Para as crianças que façam 6 anos de 16 de Setembro a 31 de Dezembro a inscrição no 1ºciclo é opcional. A decisão depende dos encarregados de educação embora a sua entrada esteja condicionada ao número de vagas disponíveis. Mas afinal os pais devem ou não antecipar a matrícula do 1º ciclo? O que é melhor para a criança? O nosso parceiro Deslocar Palavras ajuda-o a esclarecer todas as dúvidas.
A entrada para o 1º ano é um momento marcante na vida de qualquer criança e na dos seus pais. O tempo passa muito depressa e os momentos marcantes acabam por assinalar fases importantes em que damos conta dessa passagem e sentimo-la realmente. Dizemos-lhes que “já vão para a escola dos crescidos”, que “está a ficar grande”, que “agora vai começar a trabalhar a sério” ou que “já não é só brincar”. Não paramos para pensar no que lhes estamos a transmitir quando lhes dizemos estas coisas. Deveríamos?
Em Portugal, todas as crianças devem ser inscritas obrigatoriamente no 1º ano no ano em que fazem 6 anos até ao dia 15 de Setembro. Porque a educação pré-escolar é facultativa e a avaliação tem um caráter marcadamente formativo, não está prevista a progressão nem a retenção. No entanto, de acordo com o Decreto-Lei n.º 3/2008, de 7 de janeiro, no ponto 2 do art.º. 19º, as crianças com necessidades educativas especiais de caráter permanente podem, em situações excecionais devidamente fundamentadas, beneficiar do adiamento da matrícula no 1º ano de escolaridade obrigatória, por um ano, não renovável.
As crianças que fazem anos de 16 de Setembro a 31 de Dezembro podem ser inscritas no ano em que fazem 6 anos mas estão sujeitas às vagas da escola, podendo não ingressar (as chamadas matrículas condicionais).
Para as famílias, esta é uma decisão de primordial importância porque muitas vezes a pressão social faz com que se espere que a criança vá para a escola logo que possa e o facto de “ficar retido” um ano, ainda que no pré-escolar, pode fazer com que esta (família e criança) seja olhada com desconfiança pelas pessoas que a rodeiam, com perguntas sobre a decisão e comentários desadequados.
Nesta nossa sociedade de rankings, metas curriculares e notas quantitativas há pouco espaço para a aprendizagem activa, para o prazer de aprender, para a individualidade no ritmo e conteúdos programáticos. A pressão para que as crianças tenham boas notas começa na sociedade, continua através dos familiares, amigos, pais e acaba na criança que tem de corresponder, aprendendo tudo o que é esperado a um ritmo que não é ela que impõe.
Antes dos 6 anos as crianças não estão SÓ a brincar. Elas estão a brincar! E devem fazê-lo. Muito! Quanto mais brincarem (com carros, legos, bonecas, máscaras, construções, malabarismos, plasticinas, canções e lenga-lengas) mais estão a aprender, a estruturar o cérebro, a adquirir competências que vão permitir-lhe, aquando da entrada no 1.º ano, conseguir corresponder e estar à altura de todos os desafios e ter sucesso na escola.
Durante todo o pré-escolar a criança deve adquirir uma série de competências, que são fundamentais, para que as novas aprendizagens no 1º ano sejam um sucesso.
Uma das maiores dificuldades da criança no primeiro ano é permanecer sentada durante longos períodos. Durante o pré-escolar, os momentos de trabalho de mesa são mais reduzidos e a criança tem maior liberdade de escolher o que quer fazer. No primeiro ano, a criança necessita de ter a sua atenção focalizada nas tarefas por um tempo mais longo.
Paralelamente à atenção, temos a memória auditiva. A criança irá ser “bombardeada” com muita informação nova e por isso necessita que a sua atenção e memória auditiva estejam aptas para a ajudar nesta nova missão.
Para que a aprendizagem da Leitura e Escrita seja um sucesso é importante que durante o período do pré-escolar a criança tenha eliminado qualquer dificuldade ao nível da Linguagem, pois esta irá influenciar fortemente na aquisição destas novas aprendizagens. Para além disso, a criança necessita de ter adquirido a Consciência Fonológica, ou seja, necessita de ter conhecimentos ao nível da rima, aliteração e da divisão das palavras em sílabas.
Lacunas nesta área podem resultar em dificuldades na associação do grafema (desenho da letra) ao fonema (som da letra) e vice-versa, originando dificuldades ao nível da leitura e da escrita.
A Cognição Não Verbal é outra área importante nas aprendizagens escolares. O que é suposto a criança dominar nesta área? Competências relacionadas com a percepção, orientação visuo-espacial e coordenação motora. Estas competências são muito importantes tanto na aquisição da leitura e escrita, nomeadamente na discriminação gráfica das letras e escrita, como nos conceitos matemáticos (números, abstração, cálculo mental).
