos pais, mas um muito bom ou um insuficiente não definem uma criança.

Sim, todos os pais sentem orgulho quando uma criança chega com um 100% a casa e, sim, é bom que as crianças sejam capazes de tirar boas notas.

Mas só gostamos que as crianças tenham boas notas quando, por detrás de um 100% na escola, está uma criança que tem tempo para si, uma criança que tem tempo para o ser, que brinca, e que estuda apenas o tempo necessário – que nunca está um fim-de-semana inteiro fechada no quarto a estudar – que tem tempo para ser escuteira, bailarina ou futebolista, que passeia em família e ri com o corpo todo.

Reduzir o insucesso escolar das crianças às suas notas

Preocupa-nos que muitas vezes as notas pareçam atropelar toda a vida da criança, como se de repente, se a criança teve quatro negativas no segundo período, já não tivesse direito a brincar nas Férias da Páscoa e tivesse de as passar intensivamente entre explicações e estudo.

Preocupa-nos que o insucesso escolar continue, muitas vezes, a ser olhado apenas como uma dificuldade cognitiva, acabando por a verdadeira essência da criança ser reduzida ao seu insucesso escolar e de repente os pais, os professores, os tios e os avós, já não perguntam por mais nada a não ser pela escola e, de repente, deixa-se o futebol, porque todo o tempo tem de ser ocupado com apoio e explicações.

Mas, mais do que tudo isto, preocupa-nos a facilidade com que uma criança é rotulada e inserida no ensino especial, sem que antes tenham sido mobilizados todos os mecanismo possíveis para exponenciar todos os recursos de uma criança.

O insucesso isolado

Assim, é importante os pais terem em conta que quando surge uma negativa lá por casa, de forma isolada, não é motivo para alarme, é uma das formas da criança compreender que tem de fazer forma diferente, que nem sempre alcança os resultados que deseja, e aí dá-se o primeiro passo para lidarmos com as frustrações do dia-a-dia.

Se, num ambiente seguro e protegido, a criança vivenciar a frustração – seja nas notas escolares, seja no desporto ou nas relações com os colegas – estamos perante uma boa forma de lhe darmos a robustez necessária para enfrentar desafios e não desistir perante um imprevisto ou situação indesejável.

Quais os fatores que influenciam o insucesso escolar do seu filho?

Mas será que, na escola, só o(s) Professor(es) da turma têm responsabilidade no sucesso do aluno?

NÃO!! O processo de Ensino/Aprendizagem não é exclusivo do(s) Professor(es) da turma. O processo de Ensino/Aprendizagem engloba toda a equipa docente e não docente de uma escola.

Infelizmente, poucos são os Professores que (re)conhecem o trabalho em equipa. A parceria e partilha entre docentes deveria ser uma prática efetiva em cada instituição de ensino, pois como afirma Richard I. Arends (Aprender a Ensinar, 2001) “(…) A aprendizagem dos alunos não se encontra exclusivamente relacionada com aquilo que faz um professor particular, mas também com tudo aquilo que, dentro de uma escola, fazem os professores em conjunto”.

Num tempo e numa sociedade em que, cada vez mais, os Pais depositam na escola toda a responsabilidade pelo sucesso escolar dos seus filhos, e os professores vivem ansiosos com a sua instabilidade profissional e recorrentes caso de indisciplina em sala de aula, é importante refletir sobre o papel de cada um dos agentes educativos envolvidos neste processo e (re)definir estratégias que promovam o desenvolvimento global do aluno de uma forma harmoniosa.

São diversos os estudos que constatam a multiplicidade de fatores implicados no sucesso educativo do aluno. Estes fatores não são de todo exteriores ao próprio aluno, contudo a grande maioria está fora do seu alcance de resolução/amenização. A escola, e toda a situação atual de desmotivação e instabilidade que vivem os professores, mas também os Pais e o ambiente familiar estão diretamente relacionado com o (in)sucesso escolar dos alunos.

