Deixar crianças pequenas ver TV tornou-se um assunto controverso, mas qual é realmente o problema de meia hora de desenhos animados depois de um dia de escola?
A Susana do blog A Espuma dos Dias expressa a sua opinião, que sabe ser muitas vezes contra a corrente, em relação ao uso da tecnologia por parte das abobrinhas.
Suspeito que este vai ser mais um daqueles posts em que eu escrevo alguma coisa que vai contra aquilo que “toda a gente” diz e depois de publicar surgem vozes, anteriormente tímidas, que assumem concordar comigo. Porque eu sou óptima a assumir em público que faço as coisas à minha maneira e não como dizem os “especialistas”.
O ninho de vespas que vamos cutucar hoje é crianças a ver televisão (e vou usar o termo televisão para abranger também, Netflix, DVDs, vídeos no YouTube, etc).
Para horror de quem me ouvia falar, eu dizia abertamente que estava ansiosa pelo momento em que o Simão descobrisse a TV e os desenhos animados, porque eu precisava urgentemente que ele ficasse quieto no sofá algum tempo.
A internet avisa-nos dos muitos perigos para o desenvolvimento infantil relacionados com o ver televisão, e certamente que há problemas nos excessos, como em tudo na vida. Mas recentemente li o comentário de uma mãe escandalizada porque numa festa de anos com miúdos entre os 4 e os 7 anos, passaram um filme da Disney e a filha dela (5 anos) não via TV porque fazia mal ao desenvolvimento. Não deu para perceber se ela estava na festa e não autorizou a filha a ver ou se quando soube, o filme já tinha passado, mas tenho a certeza absoluta que a criança vai sobreviver à tragédia de ver os Três Porquinhos em Technicolor.
Eu sei, eu sei, ninguém quer uma criança zombie em frente à TV. Ou quer? Depende.
Eu quero ter uma opção de entretenimento que não envolva a) eu b) desarrumar coisas por todo o lado c) pintar as paredes d) pular em cima da mobília e) estar debaixo dos meus pés enquanto estou a cozinhar.
Eu brinco com o Simão. Eu deixo-o espalhar os Legos por todo o lado. Eu construo pistas de comboios que ocupam o chão todo da sala. Eu levo-o ao parque, à praia e à natação. Eu até incentivo pinturas, plasticinas, carimbos e muitas outras coisas de que depois me arrependo quando vejo a porcaria que tenho de limpar.
No entanto, nem sempre me apetece. Ou apetece-me mas tenho de ir fazer o jantar, um telefonema que não pode ser interrompido por guinchos de T-Rex, ou, cúmulo do egoísmo de uma mãe, tomar um duche e lavar o cabelo. Muitas vezes eu ou o meu marido estamos sozinhos com o Simão e é preciso entretê-lo com TV para irmos fazer outras coisas necessárias à existência de uma família.
Entra a TV.
Sinceramente não vejo problema nenhum. A minha geração cresceu a passar tardes inteiras a ver Dragon Ball, Sailor Moon e outros conteúdos um bocado parvos em comparação à programação de qualidade que agora está disponível. E com Netflix/Box com gravador, até dá para evitar os anúncios a brinquedos por altura do Natal. O Simão é obcecado pela Patrulha Pata, e tem aprendido a articular muito melhor ao ver a conversação entre personagens, inventa grandes histórias de calamidades e depois chama a Patrulha Pata, e tem um tema que lhe dá prazer a conversar.
Mais recentemente começou a ficar vidrado no Rusty Rivets e já não larga a caixa de ferramentas dele a “inventar” e “arranjar” coisas. Quantos miúdos sabem dizer e para que serve uma chave de fendas antes dos 3 anos?
E o grande prémio: já conseguimos ensiná-lo a não nos acordar de manhã aos fins-de-semana. Ele levanta-se, vai ao bacio, liga a TV (que deixamos previamente no Panda) e fica entretido à espera que o pai e a mãe acordem. Depois de quase 3 anos a acordar com as galinhas, sinto que merecemos os 4 um troféu: a mãe, o pai, o filho e a televisão.
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