Entre os primeiros instantes do nascimento, o choro do recém nascido apazigua os pais como sinal de vitalidade e saúde. O sorriso parental funde-se com o choro do filho. Os pais babados recebem as visitas com a habitual descrição (já parecendo um Cd riscado) do parto e partilham semelhanças familiares dos traços fisionómicos do bebé.
Com a chegada a casa a nova família inicia o tempo de conhecimento mutuo. Começa a aventura das descobertas: qual o ritmo de sono, alimentar, intestinal… enfim tudo gira à volta de um mapa sem GPS. Os “pais descobridores” deparam-se com novos horários, rotinas baralhadas e sem esperarem com o Adamastor do choro. Entre as paredes de um apartamento o bebé chora até atingir notas de deitar os vizinhos por terra! É fome, fralda suja, tem calor/frio, são as famosas cólicas e os pais seguem a chek list de tarefas para resolver a situação. As chupetas entram em acção, de todas as cores e formas.
Na realidade fomos formatados pela nossa sociedade e cultura para classificarmos o choro como algo negativo, significado de dor ou simplesmente de mal comportamento social. É vulgar os pais serem julgados por olhos quando o seu filho chora no supermercado, restaurante e logo alguém se aproxima para debitar alguma receita para calar o bebé. Muitos pais sentem-se pressionados para desaparecer do espaço público com aquele bebé chorão.
Os bebés quando nascem já são seres sociais. Trazem um kit de comunicação – o choro. Tal como nós é na companhia de alguém que manifestam necessidades emocionais tão simples como: “estou sozinho”, “estou cansado”, “pega-me, fala comigo”, “não consigo sozinho”. Os nossos amigos quando precisam desabafar telefonam, marcam um cafézinho, mandam emails e põem a conversa em dia contando as alegrias e desafios da vida. Afinal com quem melhor um bebé pode falar do que com os seus elos afectivos mais próximos?
Tal como o sorriso (outro kit de comunicação) os bebés utilizam o choro para sinalizarem a sua presença e apelarem para a aproximação de quem os ama. Nós fotografa-mos os sorrisos e tapamos o choro com uma rolha. Estamos cansados de barulho. Não nos sentimos bem com o choro (porque será?). No entanto temos a experiência dos adultos que já choraram e sentiram o alivio das suas lagrimas libertando alegrias ou stress. Gostamos nesses momentos de ter alguém ao nosso lado para nos ouvir, apoiar, simplesmente estar disponível para nos dizer amo-te.
Voltemos a permitir-nos chorar. Voltemos a permitir que os bebés utilizem o seu Kit – o choro tão simplesmente como um sorriso, um palreio, um apelo à comunicação sem limites de rede.
Um artigo de: Maria João Alvito
Site: www.olamama.com
Fotografia: Marjan Hols Reis