O meu filho e a comida 2... Os pais à beira de um ataque de nervos - Pumpkin.pt

O meu filho e a comida 2… Os pais à beira de um ataque de nervos

O meu filho comida 2.

Para algumas famílias as refeições são momentos de stress, quando as crianças se recusam a comer e os pais se sentem à beira de um ataque de nervos por sentirem que os filhos não se estarão a alimentar bem. A psicóloga clínica e psicoterapeuta Catarina Rodrigues fala-nos de uma família que acompanhou e que a ajudou a aprender algumas lições que também nos podem ser úteis.

Acompanhando uma família, preocupada com as rotinas das refeções, Catarina relatou: a mãe, preocupada, dizia-me que o filho não queria comer carne, preferia a fruta e o tomate, por vezes, também queria a massa.

A sua preocupação era que ele não comesse o suficiente e tivesse com fome mais tarde, alterando as rotinas diárias. Compreendo a sua preocupação, mas penso que a insistência e a pressão dos pais não ajuda. Em meu entender, pelo contrário, vão dificultar.

A criança sente-se mal e culpada por não querer comer e sabe que está a desagradar os pais. Quando a criança aprendeu que, na relação com os seus pais, tem espaço para a expressão da sua opinião, o mais normal é que, quando a tentam levar a comer o que não quer, vire a cara e resmungue ou mesmo ameace um choro de protesto.

Comportamentos que os pais podem entender como oposição e desobediência, mas que, na realidade, anunciam a sua capacidade de expressão da sua Vontade e Autonomia.

O cansaço, a falta de tempo e, consequentemente, a falta de paciência diminuem a capacidade dos pais em utilizar dois recursos preciosos: a sua criatividade e empatia.

Quando nos colocamos no lugar da criança, percebemos que a hora da refeição não é igual para ela e para um adulto. Para ela, pode ser um momento de pura diversão e de aprendizagem e exploração.

A comida apresenta-se em cores fantásticas, formas incríveis e sabores extraordinários, uns que gostamos mais, outros que cedo rejeitamos. Não nos sabem bem.

Quando a mãe daquele menino me foi explicando que ele comia bem no infantário, que ele gostava mais de determinados tipos de comida, que estava numa fase de grande exploração e de afirmação da sua vontade, percebi que, provavelmente, se o deixássemos fazer as coisas à maneira dele e lhe fossemos apresentando a comida com atenção à sua receptividade (e não insistindo), o seu comportamento em relação à comida mudaria.

E assim foi. O menino primeiro comeu o tomate. Todo e até pediu mais. O outro prato, embora fosse massa com carne, ficava de lado, ignorado e rejeitado por ele. A mãe perguntou-lhe o que é que ele queria: se queria a massa ou se queria fruta. O menino apontou e agitou-se quando a mãe falou na fruta. A mãe preparou a fruta e deu-lhe. Mas, na mesa deixou também a massa e a carne. E deixámo-lo escolher e fazer as misturas que quisesse. Não se sentindo pressionado pelos pais para comer, o menino sentiu-se mais livre para explorar a comida à sua maneira. De repente, víamos no prato da massa pedacitos de tomate e de fruta!

O menino ia pegando nos pedacitos de alimento e inspeccionando-os com todo o cuidado, enquanto comia outros pedacitos, o que nos mostrava que aquele momento, para ele, não se limitava a um momento de alimentação. Tratava-se também de aprender… tocando e saboreando.

Aquilo que reflecti com esta família é que o respeito pela vontade do outro resulta em maior harmonia e crescimento da família.

Neste sentido, ser sensível ao que o bebé nos comunica da sua vontade é fundamental para um sentimento de se ser compreendido… e isso gera, reciprocamente, respeito pelos pais e compreensão face à sua preocupação em que ele coma para que se sinta bem e cresça saudável.

Explicar isso mesmo pode ser importante. Não se preocupe se o fizer através de palavras. Os bebés e as crianças pequenas percebem – de forma implícita, através do sentimento – a nossa intenção e preocupação com o seu bem-estar.

A linguagem é um meio conhecido pela criança desde muito cedo na sua vida. Dentro da barriga da mãe ouvia os sons da sua voz e de outros que a rodeavam. As palavras – mesmo que indecifráveis – transmitem-nos emoções, sentimentos e intenções.

 

Catarina Rodrigues

Psicóloga clínica e psicoterapeuta

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