Portanto, não podemos unicamente “culpabilizar” o professor pelo insucesso do aluno, mas também o docente não se pode descartar da sua cota de responsabilidade. A motivação do professor aliada à criatividade na preparação das aulas e atividades a propor aos alunos, bem como a sua competência científica são fatores determinantes que contribuem para o sucesso escolar dos discentes.

O insucesso escolar a larga escala – perceber os motivos

No entanto, quando estamos perante um conjunto grande de insucessos escolares que se acumulam e colocam em risco a transição do aluno para o ano seguinte, temos de olhar para o quadro de insucesso de uma forma holística.

Assim, é inequívoco que uma boa partes das crianças com insucesso escolar não apresenta um défice cognitivo propriamente dito, mas sim uma série de constrangimentos de índole familiar, social e emocional que se acumulam e interligam, acabando por contaminar todos os recursos saudáveis de uma criança.

Imaginem uma criança que tem um familiar doente em casa: é normal que a cabeça da criança não tenha disponibilidade para estar atenta e aprender.

Da mesma forma que se a situação económica em casa está instável e a criança não sabe se terá jantar nessa noite, mais uma vez, lá se vai a disponibilidade para aprender. Da mesma forma que se uma criança é alvo de gozo pelos colegas no intervalo, ou não tem espaço para correr e se libertar isso vai condicionar o seu sucesso escolar. Se uma criança, na sequência de uma serie de insucessos – escolares, ou não – não acredita em si e não tem auto estima, isso vai ter repercussões no seu rendimento escolar.

Causas frequentes do insucesso escolar:

É importante compreender profundamente as razões do insucesso escolar, diagnosticar as suas causas, delinear e implementar estratégias que permitam ultrapassar tais dificuldades. Causas frequentes são:

  • Ausência de métodos de estudo e/ou técnicas de estudo pouco otimizadas;
  • Dificuldades de aprendizagem ou outras perturbações do desenvolvimento;

No primeiro caso, é preciso avaliar e conhecer detalhadamente os hábitos e comportamentos envolvidos no momento de estudo, e ajudar a criança ou o jovem a desenvolver métodos e estratégias que lhe permitam tirar o melhor partido dos conteúdos escolares e, desse modo, potenciar um bom desempenho académico.

Qual a responsabilidade dos Pais no insucesso escolar?

Um estudo realizado pela Universidade de Edimburgo e liderado pelo Dr. Alexander Weiss concluiu que Homens emocionalmente estáveis vivem mais. Este estudo foi feito com 4,2 mil adultos do sexo masculino, que foram acompanhados por no mínimo 15 anos.

A estabilidade emocional tem um papel importantíssimo no desenvolvimento do Ser Humano e, como tal, este é um fator que deve ser tido em conta e não deve ser negligenciado no desenvolvimento da criança.

As crianças necessitam de estabilidade emocional para aprender e desenvolver toda as suas capacidades. Alunos defraudados da estabilidade emocional são mais propícios a dificuldades de aprendizagem, pois, entre outros fatores, a sua capacidade de concentração/atenção vê-se diminuída, bem como a sua autoestima (os alunos não se sentem capazes).

Este fator está diretamente relacionado com as famílias e em especial com os Pais. Estes têm uma enorme influência na estabilidade emocional dos seus filhos. As crianças são muito sensitivas e facilmente percebem quando há problemas/situações de stress no seio familiar.

Assim, é importante desenvolver a comunicação entre Pais e filhos, pois as crianças têm uma enorme capacidade de compreensão quando se lhes é dada uma explicação (de acordo com a sua faixa etária e maturidade, claro!). Ao mesmo tempo, ao desenvolver a comunicação, a criança terá mais facilidade para expressar os seus sentimentos, emoções e pensamentos.

Uma outra situação que influencia estabilidade emocional prende-se com a questão das expectativas.

Todos os Pais querem o melhor para os seus filhos, aliás muitos deles querem que os seus filhos sejam “os melhores”. A pressão a que sujeitam os seus filhos para atingirem este objetivo, muitas vezes, provoca nas crianças um sentimento de frustração que, quando não resolvido, se refletirá no seu comportamento e autoestima.

