As brincadeiras das crianças são, na maior parte das vezes formas de nos dizerem o que realmente sentem, expressando aquilo que têm dificuldade em colocar por palavras.
Ao brincarem imitam as rotinas de vida, transformam-se em super heróis mágicos e omnipotentes, para vencerem os medos e aflições que por vezes são representados por papões, inimigos e monstros debaixo da cama.
A fantasia que lhes permite voar, e irem para onde quiserem entre jogos de “faz de conta”, resolvendo problemas com golpes de magia, tornando-se maiores do que aquilo que realmente são.
É a brincar que a criança percebe que quando se perde no jogo o mundo não se acaba, permitindo através de ensaios, o exercício do errar e voltar a tentar de novo, propondo um mundo do tamanho da sua compreensão.
Entender o significado que a criança dá à brincadeira é um caminho necessário para a conhecer, e todo o seu processo de desenvolvimento.
O brinquedo é a forma da criança se relacionar, de encontrar o mundo físico e social que a rodeia, sendo um sinal de bem-estar e saúde. Facilita o crescimento conduzindo aos relacionamentos grupais, podendo até ser uma forma de comunicação em psicoterapia.
As crianças brincam para procurarem prazer, para expressarem agressão, controlarem a sua ansiedade, estabelecerem contactos sociais, serem sensíveis aos sentimentos dos outros, para adquirirem vocabulário, para comunicarem aquilo que pensam e sentem, para aprenderem a interiorizar regras, a partilhar, etc.
A partir do brincar elas representam papéis e ampliam o ajustamento afectivo e emocional que atingem nessa representação.
Nós adultos poderemos contribuir para o reconhecimento do grande lugar que cabe à brincadeira sem obstruir nem adulterar a própria iniciativa da criança deixando-nos guiar pela imaginação delas, permitindo cadeiras que voam, árvores vermelhas, animais que falam, etc.
É importante evitar estruturar ou organizar as actividades com ordens e instruções, permitindo o livre expressar da criatividade e o verdadeiro “faz-de-conta”.
E em vez de lhes dizer “O que estás a fazer ?”, “Que forma tem ?”, “Mas as árvores não são vermelhas, são verdes e castanhas”, fazermos apenas o relato da brincadeira como se fossemos comentadores desportivos ”Estás a pôr o carro na garagem, e vais pôr gasolina”.
E se pretender ao mesmo tempo estimular algumas competências da criança, deixamos-lhe aqui algumas sugestões:
Competências Cognitivas:
Para promover competências escolares, estimular a concentração e cumprir instruções. Descreva os atributos dos objectos como as cores, as formas, o número, o tamanho, etc., enquanto brincam.
Ex: “Agora o lego quadrado está encaixado no lego rectangular”, “Agora o camião vermelho vai entrar na garagem verde”.
Competências Emocionais:
Enquanto a criança brinca, identifique e nomeie sentimentos, realce e comente o momento em que estão contentes, calmos, confiantes, zangados, etc.
Assim permitirá a expressão emocional da criança.Ex: “Parece-me que estás muito contente a brincar com….”, “Tu estás a perdoar ao teu irmão porque sabes que foi sem querer”.
Resolução de Problemas:
Encoraje a criança a resolver as suas dificuldades, ou quando ela vem da escola e conta alguma dificuldade de um colega, pergunte-lhe se fosse com ela como resolveria.
E não caia na tentação de lhe encaixar aquela peça do lego ou do puzzle em que ela tem dificuldade, sugira antes que o façam os dois.
Ex: “Isso é frustrante, mas tu manténs-te calmo e vais tentar de novo”.
Promoção de Comportamentos:
Dê atenção e elogie quando a criança brinca sossegada, e quando quer que ela repita um determinado comportamento mais vezes.
Ex: “Fico contente por estares a brincar tão sossegada”.
Se a criança durante a brincadeira tiver um comportamento inadequado tente ignorar e afaste-se, quando ela se voltar a portar bem então regresse.
Ex: Pode dizer: “Se atiras com os blocos, acabamos já de brincar”.
Terminar a brincadeira
Para que o terminar da brincadeira não se torne uma birra medonha, avise a criança com algum tempo de antecedência para que ela se possa preparar e terminar o que está a fazer. E sobretudo não ceda a protestos.
Ex: Algum tempo antes diga “Daqui a —–minutos tenho de deixar de brincar contigo, gostei muito.”
Brincar de uma forma flexível reduz a pressão nas suas interacções com os seus filhos e ajuda cada criança a tornar- se uma pessoa única, criativa e auto-confiante.
Por isso brinquem, mas brinquem muito.
Fátima Ferro
Psicóloga Educacional / Psicóloga Clínica Formação Profissional em Educação Parental
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