A criança que entrar no 1º ano com o abecedário e os números até 10 “na ponta da língua”, tanto ao nível da escrita como da identificação, possui já conhecimentos que são muito facilitadores das suas novas aprendizagens.
Para além destas competências, é necessário que a criança demonstre Maturidade emocional para conseguir corresponder àquilo que lhe vai ser exigido em contexto escolar.
Estar motivado e ter uma Atitude positiva face à escola com curiosidade, motivação e desejo de aprender coisas novas é meio caminho andado para que toda esta fase corra muito bem.
É necessário que saiba Respeitar as regras e o grupo, sendo capaz de aceitar e seguir regras de convivência e de vida social, colaborando na organização do grupo; saber escutar e esperar pela sua vez de falar; compreender e seguir orientações e ordens, tomando também as suas próprias iniciativas sem perturbar o grupo.
Outra competência importante tem a ver com o Saber lidar com a frustração. No 1º ano as crianças vão deparar-se muitas vezes com o insucesso, com o demorar mais do que outros a conseguir compreender ou fazer determinada tarefa. É importante que não tenham medo de falhar, que compreendam que estão lá para aprender e que sejam capazes de terminar as tarefas propostas, reagindo à frustração sentida de forma construtiva e assertiva.
As crianças são todas diferentes. Com experiências diferentes, rotinas diferentes, ritmos diferentes e famílias diferentes. Independentemente do dia em que nasceram ser antes ou depois do dia 15 de Setembro, podem ou não estar preparadas para ingressar no 1º ano, com todas as exigências que isso implica.
Ingressar num 1º ano sem ter as competências base para conseguir aprender o que lhe vai ser ensinado e exigido é como pedir a um adulto que vá assistir a aulas de chinês sem falar uma palavra da língua. O sentimento diário de incapacidade, de impotência e de inferioridade vão ter um impacto muito grande na diminuição da auto-estima da criança e, sem conseguir acompanhar a matéria, ela vai distrair-se facilmente e perturbar a aula a todos.
Provavelmente vai frustrar-se por não conseguir acompanhar, desiludir-se com o desempenho dos adultos (que não a estão a conseguir ajudar) e ter reacções emocionais desadequadas. O pior é que, neste ponto, não há volta atrás. Poderá haver ajuda da Terapia da Fala, da Psicologia e/ou aulas de apoio mas as exigências escolares vão sempre existir e aumentar.
Claro que ficar retido no Pré-escolar também pode ter consequências emocionais para a criança, embora pareçam menores e mais ultrapassáveis. A criança vai ter de confrontar-se com o facto dos seus amigos irem todos para “a escola dos crescidos” e ela não (Não sou crescido como eles? Sou bebé?) e vai ter de ingressar num grupo onde poderá não conhecer ninguém.
Durante algum tempo poderão ter de justificar o não ingresso da criança no 1.º ano a amigos, familiares e conhecidos mas essa fase irá passar. Ele irá fazer novos amigos, as pessoas vão perceber as razões da decisão e a vida seguirá para a frente. Nesse ano ele poderá desenvolver as competências necessárias e estará em muito melhor situação para fazer face às exigências de um 1.º ano.
Esta nova fase é uma novidade. Muitas vezes a criança muda de espaço físico, as alterações nas rotinas são enormes, a exigência é cada vez maior. Assim, se a criança apresentar as pré competências académicas adquiridas conseguirá adquirir as novas aprendizagens com maior facilidade, a motivação será maior e todos os outros factores terão um peso menor na sua aprendizagem.
Os pais podem pedir uma avaliação destas competências. Normalmente, deve ser realizada entre Janeiro e Abril do ano de entrada para o 1º ano para que, no caso de existirem dificuldades, se possa intervir rapidamente e a criança entrar apta nesta sua nova e importante fase.
Dra. Ana Catarino (Psicóloga Educacional)
Dra. Kátia Santos (Psicóloga Clínica)
Olá tenho uma questão minha filha anda na pré este é o 2 ano ela faz aniversário em dezembro estou na duvida se devo inscreve-lá para entrar no 1 ciclo eu acho que ela não esta preparada.
Olá, Carla.
A melhor forma de perceber se de facto a criança está ou não pronta para o 1º ciclo é através da sua educadora atual ou mesmo de um centro especializado, como é o caso do Deslocar Palavras, que faz avaliações de competências (estas devem ser pedidas entre Janeiro e Abril antes da suposta entrada para o primeiro ano).
Em muitos casos revela-se melhor para a criança esperar um ano, mas por vezes eles surpreendem-nos! A opinião de quem acompanha e avalia o processo de aprendizagem faz toda a diferença 🙂
Esperamos ter ajudado. Beijinhos abobrinhas!