Mas não devem os Pais ter expectativas e querer o melhor para os seus filhos? Claro que sim! As crianças devem ser estimuladas a aprender a e usarem todas as suas capacidades. No entanto, não precisam, para isso, de ser sujeitas a situações de constante pressão e punição.

Qual a solução para o insucesso escolar?

O essencial no insucesso escolar é percebermos que ruído interno está a atrapalhar a criança de forma tão visível, e para tal todos os factores devem ser meticulosamente avaliados, e essa avaliação deve ocorrer tendo em consideração um quadro holístico da criança.

Assim, é inquestionável que o insucesso escolar é resultante de um conjunto muito abrangente de factores que vão contaminando os recursos saudáveis de uma criança e, nestas circunstâncias, mais do que coloca-las no ensino especial, mais do que encher a criança de explicações e estudo, é imprescindível olhar para a criança e para o seu contexto, separar e unir pontos, de forma a criar a condições que proporcionem o desbloquear de todos os factores que estão a atropelar a criança e o seu rendimento e assim promover o seu crescimento e bem-estar quer escolar, quer pessoal, quer familiar.

E, em circunstância alguma, o rendimento escolar de uma criança deverá ganhar prioridade face à própria criança.

Como podem, Pais e professores (Escola) “travar” o insucesso escolar?

A criança é o “epicentro de toda a ação social, pedagógica e didática” (Castanho, 2005) e, como tal, é nela e para ela que devemos concentrar toda a ação educativa.

Assim, o sucesso escolar passa obrigatoriamente pelo:

  • Desenvolvimento da capacidade de comunicação;
  • Estabilidade emocional;
  • Desenvolvimento da criatividade;
  • Reforço do espírito de iniciativa;
  • Fomento da autonomia;
  • Estimulo à participação interativa;
  • Apetrechamento dos alunos com métodos de estudo;
  • Reforço positivo;
  • Motivação.

Como combater o insucesso escolar:

– Planificação do estudo, isto é, definição de objetivos diários através dos quais a criança vai realizar tarefas específicas para cada dia, de acordo com um plano previamente estruturado;

– Organização do horário e do espaço, através da qual se pretende que haja uma otimização do horário dedicado ao estudo e às atividades extracurriculares, assim como do espaço físico em que ambos são realizados;

– Instrumentos de recolha de informação, através dos quais se desenvolvem estratégias de recolha de informação contida num determinado texto, tanto no decorrer das aulas como no decorrer de uma exposição audio-visual;

– Técnicas de memorização de informação, através das quais se desenvolvem e implementam estratégias que otimizam as aptidões mnésicas;

– Instrumentos de exposição de informação, através dos quais se desenvolvem estratégias para a elaboração de respostas e para a redação de textos;

– Adaptação de estratégias, isto é, ter em consideração as características e requisitos específicos de cada disciplina e/ou tarefa escolar, assim como o perfil cognitivo da criança;

– Técnicas comportamentais de persistência e de resistência à frustração, através das quais se pretende que a criança desenvolva a capacidade de manter a atenção e dar a continuidade que é necessária para uma planificação de estudo de longa duração.

No segundo caso, podemos estar perante uma dificuldade de aprendizagem ao nível da leitura e da escrita – Dislexia ou Disortografia – e/ou ao nível do raciocínio lógico-matemático – Discalculia – sendo fundamental que pais e educadores estejam atentos a determinados sinais de alerta.

Outra causa significativa de insucesso escolar é a Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA). Também aqui é importante estar atento a determinados sintomas na criança, quer no que toca à sua habilidade escolar, quer no que diz respeito ao seu comportamento e postura na sala de aula..

Outras estratégias importantes para lidar com o insucesso escolar

Uma comunicação estreita e regular entre pais, professores e técnicos especializados é determinante para identificar todos estes sinais e despistar eventuais dificuldades de aprendizagem ou outras perturbações de desenvolvimento em idade precoce.

Este artigo foi escrito com a contribuição de  Centro SEI e Pegadas – Centro Desenvolvimento Educativo.

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